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Elcio Loureiro Cornelsen
Os
doze anos de duração do Terceiro
Reich produziram no mundo literário de língua alemã feridas
que não foram cicatrizadas, geradas pelas mais diversas formas de
ressentimento. O debate deflagrado em 1945 entre Thomas Mann, expoente
da »Literatura de Exílio« , e representantes da »Emigração
Interior«, como Frank Tieß e Walter von Molo, tornou patente o abismo
entre aqueles autores que deixaram a Alemanha em 1933 não apenas
por serem contrários ao regime de Hitler, como também pelo risco
que corriam, caso permanecessem no país, e aqueles que, apesar de
não pactuarem com o nazismo, optaram por permanecer na Alemanha
sob o risco de perderem sua própria identidade.
Enquanto Thomas Mann criticou o fato de que o regime nazista não
fora vencido internamente, Tieß
e Molo se colocaram na posição de »vítimas« de um Estado totalitário
que, segundo palavras de Molo endereçadas a Mann, »aos poucos se
tornou um grande campo de concentração, no qual existiam cada vez
mais vigilantes e vigiados de diversos graus.« Dando seqüência ao acirrado debate,
Thomas Mann publicou uma »Carta Aberta à Alemanha«, na qual deixou
claro não só sua aversão à literatura produzida a serviço do Terceiro
Reich, mas também a toda obra publicada na Alemanha entre 1933
e 1945, inclusive às contribuições dos escritores da »Emigração
Interior«:
[...] Podem
achar que é superstição, mas, no meu modo de ver, os livros que,
em geral, puderam ser impressos na Alemanha de 1933 a 1945 são algo
sem valor e não são dignos de ser manuseados. Um odor de sangue
e vergonha os impregna. Eles deveriam ser todos triturados... (T. do A.)
Não obstante a crítica de Mann, que sugere uma espécie de »queima
de livros« (Bücherverbrennung)
às avessas, cremos que uma análise
atenta das condições de produção literária e de estratégias de criação
adotadas pelos representantes da »Emigração Interior« nos possibilita
uma avaliação mais precisa da relação entre produção literária e
totalitarismo durante o período nazista.
A »Emigração Interior« e a política cultural
nazista
A expressão
Innere Emigration (»Emigração Interior«) foi criada por Frank
Thieß em 1933 como definição para o comportamento de escritores
que permaneceram na Alemanha durante o período nazista e que optaram,
por assim dizer, por uma emigração »intelectual«, como Werner Bergengruen,
Reinhold Schneider, Jochen Klepper, Ernst Wiechert, Ricarda Huch,
Elisabeth Langgässer,
entre outros. Isto só foi possível por
se tratar de autores que no passado não haviam criticado o nacional-socialismo,
e cujas obras não haviam sido destruídas pelo »auto-de-fé« em maio
de 1933. O conceito em si implica um retraimento ante o mundo
político-cultural, marcado pela falta de liberdade e pelas mais
diversas formas de intimidação e terror. O refúgio na criação poética
dava ao escritor a certeza de poder preservar os elementos de sua
própria identidade e de sua postura ético-moral diante do nazismo.
O perfil dos emigrantes interiores como grupo social difuso pode
ser definido por uma característica fundamental: o conservadorismo.
Enquanto intelectuais de esquerda optaram ou por deixar a Alemanha
ou por desenvolverem atividades culturais clandestinas (distribuição
de obras proibidas, confecção e distribuição de panfletos, etc.),
os emigrantes interiores, em sua maioria, evitavam o confronto direto
com o regime. Por isso, tiveram de adequar o seu modo de escrever
à realidade totalitária imposta pelo Estado
no âmbito cultural, caso quisessem ter o direito de escrever e publicar
suas obras, sem necessariamente terem de incentivar o regime nazista.
Os mecanismos de repressão e de censura no cenário cultural foram
estabelecidos, sobretudo, no período de fevereiro a novembro de
1933. Além das medidas políticas gerais tomadas pelos nazistas,
como a suspensão dos direitos democráticos fundamentais, o estabelecimento
de um Estado de partido único e a perseguição física aos opositores
políticos, o cenário cultural alemão foi atingido também pelas seguintes
medidas específicas: a tomada do poder na »Academia Prussiana das
Artes« (Preußische Akademie
der Künste); a queima de livros em 10 de maio de 1933; a elaboração
de »listas negras« para livrarias e bibliotecas; os »Decretos de
Emergência« (Notverordnungen)
que tornavam a imprensa um instrumento do Estado e culminaram com
a proibição de alguns jornais. Com a criação da »Câmara de Cultura
do Reich« (Reichskulturkammer)
em novembro de 1933, todos os grupos e indivíduos ativos no cenário
cultural alemão foram fichados. Sem a filiação à Câmara estava vetado
o exercício de qualquer atividade cultural. Com o auxílio de outras
organizações do Estado, a »Câmara de Cultura do Reich«
garantiu ao seu principal responsável, o ministro da propaganda
Joseph Goebbels, um controle total da vida cultural alemã. Construiu-se
um amplo aparelho de controle que abrangia tanto a distribuição
como a produção artística e literária. Entretanto, a multiplicidade
de instâncias de censura e de vigilância, que muitas vezes interferiam
umas nas outras, levou a resultados contraditórios na avaliação
de determinada obra. Um exemplo típico é o romance Das einfache Leben (»A vida simples«),
de Ernst Wiechert. Apesar de ter sido reprovado em um parecer da
Comissão Oficial de Revisão do Partido, o romance atingiu entre
1939 e 1942 uma tiragem de mais de duzentos e cinqüenta mil exemplares.
Porém, tais contradições nem sempre aconteciam. Quem queria publicar
uma obra no Terceiro Reich, mesmo se opondo ao regime, teve de adequar à realidade
da política de censura a sua maneira de escrever, os meios de expressão
empregados e as formas como as críticas deveriam ser veiculadas.
Portanto, os emigrantes interiores, como todo autor que pretende
escrever e publicar uma obra crítica ao regime político em um Estado
autoritário ou totalitário, precisaram desenvolver uma estratégia
fundamental que os permitia, de um lado, burlar a censura e, de
outro, fazer chegar ao leitor sua intenção crítica: o disfarce . O disfarce da intenção crítica por meio da linguagem literária
exige um poder de decodificação por parte do leitor. Mas tal decodificação
só se torna possível se o texto, em sua origem, contiver elementos
que conduzam o leitor necessariamente à decodificação. Isso parece
contraditório, pois, se o texto marca aquilo o que deve ser decodificado,
como é que as marcas não são percebidas pelo censor? No caso específico
da »Emigração Interior«, seus representantes se valeram da »camuflagem
histórica« (historische Camouflage)
, ou seja, a camuflagem das verdadeiras intenções literárias
por meio de um determinado tema histórico que deveria suscitar paralelos
com o cotidiano do Terceiro
Reich, possibilitando a crítica do presente através de uma postura
crítica em relação ao passado. Não é de se admirar que tenham surgido
tantos romances históricos após 1933. Os romances históricos de
autores da »Emigração Interior« puderam passar sem problemas pela
censura, na medida em que, ao mesmo tempo, um grande número de romances
históricos nacional-socialistas também era publicado. Entretanto,
a diferença entre os romances históricos de escritores simpatizantes
com o regime e os romances históricos da »Emigração Interior« é
evidente: enquanto os primeiros retratavam o passado histórico como
um processo inevitável e necessário que antecede o presente do nacional-socialismo,
os últimos colocavam a crítica social no centro da intenção narrativa.
