A MORALIDADE COMO INSTRUMENTO DE CENSURA: O TEATRO DESAGRADÁVEL DE NÉLSON RODRIGUES E SUA REELABORAÇÃO DA TRILOGIA TEBANA

Autora: Ana Maria de OLIVEIRA
Orientadora: Rosani Ketzer UMBACH

A palavra censura tomada em suas diversas acepções - repreensão, repressão, condenação, mecanismo inibitório - leva ao desvelamento da sua razão de ser e à identificação dos meios através dos quais se manifesta. O objeto de estudo dessa dissertação de Mestrado é a moralidade, um dos mecanismos de inibição utilizados pela censura, aplicada em textos teatrais de Nelson Rodrigues. A escolha recaiu sobre alguns textos do "teatro desagradável" especialmente Álbum de Família, peça censurada por 22 anos, estabelecendo relações de contraste com a Trilogia tebana, de Sófocles. O objetivo desse trabalho é mostrar que o texto rodrigueano foi censurado por motivos morais e não estéticos, uma vez que os temas abordados pelo autor - traição, morte, homossexualismo e incesto - são recorrentes em composições clássicas, como a Tragédia Grega; encontrando,  no entanto, em Nelson Rodrigues uma abordagem coloquial que provocou a reação da sociedade e do Estado.

A FRAGMENTAÇÃO DA NARRATIVA EM A HORA DA ESTRELA, DE CLARICE LISPECTOR

Autora: Iza Maria Abadi de OLIVEIRA
Orientador: Jaime GINZBURG

Na literatura brasileira, a obra de Clarice Lispector (1925-1977) apresenta uma nova forma de escrita literária. Desde seu romance de estréia. Perto do coração selvagem (1943), a autora estabeleceu um estilo de escritura que subverte os moldes tradicionais: essa ruptura se testemunha na dimensão da linguagem. Este trabalho, de caráter bibliográfico, tem como objeto de estudo A hora da estrela (HE), de Clarice Lispector. Através do estudo das posições do narrador e da personagem, demonstraremos como se compõe a fragmentação da narrativa. Nossa hipótese é a de que a essa obra se compõe de dois enredos: um plano com referência ao narrador (Rodrigo S.M.) e um plano com referência à Macabéa, oscilando no foco narrativo e fundantes da complexidade estrutural constitutiva da fragmentação da narrativa. Esse estilo de narrativa marca a diferença entre formas tradicionais e formas modernas de narrar, denunciando a posição do sujeito na modernidade. Para isso, utilizaremos os seguintes métodos de abordagem: a análise sociológica da literatura, com trabalhos de Benjamiin e Adorno; a análise da linguagem discursiva fundamentata em leituras de Bakhtin e Benveniste; e estudos da área da psicanálise, com trabalhos de Freud, Lacan, Mário Eduardo Costa Pereira e Maria Rita Khel.  

IDENTIDADES: UMA VISÃO COMPARATISTA DE PRIMAVERA CON UNA ESQUINA ROTA DE MARIO BENEDETTI E LA CANCIÓN DE NOSOTROS DE EDUARDO GALEANO

Autora: Neiva Maria Graziadei FERNANDES
Orientadora: Rosani Ursula Ketzer UMBACH

Este trabalho apresenta uma análise literária comparatista sobre o processo de fragmentação da identidade dentro do contexto repressivo latino-americano. Procurou-se ressaltar o modo como essa fragmentação ocorre em sujeitos que estão submetidos à uma ação autoritária, bem como as mudanças identitárias pelas quais este sujeito passa em situações de extrema violência, como a tortura e o exílio. Nesses termos, observa-se que as personagens de Benedetti de Galeano encontram-se em constantes processos identitários, deparando-se a todo o momento com a alteridade, a permanência de si e a desordem do eu como sujeito social. O eixo norteador desse estudo, sob o enfoque da identidade, do poder e do exílio, será a identidade vista sobre duas variáveis: a que caracteriza a identidade como fonte de significado e como processo de auto-construção e a que se entende como identidade social. O suporte teórico a ser utilizado fundamenta-se em três áreas do saber, quais sejam: a Literatura Comparada, a Psicanálise e a Sociologia. O trabalho está dividido em 5 capítulos, tratando respectivamente de: revisão de literatura (A Literatura Comparada; O mal-estar na civilização; Identidades; O poder autoritário); da análise e discussão das obras (Primavera con una esquina rota e La canción de nosotros); das considerações finais da autora sobre seu trabalho.

