A REPRESSÃO DO NEGRO EM MEMÓRIAS PÓSTUMAS DE BRÁS CUBÁS, DE MACHADO DE ASSISFulano de Tal1 Resumo: O propósito deste trabalho é refletir a respeito da violência infligida aos negros em Memórias póstumas de Brás Cubas (1881), de Machado de Assis. O artigo está dividido em duas seções principais: inicialmente, é proposto um estudo acerca da estrutura da sociedade brasileira no século XIX, atentando, particularmente, para a situação dos negros; a seguir, é dada ênfase a elementos estruturais e temáticos no romance. Parte-se do princípio de que tema e forma estão associados ao momento histórico no Brasil e permitem estabelecer uma reflexão no que tange à exclusão racial. Palavras-chave: Repressão, preconceito, negros, crítica social. Abstract: This paper undertakes an approach to the violence conveyed in Machado de Assis’ Memórias póstumas de Brás Cubas (1881). Of interest is the analysis of the way repression is organized against black people. The study is divided into two main parts: 1) the examination of the structure of the Brazilian society in the XIXth century, with reference to the situation of blacks; 2) a treatment of thematic and structural elements found in the novel. A guiding proposition is that theme and form of the book are associated with the historical moment in Brazil. Keywords: Repression, prejudice, blacks, social criticism. 1. Introdução O discurso moderno – em particular com o Iluminismo, no século XVIII – trouxe consigo uma série de prerrogativas que incidiram em propostas de mudanças no pensamento social. A racionalidade buscou exorcizar os mitos, paradoxalmente, criando outros mitos. Conforme mostra Walter Benjamin (1989, p. 124), Baudelaire apontou na capital do século XIX, Paris, os excluídos, os que não eram absorvidos pela modernização. Assim, a totalidade modernizadora mascarava na realidade os excluídos, ou melhor, justificava cientificamente sua eliminação.
______________________1 Mestrando em Estudos Literários na UFSM. Bolsista CAPES. E-mail: fulano.tal@mail.ufsm.br |
Nessa linha de raciocínio, segundo a perspectiva adorniana, “os antagonismos não resolvidos da realidade retornam às obras de arte como os problemas imanentes de sua forma” (Adorno, 1988, p. 16).
Não só isso: observam-se tais acontecimentos porque, muitas vezes, as mulheres aceitam o comportamento dos homens, já que têm internalizadas aquelas estruturas autoritárias legadas pelo patriarcalismo. Conforme Andréa Nye (1995, p. 119-120):
[o] patriarcado é a constante universal em todos os sistemas políticos e econômicos; que o sexismo data dos inícios da história; que a sociedade é um repertório de manobras nas quais os sujeitos masculinos firmam o poder sobre objetos femininos. Violações, pornografia, prostituição, casamento, heterossexualidade – tudo isso são imposições do poder masculino sobre as mulheres. A aquiescência das mulheres é uma indisposição de má fé de enfrentar sua própria falta de poder. |