Os exemplos mais significativos de camuflagem histórica na literatura
da »Emigração Interior« são as obras Der
Großtyrann und das Gericht (1935), de Werner Bergengruen, e
Las Casas vor Karl V. (1938), de Reinhold
Schneider. As obras concebidas segundo o princípio da camuflagem
histórica tinham de contar, de um lado, com a capacidade do leitor
de captar a mensagem transmitida nas entrelinhas e, de outro, necessitavam
do sentido duplo ou mesmo plural para poderem burlar as instâncias
de controle do Estado e, com isso, serem publicadas. Para tanto,
os órgãos de censura precisavam ser ludibriados de modo a tomar
o fato historicamente representado como o próprio objeto em questão.
Ao mesmo tempo, contava-se com uma outra »leitura« – por parte do
leitor – por meio de indicações claras do duplo sentido da obra,
para que o leitor não permanecesse apenas no nível do plano histórico,
sem transporta-lo para a realidade cotidiana do Terceiro
Reich. No intuito de desprestigiar o nazismo, os emigrantes
interiores davam preferência a acontecimentos históricos que, por
seu caráter político, tinham levado à emancipação democrática e
revolucionária, ou tinham demonstrado em tempos passados fenômenos
devastadores como o do presente. O próprio objeto de crítica se
torna, de maneira indireta, o nacional-socialismo.
No caráter antifascista dos emigrantes interiores, predominavam
as posições histórico-filosóficas segundo as tradições do pensamento
conservador que, diante da realidade do nacional-socialismo, não
ofereciam outra coisa além de uma espiritualidade supra-temporal.
Na verdade, o irracionalismo histórico-filosófico contido nessa
postura antifascista não tinha forças para opor-se ao irracionalismo
ideológico do nacional-socialismo. Entretanto, não se deve duvidar
do antifascismo subjetivo da »Emigração Interior«, e nem tampouco
dos esforços individuais de escritores, jornalistas e artistas contra
a tirania do regime nazista. O editor Peter Suhrkamp, por exemplo,
sofreu represálias que culminaram com sua detenção. Em 1938, o escritor
Ernst Wiechert foi preso no campo de concentração de Buchenwald
por ter defendido o pastor Martin Niemöller, um dos líderes da »Igreja
Confissionária« (Bekennende Kirche), instituição evangélica que se opunha ao regime.
Além disso, durante a guerra, Reinhold Schneider, Werner Bergengruen
e Rudolf Hagelstange difundiram seus versos ilegalmente, não obstante
os perigos a que se expunham.
Um exemplo da literatura da »Emigração Interior«: Las
Casas vor Karl V., de Reinhold Schneider
escritor e historiador Reinhold Schneider (1903-1958) foi talvez
o principal nome da »Emigração Interior«. Sua postura ideológica
era orientada por um humanismo católico e elitista, revelado na
crença da ação individual através de preceitos ético-morais. Schneider
expressava seu poder de criação literária por meio de temas e personagens
históricos. Ao transpor um fato histórico para a literatura de
ficção, apontava o indivíduo como instância indissosciável do processo
histórico. A confrontação entre fé e descrença, consciência
e poder, Estado e Igreja, o conflito entre o bem e o mal e a mensagem
cristã que sempre apela à consciência são os principais temas tratados
nos seus contos, dramas e ensaios. Em suas obras, a tradição cristã
católica se une à visão da problemática política e intelectual de
seu tempo.
Sob a influência do filósofo existencialista espanhol Miguel de
Unamuno (1864-1936), Schneider empreendeu duas longas viagens a
Portugal e à Espanha, onde concebeu suas duas primeiras obras históricas
mais significativas, Das Leiden des Camões (1930) e Philipp II. (1931) . Após a publicação do ensaio Macht und Gnade (1940), rapidamente esgotado,
as medidas de censura contra Schneider se intensificaram, e ele
foi oficialmente proibido de escrever. Seus ensaios religiosos e
seus sonetos passaram a ser impressos e distribuídos ilegalmente,
sobretudo por membros da Igreja. Participou da resistência católica
e, pouco antes do final da guerra, foi acusado de alta traição.
A partir de sua postura cristã humanista, Schneider sempre reprovou
o nacional-socialismo. Entre suas principais obras estão os escritos
históricos Portugal (1931),
Theresia von Spanien (1939),
Macht und Gnade (1940), Weltreich und Gottesreich (1946), e as
novelas Las Casas vor Karl
V. (1938), Die dunkle
Nacht (1943) e Die gerettete Krone (1948) .
A experiência no desenvolvimento de estudos históricos desde o final
da década de 20 fez com que Reinhold Schneider estivesse, por assim
dizer, melhor »equipado« para trabalhar com a técnica de camuflagem
histórica como possibilidade de crítica ao regime nazista. Um estudo
mais profundo de sua obra-prima, a novela Las
Casas vor Karl V. Szenen aus der Konquistadorenzeit (»Las
Casas diante de Carlos V. Cenas do Tempo dos Conquistadores«),
publicada em 1938, demonstra com que maestria seu autor parte de
um tema e de personagens históricos para construir uma obra que
coloca em questão os fatos do presente na Alemanha nazista. Schneider
escolheu intencionalmente o tema da conquista da América e das conseqüências
devastadoras da política espanhola para os índios, pois, sem dúvida,
seria possível criar uma obra de protesto, mesmo que velado, contra
os desmandos e, em especial, a política racial do nacional-socialismo.
Schneider reconheceu que o tema era apropriado ao
tempo presente e convenceu-se da possibilidade de se expressar contra
a perseguição dos judeus num momento crucial. As chamadas »Leis
de Nuremberg« (Nürnberger Gesetze), leis raciais promulgadas
em setembro de 1935, que determinaram juridicamente a discriminação
contra judeus alemães, estavam em pleno vigor. No dia 9 de novembro
de 1938, ano em que a obra Las Casas vor Karl V. foi publicada, ocorreu
a »Noite dos Cristais« (no jargão nazista, Kristallnacht), um pogrom
instrumentalizado pelo Estado contra a população judia, como uma
espécie de represália pelo assassinato de Ernst vom Rath, secretário
de legação na embaixada alemã em Paris, cometido pelo judeu polonês
Herschel Grynzpan . Naquela noite, cujo nome foi motivado pela
quebra das vitrines, estabelecimentos comerciais foram depredados
e saqueados, sinagogas foram incendiadas e cemitérios, profanados,
além de inúmeras prisões e de vários assassinatos. Partindo de sua
visão cristã, Schneider procura se valer da história para demonstrar
que fatos deploráveis como aqueles vivenciados desde janeiro de
1933 na Alemanha poderiam ser inseridos em um questinamento maior:
a responsabilidade do indivíduo perante os desmandos do Estado.