REPRESENTAÇÃO DA MULHER EM CONTEXTO REPRESSOR NA FICÇÃO DE LUIZ A. A. BRASIL: ESTUDO DE UMA PERSONAGEM

Autora: Erudita Zachow STRUNCK
Orientador: Jaime GINZBURG

A presente dissertação tem por objetivo apresentar uma leitura do processo de construção da personagem Camila, da novela Manhã Transfigurada, de Luiz Antonio de Assis Brasil. Essa leitura tem a finalidade de discutir a representação ficcional da participação feminina no processo de formação social do Rio Grande do Sul, no período enfocado na novela. O processo de construção dessa personagem aponta para uma releitura da obra de Luiz Antonio de Assis Brasil. A mulher, enquanto elemento reprimido e discriminado de uma sociedade dominada por homens, contrapõe-se aos princípios morais de conduta e bons princípios propostos para caracterização por parte das lideranças sociais do perfil atribuído à mulher como aceitável e decente.    

SÃO BERNARDO: ESTUDO DA PERSONAGEM PAULO HONÓRIO

Autora: Jovana Bertoldo BARICHELLO
Orientador: Jaime GINZBURG

Este trabalho apresenta uma análise da personagem Paulo Honório da obra São Bernardo, de Graciliano Ramos, enfocando não só o seu papel na narrativa como narrador, mas também como personagem. A obra em destaque problematiza o homem do período de trinta, considerando a presença da ditadura militar, cujas incertezas são traduzidas na angústia da personagem. A narrativa apresenta o drama de Paulo Honório diante da decadência não só de sua fazenda, como também sua decadência como indivíduo que, aos cinqüenta anos, passa a procurar a compreensão do seu passado e, contrastando civilização e barbárie, escreve uma obra em que narra sua vida. Como hipóteses do trabalho, foram consideradas pelo menos duas, as quais justificariam a escrita da narrativa: a morte de Madalena e a tentativa de humanização almejada pela personagem. O trabalho está dividido em nove capítulos tratando respectivamente de:  considerações gerais, no qual a obra de Ramos é retomada num todo; comentários gerais, em que se trata especificamente de São Bernardo; retoma-se no capítulo três as obras de Ramos confrontando Angústia, Memórias do Cárcere e Infância; o narrador e o seu papel na narrativa São Bernardo; a personagem Paulo Honório e seus conflitos; o tempo no qual a narrativa está inserida; o espaço e sua importância no texto em análise; a organização do enredo; a abordagem da violência como componente da personalidade de Paulo Honório e, finalmente, considerações sobre a literatura dos anos trinta, contrastando a obra O louco do Cati, de Dyonélio Machado e a obra São Bernardo.  

COM LICENÇA (POÉTICA): A OBRA DE RENATO RUSSO NO CONTEXTO DA INDÚSTRIA CULTURAL - A REPRESENTAÇÃO DO SISTEMA AUTORITÁRIO BRASILEIRO

Autora: Juliana Beatriz KLEIN
Orientadora: Rosani U. K. UMBACH

O presente trabalho pretende ser uma contribuição a uma área de  representação artística que vem recebendo atenção por parte de profissionais ligados à literatura. Estamos nos referindo à canção popular. Ainda que a música possa ser entendida como um objeto além da mídia, ou seja, que transcende preconceitos relativamente à Indústria Cultural, encontramos no caminho de construção dessa dissertação inúmeras dificuldades, principalmente no sentido da aceitação da música como objeto merecedor de atenção e com qualidades específicas. Nossa intenção, assim, constitui-se em estabelecer as diferenças entre a "música de massa" entendida como aquela que se destina ao entretenimento - e a música de qualidade, meio de representação da sociedade na qual é produzida. O objetivo do trabalho é demonstrar a importância de Renato Russo como autor da sociedade a que pertence bem como, a partir da análise interpretativa de uma parte de sua produção poética, demonstrar empiricamente a presença de denúncias dos mecanismos de repressão que a sociedade brasileira apresenta. A qualidade estética dos texto de Renato Russo, já de antemão perceptível, será ressaltada justamente com base nas análises e isso nos permitirá demonstrar, além da preocupação com o social apresentada pelo autor, também a sua preocupação formal, o que o torna, nesses termos, digno de reconhecimento.