Em uma carta escrita no ano de 1948, Schneider fez a seguinte revelação:
O
tema ofereceu-me a possibilidade de um questionamento fundamental
sobre a cisão entre homem e Estado e a tarefa do homem cristão nesse
conflito. (T. do A.)
A
crítica de Reinhold Schneider pode ser interpretada no contexto
da encíclica do Papa Pio XI, de 14 de março de 1937, intitulada
»Com preocupação aguda« (Mit
brennender Sorge) , que foi secretamente difundida nas igrejas católicas durante
a celebração das missas, tornando-se assim um ato de resistência.
A crítica recaia principalmente sobre a teoria e a prática da doutrina
racial nacional-socialista, totalmente oposta às concepções da Igreja
católica e aos fundamentos cristãos.
Las Casas vor Karl V. é um dos textos mais importantes da resistência
literária, produzidos no Terceiro Reich. Estruturada
em quatro capítulos, a novela se inicia com o embarque do monge
dominicano Bartolomé de Las Casas em Veracruz rumo à Espanha, onde
pretende convencer Carlos V, Rei de Castela e Aragão e Imperador
dos Estados alemães, a uma mudança fundamental na política colonial.
O leitor toma conhecimento dos pressupostos históricos e das situações
atuais nas Índias Ocidentais através de recordações e de confissões
de um companheiro de viagem de Las Casas, Bernardino de Lares, ao
qual é dedicada a maior parte dos dois primeiros capítulos, passados
em alto-mar e na cidade de Valladolid. O flash back em torno da vida do conquistador
regresso, alquebrado física e espiritualmente, exemplifica aquilo
o que Las Casas combate, ou seja, a colonização violenta
das Índias pelos conquistadores espanhóis, totalmente contraditória
à sua incumbência missionária. Verbos
como erbeuten (capturar), ausrauben
(despojar), plündern (saquear),
peinigen (torturar, flagelar) e ermorden (assassinar) emprestam aos capítulos
iniciais a dimensão do poder destruidor da política colonial espanhola.
O ponto alto do livro é a grande disputatio – fato histórico ocorrido em
1542 –, que mais parece ser a audiência de um processo em que o
sacerdote assume a posição de defensor do direito natural dos índios
contra o defensor do direito público, Juan Ginés de Sepúlveda. O
próprio Las Casas é acusado por Sepúlveda de ter, no passado, explorado
os índios, e de ter vivido como um homem de posses que desfrutava
da política colonial, sem nela ver qualquer contradição. Las Casas
não nega as afirmações de Sepúlveda, mas demonstra que ele próprio
havia se transformado, quando abrira os olhos para a violência e
os desmandos cometidos pelos espanhóis nas Novas Índias, no momento
em que foi despertado para as premissas fundamentais do comportamento
cristão, como Barmherzigkeit (misericórdia, caridade)
e Nächstenliebe
(amor ao próximo) . Ao mesmo
tempo, Las Casas luta pela salvação dos culpados, que continuarão
se embrutecendo e sucumbirão em meio à própria injustiça, enquanto
estiver em vigor uma política discriminatória por parte da coroa
espanhola. O monge
acusa os conquistadores espanhóis de desprezo pelos direitos humanos
e leva o rei a reconhecer sua responsabilidade direta na política
colonial. No quarto e último capítulo, atormentado por sua consciência,
após dias de reflexão, o rei decide promulgar »Leis Novas« (Leyes Nuevas, 1542) que determinam a observação dos direitos
iguais dos índios e que deveriam por fim à escravatura e aos maltratos
impostos às populações indígenas da América hispânica. Ao final,
Las Casas recebe do rei a difícil missão de propagar as leis
e, em conseqüência, é elevado a bispo de Chiapas (México).
Em suas anotações que geraram a obra Las
Casas vor Karl V., Reinhold Schneider fez o seguinte apontamento:
»A consciência da Europa: Las Casas« . Certamente, Schneider via nesse personagem
histórico, chamado de »Pai dos Indios«, um significado paradigmatico.
O Frei Bartolomé de Las Casas (1474-1566), teólogo, missionário
e historiador espanhol, seguiu em 1502 para Santo Domingo, onde
foi ordenado padre em 1510. Em 1513, foi enviado à recém conquistada
Cuba, quando começou a defender os índios contra os desmandos da
política colonial, fundada no sistema de encomienda,
e a lutar pela catequização pacífica e humana dentro do processo
de conquista. Em 1523, ordenou-se dominicano. Através de sua influência
sobre Carlos V, Las Casas obteve do rei a promulgação das Leyes
Nuevas de 1542, em que eram declarados ilegais o sistema de
apresamento e a escravização de índios, e que garantiam a integridade
e a dignidade dos povos indígenas e de suas culturas. Em 1543, como
bispo de Chiapas (México), Las Casas fracassou na execução das leis
sob a influência de seus inimigos entre os conquistadores. Insandecidos
pelo poder, os conquistadores deixaram de lado a fé e a moral. Não
estavam preparados para uma nova visão de mundo que a descoberta
da América lhes impunha. Em 1547, foi forçado a regressar
à Espanha e, a partir de 1551, tornou-se conselheiro na corte e
continuou defendendo os direitos dos índios. Os pensamentos éticos
e políticos de Las Casas eram avançados para seu tempo. Suas concepções
de liberdade individual e de relativismo cultural e étnico encontravam
oposição por parte daqueles que ainda se prendiam a concepções arcaicas
de Estado.
Além do protagonista, Schneider apresenta em sua obra outros dois
personagens históricos: Sepúlveda e Carlos V. O humanista espanhol
Juan Ginés de Sepúlveda (1489-1573), após ter vivido seis anos na
corte do Papa como tradutor de Aristóteles, assumiu em 1529 a função
de cronista e editor político a serviço de Carlos V, que o nomeou
educador de seu filho, o príncipe Filipe. Sepúlveda foi de fato
o principal oponente de Las Casas nos conselhos sobre a legislação
colonial espanhola.
Schneider também foi fiel na caracterização do principal representante
do poder do Estado espanhol, o imperador alemão Carlos V (1500-1558),
filho de Felipe, o Formoso, que, por herança, sucedeu ao avô, o
Rei Fernando II, no trono de Aragão e Castela em 1516. O período
de reinado de Carlos V foi marcado por muitas guerras, tanto de
legitimação de poder diante da França, quanto guerras religiosas
contra os turcos na Áustria e contra os mouros no norte da África.
Também foi nesse período que a Espanha conquistou novos espaços
na América – em 1521, o México, em 1533, o Peru, quando foi fundado
o Reino Colonial Espanhol Ultramarino.
Entre os personagens principais, apenas o
fidalgo Bernardino de Lares é uma invenção livre de Schneider, uma
espécie de duplo de Las Casas, que, atormentado pela consciência,
vive em conflito consigo mesmo por ter participado das atrocidades
cometidas pelos conquistadores. O seu amor pela jovem índia Lucaya,
também uma personagem fictícia, o despertou para uma nova postura.
Aliás, a consciência perpassa toda a ação como uma espécie de leitmotiv. Schneider transfere essa visão
da consciência dos escritos históricos de Las Casas para a sua obra.
Em suas anotações, Schneider fez o seguinte apontamento:
Sua
própria consciência [i.e., de Las Casas], como a consciência dos
reis, dos conquistadores e dos que possuiam terras e escravos, desempenha
um papel importante em todos os tratados e declarações. (T. do A.)
Reinhold Schneider
reconheceu no episódio histórico em torno da negociação e da promulgação
das »Leis Novas« um marco na história européia e latino-americana
que poderia servir de paradigma para o presente. Tanto o personagem
histórico Las Casas como o personagem fictício Bernardino de Lares
ocupam no texto de Schneider uma função exemplar. Inicialmente,
ambos estavam indiferentes diante dos métodos de exploração empregados
pela coroa espanhola nas colônias ultramarinas. Porém, ao demonstrarem
que passaram por um processo que lhes abriu os olhos – pelo amor
à índia Lucaya, no caso de Bernardino de Lares, e pela fé fundada
em princípios originalmente cristãos, no caso do monge dominicano
–, suas trajetórias devem servir de paradigma para aqueles que ainda
não se deram conta do verdadeiro caráter do regime nazista, ou que
ainda não foram levados a refletir sobre a sua responsabilidade
individual e, portanto, ética, mesmo que indireta, em relação ao
abuso de poder, à militarização da sociedade alemã e ao racismo
propagado e praticado oficialmente pelo Estado. De forma exemplar,
Schneider fez com que Bernardino de Lares, por exemplo, ao dar testemunho
das palavras de Las Casas, não apelasse diante do rei para a sua
condição de militar que »apenas« cumprira ordens sob o comando de
superiores:
»[...] Pelos meus atos, poderia recorrer ao
direito militar e encontraria credibilidade. Mas o que devo fazer
quando no lugar do juiz terreno surge o anjo com a espada? [...]«
(T.
do A.)
De modo diametralmente
oposto, o capitão Vargas, testemunha apresentada por Sepúlveda para
tentar legitimar a sua visão da política colonial espanhola, iniciou
seu depoimento com a seguinte frase lapidar, típica daqueles que
transferem a responsabilidade de seus atos individuais à hierarquia
e à obediência perante uma estrutura organizada segundo postos e
funções a serem desempenhadas: »Sou apenas um soldado« . A diferença está na consciência
atormentada de Bernardino de Lares, que lhe impele ao arrependimento.
Quase às portas da Segunda Guerra Mundial, num momento em que a
militarização alemã já havia quebrado todas as cláusulas dos Tratados
de Versalhes e de Locarno e não era mais nenhum segredo encoberto
pela propaganda de uma Alemanha »amante da paz«, como ocorrera durante
os XI. Jogos Olímpicos de Berlim, em 1936, Schneider reconhecia
o potencial de destruição à sua volta. Temia as conseqüências nefastas
que adviriam da política nazista, caso não fosse posto um fim no
regime de Hitler. As palavras de alerta de Las Casas/Schneider,
no ano de 1938, soam hoje como uma profecia do ímpeto devastador
que varrerá a Europa nos próximos cinco anos e que marcará profundamente
a Alemanha do pós-guerra:
»[...] »é verdade que o juízo recairá sobre
essa terra! Pois quem falha na missão suprema incorre na mais pesada
culpa. [...] e quando os homens se levantarem dos escombros e acusarem
o Senhor e perguntarem por que Ele trouxe essa desgraça sobre a
terra, irei me levantar do túmulo e testemunharei a favor da justiça
de Deus. [...] deveriam ter carregado sobre seus ombros o Senhor
Santo através do mar, mas ao invés disso carregaram satã. Por isso,
Deus faz justiça se destruir a reputação dessa terra. Para os enormes
crimes tem lugar, então, o enorme castigo.« (T.
do A.)
Não obstante
a relação de conteúdo que ambos os episódios suscitam – de um lado,
na Espanha e na América Latina do século XVI e, de outro, na Alemanha
entre 1933 e 1938 – Reinhold Schneider introduziu algumas marcas
em seu texto, que indubitavelmente despertam no leitor a necessidade
de estabelecer uma ponte entre o passado e o presente. A presença
de tais marcas pode ser constatada pela análise do vocabulário empregado
pelo autor. Existem, por exemplo, cinco termos comumente veiculados
pelo discurso nazista que aparecem no texto de Schneider:
Kamerad (»companheiro«)
Ordnung (»ordem«)
Rasse (»raça«)
Vaterland (»pátria«)
Volk (»povo«)
Quando falamos
aqui de »leitor«, pensamos no leitor alemão durante o período nazista.
Pois a marcação do texto por meio discursivo é praticada por Schneider
em função dele. É ele que, sem dúvida, tem de estranhar diante do
termo Kamerad, que se repete nove vezes ao longo
da obra , e que é empregado por Bernardino
de Lares ao se referir a seus »companheiros« que, junto com ele,
participaram de incursões militares contra índios nas Antilhas,
no intuito de lhes subtraírem pérolas e objetos de ouro. O termo
Kamerad foi incorporado ao alemão a partir
do termo francês camerade
(camarada, companheiro) no século XVI, que, por sua vez, remonta
ao termo espanhol camarada
. No século XIX, tornou-se próprio
do jargão militar no contexto das guerras de libertação contra o
exército napoleônico. Sobretudo a canção marcial Ich hatt’ einen Kameraden (»Eu tinha um
companheiro«), cujo texto de 1809 é do poeta romântico alemão Ludwig
Uhland, e que foi musicado por Friedrich Silcher em 1825 , passou, a partir de então, a ser
uma das canções preferidas dos soldados. Seu texto fala da morte
heróica do companheiro anônimo que cumpre o mesmo ritual de obedecer
ao rufo do tambor e ir ao ataque. Ao lado da canção marcial Die Wacht am Rhein (»A Guarda do Reno«),
de Max Schneckenburger , ícone musical das várias guerras
entre a França e a Alemanha ao longo dos séculos XIX e XX, a canção
Ich hatt’ einen Kameraden
também encontrou sua continuidade na tradição militar e nacionalista,
em que se situam as raízes do nacional-socialismo. O apelo à Kameradschaft (companheirismo, camaradagem)
durante o nazismo está associado à estruturação organicista e hierárquica
da sociedade alemã cada vez mais militarizada, em que o indivíduo
se funde a uma massa de Kameraden
em prol de uma vontade única, imposta pelo Estado.
Outro termo recorrente no texto de Schneider é Ordnung,
que aparece quinze vezes . O termo alemão Ordnung
remonta ao velho-alto-alemão ordinunga
e ao médio-alto-alemão ordenunge,
proveniente do latim ordo,
disposição, ordem ou alinhamento . Desde a Revolução Alemã de 1848,
quando as aspirações democráticas e constitucionais foram sufocadas
pelos regimentos prussianos no intuito de restabelecer a »ordem«
da Confederação Germânica em sua forma antiga, Ordnung tornou-se instrumento de poder
imposto por repressão violenta contra tudo o que colocava em perigo
a instância que detinha tal poder. Além disso, a idéia de »ordem«
como norma que garantia a unidade soberana, de um lado, se fundiu
à concepção moderna de Estado nacional e, de outro, ganhou força
como oponente à idéia de caos que crescia no bojo da industrialização.
Ordnung também passou
a ser uma das principais, senão a principal palavra de ordem veiculada
pela direita política alemã. Basta olharmos os cartazes de campanha
política nas primeiras décadas do século XX na Alemanha para termos
uma idéia de como Ordnung se tornou lugar comum no discurso
político de direita. O nazismo também se apropriou dele, sem altera-lo
em essência, mas apresentando-o como a estrutura das relações sociais
a partir da divisão da sociedade em inúmeras organizações instrumentalizadas
por um Estado de partido único, o NSDAP – Nationalsozialistische
Deutsche Arbeiter-Partei. Não é coincidência que Schneider empregue
o termo quase sempre como parte integrante da argumentação de representantes
do status quo. O que mais apela para a »ordem«
através do emprego da força é justamente o personagem Sepúlveda,
seguido do Cardeal Loaysa de Sevilha, presidente do Conselho das
Índias, e simpatizante com a política colonial nos moldes defendidos
por Sepúlveda.
Divergindo de seus opositores, Las Casas procura chamar a atenção
para uma outra concepção de »ordem« sobrenatural, misericordiosa,
que emana de Deus e que está acima da »ordem« terrena, propagada
por Sepúlveda. Para isso, o monge dominicano refere-se ao direito
natural (Naturrecht),
considerado um reflexo da criação divina na consciência humana,
que só pode adquirir sua força dentro da ordem cristã,
e aponta os efeitos limitados do direito público (Staatsrecht) , que, em primeiro lugar, visa à garantia
da ordem jurídica fundamental do Estado. Por fim, Las Casas lança
o desafio da observação dos direitos humanos em geral e da igualdade
de direitos dos índios.
O próximo termo a ser tratado se destaca não pela incidência com
que surge na novela Las Casa
vor Kal V., mas pelo significado que tem dentro do discurso
nazista: Rasse. Em alemão, o conceito de Rasse
(raça) surgiu no século XVII a partir da palavra francesa race que, por sua vez, originou-se do termo italiano razza, cuja origem é imprecisa. Trata-se
de um termo da biologia que, grosso
modo, designa uma categoria sistemática que expressa a totalidade
de elementos pertencentes a uma dada espécie. O conceito de Rasse passou a ser empregado no discurso político a partir das últimas
décadas do século XIX através da influência dos teóricos racialistas
Arthur Graf von Gobineau, Alfred Ploetz, Houston Stewart Chamberlain
e Alfred Rosenberg , que tiveram grande influência sobre
a ideologia racial nacional-socialista, que pregava a supervalorização
da chamada »raça nórdica« ou »ariana« (die nordische/arische Rasse) .
No texto de Schneider, Rasse
aparece apenas uma vez, e na forma do plural. Porém, esse termo
surge no ponto alto da disputa entre Las Casas e Sepúlveda diante
de Carlos V. O defensor do direito público acusa o sacerdote de
ter discriminado os negros quando propôs a substituição dos índios
por escravos negros nos trabalhos mais pesados. Em sua argumentação
estão presentes as idéias do mundo antigo, em que se acreditava
no direito dos povos mais desenvolvidos e mais aptos sobre os bárbaros:
»[…] Ele [i.e., Las Casas] o fez abertamente
quando aconselhou o embarque de negros para as Novas Índias e o
seu emprego como trabalhadores nas minas e no campo, ao invés dos
índios. [...] E, com isso, ele admitiu perante o mundo todo que
para raças superiores vale um outro direito que para inferiores.
Como superior ele deve ter considerado os índios, e como
inferior, os negros. É impossível que ele não se tenha dado
conta de que os negros não se dirigiram às naus dos comerciantes
portugueses, genoveses e holandeses por livre e espontânea vontade,
que eles, no mesmo sentido, seriam livres como os índios deveriam
ser segundo sua opinião, se não houvesse um povo racialmente
superior e mais desenvolvido – e este somos apenas nós espanhóis
– que, para a fé do mundo, detivesse um poder sobre povos inferiores,
como já ensinavam Aristóteles e Platão.« (grifos meus) (T. do A.)
Indo
além, Schneider insere na argumentação de Sepúlveda o termo Rasse,
anacrônico para a Espanha do século XVI, e marcadamente presente
no cotidiano do nazismo. A expressão ein
höher geartetes Volk, traduzido por mim como »um povo racialmente
superior«, traz no termo geartet
(gerado), particípio do verbo arten
(gerar), o radical art (do médio-alto-alemão, origem, índole,
qualidade inata) , que serviu de sufixo na formação
de alguns termos do jargão nazista, como os adjetivos artfremd
(impróprio da raça, exótico) e artverwandt
(correspondente da raça), empregados pelos nacional-socialistas
na redação de leis raciais e, portanto, discriminatórias, que caracterizavam
os seres humanos como höherwertig
(de valor superior) ou minderwertig
(de valor inferior) . O fato de Rasse
e Art praticamente funcionarem como sinônimos
no discurso nazista resulta
da polissemia do termo Art,
que na biologia significa »espécie«. No momento em que o discurso
darwinista foi transportado para o âmbito sociológico, tornando-se
o que chamamos de »darwinismo social«, Art
assumiu então o sentido de Rasse. Podemos supor que Schneider optou por empregar
os adjetivos höher (superior,
mais elevado), minder
(inferior), geringer (inferior)
e tiefer (inferior, mais profundo), na forma
do comparativo, ao invés dos termos explicitamente nazistas, para
assim não chamar a atenção do censor para a crítica à postura de
Sepúlveda e, indiretamente, ao nazismo.
Como notamos na última citação, Sepúlveda procura justificar a imposição
violenta da política de ordem pelo Estado, atribuindo a Las Casas
o »racismo« que ele próprio defende. A substituição de mão-de-obra
escrava do índio por mão-de-obra escrava do homem negro foi realmente
proposta pelo verdadeiro Bartolomé de Las Casas que, juntamente
com outros dois clérigos, a registrou no Memorial
de Quatorze Remédios (1516). Seguindo a fonte história, Schneider
enfraquece o argumento de Sepúlveda através da própria confissão
de Las Casas de ter sido autor de tal proposta, que, no entanto,
não teria sido feita por questões »raciais«, como queria o teórico
de direito, mas por questões humanitárias:
»[…] aconselhei que trouxessem negros para
as Índias Ocidentais e que os empregassem no lugar dos índios. Acreditava
que os negros suportariam mais que os índios, os quais via morrer
em todas as ruas, e queria por fim a um sofrimento maior por meio
de um menor. Mas foi erro e culpa, e eu, aqui presente, a admito
solenemente e declaro que é contra todo direito e contra a fé, e
que, na mais alta medida, é digno de condenação que negros sejam
capturados na costa da Guiné como caças, metidos em navios, comercializados
nas Índias, e que lá sejam tratados da forma como acontece diariamente
e a cada instante. Tenho culpa nisso, pois eu, tolo, cedi a meu
coração ao invés de aconselhar o que era justo. Mas também o ouro
exerceu poder sobre mim em minha juventude. Sou um espanhol e sou
vencido por tentações, às quais meu povo se submete, e eu luto contra
essas tentações para mostrar a meu povo que eu as posso superar.«
(T.
do A.)
A exemplo de Rasse, o termo Vaterland
(pátria) é empregado em Las
Casas vor Karl V. por aqueles que não querem reconhecer os direitos
dos índios . Vaterland
se originou do médio-alto-alemão vaterlant
[pátria (Heimat), céu (Himmel)], e seu primeiro registro data do século XII, transportada
do latim patria, terra
natal ou país de origem . No contexto das guerras contra
Napoleão, esse conceito também passou por uma transformação, sendo
impregnado, a partir de então, de um sentido nacionalista. Aliás,
a canção marcial Die Wacht
am Rhein (»A Guarda do Reno«), mencionada anteriormente, foi
um dos instrumentos mais eficazes na popularização do conceito de
Vaterland dentro da tradição nacionalista do século XIX, em que Vaterland aparece contextualizado com idéias
de sacrifício heróico, ordem, hierarquia e disciplina. Pode-se notar
que Schneider quer marcar as falas de Sepúlveda e do Cardeal Loaysa
de Sevilha com tal caráter nacionalista, enquanto o discurso oposto,
ou seja, de Las Casas, é marcadamente universalista.
Por fim, o termo mais empregado por Schneider é Volk
(povo), numa incidência total de 71 vezes, aparecendo tanto no singular
como no plural . O termo Volk (povo, pessoal, bando de guerreiros) se originou do termo germânico
antigo volc, no inglês
folk, e no sueco folk. Trata-se de um conceito plural que, originalmente, era empregado
para designar a tripulação de um navio ou o conjunto de integrantes
de uma divisão militar. Ao longo do tempo, sofreu alterações de
significado, passando, antes de tudo, a designar os integrantes
de uma sociedade, pensada em uma unidade ideal que, por exemplo,
pode se fundar na origem, na história, na cultura e na língua comuns,
e até mesmo adquirir um caráter especificamente étnico . O
termo Volk foi tão empregado no Terceiro
Reich que perdeu sua definição racional e objetiva, tornando-se
elemento de fácil apropriação para a ideologia nazista, fundada
no irracionalismo. No jargão nazista, temos a formação de inúmeras
palavras compostas a partir de Volk, como, por exemplo, Volksgemeinschaft (comunidade popular),
um dos conceitos fundamentais da doutrina nacional-socialista, com
o qual se definia a idéia de unidade social fundada na unidade histórica,
cultural e consanguínea do povo alemão .
O próprio eixo histórico que funciona como fio condutor da obra
possibilita a Schneider contrapor a esses termos comuns do jargão
nazista outros dois termos centrais que trabalham para a valoração
positiva do protagonista: Wahrheit (verdade) , pela qual Las Casas clama, e Unrecht (injustiça) , praticada com o assentimento legal do Estado
e denunciada pelo sacerdote e por Bernardino de Lares. Ao final
da novela, a vitória não comemorada por Las Casas, ciente de que
não seria nada fácil pôr em prática as novas leis promulgadas por
Carlos V, é, ao mesmo tempo, a vitória da verdade sobre a injustiça.
Aliás, a defesa do »direito natural« (Naturrecht) e a denúncia da »injustiça«
(Unrecht) figuram no texto
da encíclica Mit brennender
Sorge , o que demonstra a afinidade do texto de
Schneider com a crítica incisiva de Pio XI ao nazismo, numa postura
diametralmente oposta àquela de seu sucessor, o Papa Pio XII.
Um último aspecto relevante no processo de marcação discursiva surge
na cena final da novela, em que Las Casas está prestes a embarcar
rumo às Índias Ocidentais. Caminhando pela praia, o sacerdote atinge
uma ponta de terra em que se encontra
[...] uma pilha de pedras coroadas com uma
imponente cruz de madeira, cujos braços largos pareciam de
fato abençoar ou advertir as naus que partiam e as que voltavam
para casa. [...] (grifo meu) (T. do A.)
Além dessa passagem,
o termo Holzkreuz (cruz
de madeira) aparece mais duas vezes no texto de Schneider , aliás, ambas em situação de morte:
na primeira vez, Bernardino de Lares dá uma cruz de madeira à índia
Lucaya, pouco antes de sua morte; na segunda, Bernardino de Lares
pede ao padre Las Casas que lhe passe a mesma cruz de madeira que
estava pendurada na parede de seu quarto, antes de falecer. No entanto,
o emprego do termo Holzkreuz
(cruz de madeira) não é tão comum em alemão, mas sim a expressão
Kreuz aus Holz (cruz de madeira). Esse
ícone erigido por Schneider ao final da novela, a cruz de madeira
imponente, a Holzkreuz, deve ser o indicador não apenas
das naus, mas dos homens, dos homens no Terceiro Reich, cujo meio está dominado por um outro tipo de simbologia,
e por um símbolo em especial: a Hakenkreuz
(cruz suástica).
Considerações
Finais
Partir da reflexão
sobre o contexto de emergência de Las
Casas vor Karl V. e sobre seu produtor, constatamos que Reinhold
Schneider se vale da camuflagem literária para, de um lado, burlar
a censura e, de outro, criticar o regime. Além da camuflagem histórica,
a marcação do texto no nível discursivo por meio de termos que pertencem
não ao passado da América hispânica e da Espanha nas primeiras décadas
do período colonial, mas ao presente do Terceiro Reich deve auxiliar o leitor a
associar ambos os períodos e, com isso, a decifrar a crítica disfarçada
por ambas as estratégias de criação adotadas por Schneider.
A análise do contexto de emergência e o conhecimento a respeito
do próprio autor nos possibilitam deduzir que o público-alvo que
Schneider tinha em mente ao conceber sua obra-prima era, em primeira
instância, o público cristão católico. Sua ligação com a Igreja
católica funcionou como uma espécie de refúgio diante do mundo »pagão«
nacional-socialista. O próprio Las Casas vê como sua maior missão
»o combate do paganismo entre os cristãos« . Com isso, Schneider expressa literariamente
aquilo para o qual a encíclica papal Mit
brennender Sorge chamara a atenção em 1937: O
nazismo era o »novo paganismo« (Neuheidentum) a ser combatido. No entanto, Schneider não poupa nem mesmo
a Igreja, pois a simpatia demonstrada pelo presidente do Conselho
das Índias, o Cardeal Loaysa de Sevilha, em relação à tese de Sepúlveda
de que uma política colonial mais branda levaria a Espanha à destruição
e, com ela, parte da cristandade, alude àqueles clérigos que, de
alguma forma, pactuaram com o regime ou no mínimo se abstiveram
de combate-lo . Por fim, todas essas considerações acerca de Las Casas vor Karl V., como exemplo de
produção literária de resistência em um regime totalitário, demonstram
que a crítica de Thomas Mann, apresentada no início do presente
artigo, deve ser, no mínimo, repensada.
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Nationes, 1984.
[1] Thomas Mann foi um dos escritores exilados que mais
se empenhou em divulgar mensagens de alerta ao povo alemão, sobretudo
com a deflagração da guerra; cf. MANN, Thomas
Deutsche Hörer! Radiosendungen nach Deutschland aus den Jahren 1940 bis
1945, Frankfurt a.M.: Fischer, 1987 e
Essays, vol. 4: »Achtung, Europa! Essays 1933-1938« e vol. 5: »Deutschland und die Deutschen 1938-1945«, Frankfurt a.M.: Fischer, 1995/1996.
[2] [...] in dem allmählich gewordenen großen Konzentrationslager, in dem es
bald nur mehr Bewachende und Bewachte verschiedener Grade gab.; MOLO, Walter von, Münchner Zeitung,
de 13.8.1945. In: HAY, Gerhard (et alli) (Orgs.) »Als
der Krieg zu Ende war«. Ausstellungskatalog des Schiller-Nationalmuseums,
München: Kösel,
1974, p.264-265, aqui p.264.
[3] [...] Es mag Aberglaube sein,
aber in meinen Augen sind Bücher, die von 1933 bis
1945 in Deutschland überhaupt gedruckt werden
konnten, weniger als wertlos und nicht gut, in die Hand zu nehmen.
Ein Geruch von Blut und Schande haftet ihnen an. Sie sollten alle
eingestampft werden...; MANN, Thomas: »Offener Brief für Deutschland«. In: Augsburger Anzeige, de
12.10.1945. Apud ibid., p.266-267, aqui p.267.
[4] No dia 10 de maio de 1933, realizou-se em diversos
centros universitários a queima pública de livros, os quais foram
difamados pelos nazistas como obras da »Imoralidade e Corrompimento«
(Unmoral und Zersetzung). Personalidades, como Einstein,
Freud, Trotzki, Thomas e Heinrich Mann, Alfred Döblin, Kurt Tucholsky e Anna Seghers tiveram seus livros
queimados em cerimônias públicas, realizadas como parte da encenação
do poder; cf. KAMMER, Hilde/BARTSCH, Elisabet Nationalsozialismus. Begriffe aus der Zeit
der Gewaltherrschaft 1933-1945, Reinbek bei Hamburg: Rowohlt,
1992, p.41 e sg.
[5] Sobre
o emprego do disfarce da intenção crítica na lírica do século
XX na Alemanha nazista (1933-1945), na RDA (1961-1980), no Brasil
(1968-1974) e no Chile (1973-1983), ver MÖLLER-ZEIDLER, Sabine:
»Literatur und Autoritarismus. Die zensierte Sprache in der Lyrik«.
In: CZIESLA, Wolfgang/ENGELHARDT, Michael von (Orgs.) Vergleichende
Literaturbetrachtungen: 11 Beiträge zu Lateinamerika und dem deutschsprachigen
Europa, München: Iudicium-Verlag, 1995, p.219-243, aqui p.220.
[6] SCHNELL, Ralf: »Innere
Emigration und kulturelle Dissidenz«. In: LÖWENTAHL, Richard/MÜHLEN, Patrik von zur (Orgs.) Widerstand und Verweigerung
in Deutschland 1933 bis 1945, Bonn: Dietz, 1990, p.211-225,
aqui p.216.
[7] »O Sofrimento de Camões« (1930) e »Felipe II« (1931).
[8] »Portugal« (1931), »Teresa de Espanha« (1939), »Poder
e Graça« (1940), »Império Universal e Reino de Deus« (1946),»Las
Casas diante de Carlos V« (1938), »A noite escura« (1943) e »A
coroa salva« (1948).
[9] Cf. KAMMER,
Hilde/BARTSCH, Elisabet, op. cit., p.109 e sg. e 145 e
sg.
[10] Der Stoff bot die Möglichkeit einer grundsätzlichen Auseinandersetzung über
den Zwiespalt zwischen Mensch und Staat und die Aufgabe des Christen
in einem solchen Konflikt.; apud LANDAU, Edwin Maria: »Das Gewissen des
Abendlandes. Las Casas« [Posfácio]. In: SCHNEIDER, Reinhold Las
Casas vor Karl V. Szenen aus der Konquistadorenzeit, Frankfurt
a.M.: Suhrkamp, 1990, p.147-156, aqui p.148.
[11] Cf. HÜRTEN, Heinz: »Katholische Kirche und Widerstand«.
In: STEINBACH,
Peter/TUCHEL, Johannes (Orgs.) Widerstand gegen den Nationalsozialismus,
Berlin: Landeszentrale für politische Bildungsarbeit, 1994, p.182-192,
aqui p.185.
[12] Cf. SCHNEIDER, Reinhold, op. cit., p.53, 61, 121.
[14] Das Gewissen des Abendlandes: Las Casas; apud ibid., p.147.
[15] Sein eigenes Gewissen wie das Gewissen der Könige, der Konquistadoren und Land-
und Sklavenbesitzer spielt eine bedeutende Rolle in allen Traktaten
und Äußerungen.; apud ibid., p.150.
[16] »[...] denn ich könnte mich für meine Taten auf Kriegsrecht berufen und fände
Glauben. Aber
was soll ich tun, wenn an des irdischen Richters Stelle der Engel
mit dem Schwerte tritt? [...]«; SCHNEIDER, Reinhold, op. cit., p.120.
[17] »Ich bin nur ein Soldat«;
ibid., p.115.
[18] »[...] »ist es wahr,
daß das Gericht kommen wird über dieses Land! Denn wer den größten
Auftrag verfehlt, der verfällt auch der schwersten Schuld. [...]
und wenn die Menschen sich aufrichten aus den Trümmern und den
Herrn anklagen und fragen, warum er dieses Unheil über das Land
gebracht habe, so werde ich mich erheben aus dem Grabe und für
Gottes Gerechtigkeit zeugen. [...] sie hätten dem Heiligen gleich
den Herrn durch das Meer tragen sollen auf ihren Schultern und
haben statt seiner den Satan getragen. Darum tut Gott recht, wenn
er dieses Landes Ansehen vernichtet. Für ungeheure Verbrechen
erfolgt nun die ungeheure Strafe.«; ibid., p.125.
[19] Ibid., p.17, 20, 24, 35, 38, 39 e 76.
[20] Cf. DROSDOWSKI, Günther
(et alli) (Orgs.) Dunden. Das Herkunftswörterbuch. Etymologie
der deutschen Sprache, Bd.7, Mannheim/Leipzig/Wien/Zürich,
Dudenverlag, 1997, p.323.
[21] Cf. DIEKMANN, Anne/GOHL,
Willi (Orgs.) Das große Liederbuch, Zürich: Diogenes, 1975,
p.197.
[22] Cf. GAST, Wolfgang (Org.)
Politische Lyrik. Deutsche Zeitgedichte des 19. und 20. Jahrhunderts,
Stuttgart: Reclam, 1973, p.9 e sg.
[23] Cf. SCHNEIDER, Reinhold, op. cit., p.20,
16, 46, 53, 87, 88, 89, 93, 94, 102, 123, 124.
[24] Cf. DROSDOWSKI, Günther
(et alli), op. cit., p.502.
[25] Cf. SCHNEIDER, Reinhold, op. cit., p.101.
[26] Cf. BENZ, Wolfgang (Org.)
Legenden, Lügen, Vorurteile. Ein Wörterbuch zur Zeitgeschichte,
6a. ed., München: dtv, 1992, p.167.
[27] Cf. DROSDOWSKI, Günther
(et alli), op. cit., p.573.
[28] »[...] Denn das hat
er offenbar getan, als er riet, Neger nach den Neuen Indien zu
verfrachten und sie statt der Índios als Arbeiter in den Bergwerken
und auf dem Feld zu gebrauchen. [...] und er hat damit vor aller
Welt zugegeben, daß für höhere Rassen ein anders Recht gelte als
für mindere; als höher muß er die Indios betrachtet haben und
als geringer die Neger. Unmöglich kann er doch übersehen haben,
daß die Neger sich nicht freiwillig auf die Schiffe der portugiesischen,
genuesischen und holländischen Händler begeben; daß sie in demselben
Sinne frei wären, wie es die Indios nach seiner Meinung sein sollen,
wenn eben nicht ein höher geartetes und höher entwickeltes Volk
– und das sind wir Spanier allein – zum Frommen der Welt ein Recht
inne hätte über tiefer stehende Völker, wie das schon Aristoteles
und Plato gelehrt haben.«; SCHNEIDER, Reinhold, op. cit., p.101.
[29] Cf. DROSDOWSKI, Günther
(et alli), op. cit., p.46.
[30] cf. KAMMER, Hilde/BARTSCH, Elisabet, op. cit., p.20 e sg.
[31] »[...] geraten habe, Neger nach Westindien zu bringen und sie an der Stelle
der Indios arbeiten zu lassen. […] Ich glaubte, die Neger ertrügen
mehr als die Indios, die ich an allen Straßen sterben sah, und
wollte durch ein geringeres Leiden ein größeres aufhalten. Aber
es war Irrtum und Schuld, und ich schwöre sie hiermit feierlich
ab und erkläre, daß es wider alles Recht und wider den Glauben,
daß es im höchsten Maße verdammungswürdig ist, die Neger an der
Küste Guineas wie Wild einzufangen, sie in die Schiffe zu pferchen,
in Indien zu verhandeln und dort so mit ihnen umzughen, wie es
täglich und stündlich geschieht. Ich habe schuld daran,
weil ich Narr meinem Herzen nachgegeben habe statt anzuraten,
was Recht ist. Aber auch das Gold hat Gewalt über mich gehabt
in meiner Jugend; ich bin ein Spanier und bin den Versuchungen
erlegen, denen mein Volk unterworfen ist, und ich kämpfe mit diesen
Versuchungen um, soweit es in meinen Kräften steht, meinem Volke
zu zeigen, wie ich sie überwinden kann.«; SCHNEIDER, Reinhold, op. cit., p.104.
[32] O termo Vaterland aparece três vezes no texto
de Schneider; cf. ibid., p.87, 101, 115.
[33] Cf. DROSDOWSKI, Günther
(et alli), op. cit., p.777.
[34] Cf. SCHNEIDER, Reinhold, op. cit., p.11,
23, 24, 25, 26, 34, 43, 44, 53, 54, 55, 64, 65, 68, 69, 73, 79,
88, 90, 91, 92, 93, 94, 95, 101, 102, 104, 107, 108, 109, 110,
111, 112, 113, 117, 118, 119, 121, 122, 123, 124, 126, 127, 130,
136.
[35] Cf. DROSDOWSKI, Günther
(et alli), op. cit., p.793.
[36] Cf. KAMMER, Hilde/BARTSCH, Elisabet, op. cit., p.222 e sg.
[37] O termo Wahrheit aparece 21 vezes no texto; cf. SCHNEIDER, Reinhold,
op. cit., p.18, 57, 79, 88, 90, 110, 111, 114, 115, 117,
119.
[38] O termo Unrecht aparece 25 vezes no texto;
cf. ibid., p.14, 19, 33, 88, 90, 105, 106, 107, 108, 109,
110, 120, 122, 136, 137, 139, 140.
[39] Cf. KLEMPERER, Klemens
von: »Naturrecht und der deutsche Widerstand gegen den Nationalsozialismus«.
In: STEINBACH, Peter/TUCHEL, Johannes, op. cit., p.43-53.
[40] [...] Steine aufgeschicht
und mit einem gewaltigen Holzkreuz bekrönt worden, dessen breite
Arme bestimmt schienen, die ausfahrenden oder heimkehrenden Schiffe
zu segnen odern zu ermahnen. [...]; ibid., p.145.
[41] Cf. SCHNEIDER, Reinhold,
op. cit., p.74, 132 e 145.
[42] […] das Heidentum in
den Christen zu bekämpfen […]; ibid., p.49.
[43] HÜRTEN, Heinz, op. cit.,
p.185.
[44] Cf. CORNWELL, John O Papa de Hitler. A história
secreta de Pio XII, 2a. ed., Rio de Janeiro: Imago,
2000. [Título original: Hitler’s Pope – The secret History
of Pius XII, trad. de A. B. Pinheiro de Lemos]
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