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LITERATURA SOB O JUGO TOTALITÁRIO.
CONSIDERAÇÕES SOBRE A OBRA »LAS CASAS VOR KARL V.«,
DE REINHOLD SCHNEIDER

Elcio Loureiro Cornelsen


Os doze anos de duração do Terceiro Reich produziram no mundo literário de língua alemã feridas que não foram cicatrizadas, geradas pelas mais diversas formas de ressentimento. O debate deflagrado em 1945 entre Thomas Mann, expoente da »Literatura de Exílio« [1] , e representantes da »Emigração Interior«, como Frank Tieß e Walter von Molo, tornou patente o abismo entre aqueles autores que deixaram a Alemanha em 1933 não apenas por serem contrários ao regime de Hitler, como também pelo risco que corriam, caso permanecessem no país, e aqueles que, apesar de não pactuarem com o nazismo, optaram por permanecer na Alemanha sob o risco de perderem sua própria identidade.

Enquanto Thomas Mann criticou o fato de que o regime nazista não fora vencido internamente, Tieß e Molo se colocaram na posição de »vítimas« de um Estado totalitário que, segundo palavras de Molo endereçadas a Mann, »aos poucos se tornou um grande campo de concentração, no qual existiam cada vez mais vigilantes e vigiados de diversos graus.« [2] Dando seqüência ao acirrado debate, Thomas Mann publicou uma »Carta Aberta à Alemanha«, na qual deixou claro não só sua aversão à literatura produzida a serviço do Terceiro Reich, mas também a toda obra publicada na Alemanha entre 1933 e 1945, inclusive às contribuições dos escritores da »Emigração Interior«:  

[
...] Podem achar que é superstição, mas, no meu modo de ver, os livros que, em geral, puderam ser impressos na Alemanha de 1933 a 1945 são algo sem valor e não são dignos de ser manuseados. Um odor de sangue e vergonha os impregna. Eles deveriam ser todos triturados...
[3] (T. do A.)

Não obstante a crítica de Mann, que sugere uma espécie de »queima de livros« (Bücherverbrennung) [4] às avessas, cremos que uma análise atenta das condições de produção literária e de estratégias de criação adotadas pelos representantes da »Emigração Interior« nos possibilita uma avaliação mais precisa da relação entre produção literária e totalitarismo durante o período nazista.

 

A »Emigração Interior« e a política cultural nazista

A expressão Innere Emigration (»Emigração Interior«) foi criada por Frank Thieß em 1933 como definição para o comportamento de escritores que permaneceram na Alemanha durante o período nazista e que optaram, por assim dizer, por uma emigração »intelectual«, como Werner Bergengruen, Reinhold Schneider, Jochen Klepper, Ernst Wiechert, Ricarda Huch, Elisabeth Langgässer, entre outros. Isto só foi possível por se tratar de autores que no passado não haviam criticado o nacional-socialismo, e cujas obras não haviam sido destruídas pelo »auto-de-fé« em maio de 1933. O conceito em si implica um retraimento ante o mundo político-cultural, marcado pela falta de liberdade e pelas mais diversas formas de intimidação e terror. O refúgio na criação poética dava ao escritor a certeza de poder preservar os elementos de sua própria identidade e de sua postura ético-moral diante do nazismo.

O perfil dos emigrantes interiores como grupo social difuso pode ser definido por uma característica fundamental: o conservadorismo. Enquanto intelectuais de esquerda optaram ou por deixar a Alemanha ou por desenvolverem atividades culturais clandestinas (distribuição de obras proibidas, confecção e distribuição de panfletos, etc.), os emigrantes interiores, em sua maioria, evitavam o confronto direto com o regime. Por isso, tiveram de adequar o seu modo de escrever
à realidade totalitária imposta pelo Estado no âmbito cultural, caso quisessem ter o direito de escrever e publicar suas obras, sem necessariamente terem de incentivar o regime nazista.


Os mecanismos de repressão e de censura no cenário cultural foram estabelecidos, sobretudo, no período de fevereiro a novembro de 1933. Além das medidas políticas gerais tomadas pelos nazistas, como a suspensão dos direitos democráticos fundamentais, o estabelecimento de um Estado de partido único e a perseguição física aos opositores políticos, o cenário cultural alemão foi atingido também pelas seguintes medidas específicas: a tomada do poder na »Academia Prussiana das Artes« (Preußische Akademie der Künste); a queima de livros em 10 de maio de 1933; a elaboração de »listas negras« para livrarias e bibliotecas; os »Decretos de Emergência« (Notverordnungen) que tornavam a imprensa um instrumento do Estado e culminaram com a proibição de alguns jornais. Com a criação da »Câmara de Cultura do Reich« (Reichskulturkammer) em novembro de 1933, todos os grupos e indivíduos ativos no cenário cultural alemão foram fichados. Sem a filiação à Câmara estava vetado o exercício de qualquer atividade cultural. Com o auxílio de outras organizações do Estado, a »Câmara de Cultura do Reich« garantiu ao seu principal responsável, o ministro da propaganda Joseph Goebbels, um controle total da vida cultural alemã. Construiu-se um amplo aparelho de controle que abrangia tanto a distribuição como a produção artística e literária. Entretanto, a multiplicidade de instâncias de censura e de vigilância, que muitas vezes interferiam umas nas outras, levou a resultados contraditórios na avaliação de determinada obra. Um exemplo típico é o romance Das einfache Leben (»A vida simples«), de Ernst Wiechert. Apesar de ter sido reprovado em um parecer da Comissão Oficial de Revisão do Partido, o romance atingiu entre 1939 e 1942 uma tiragem de mais de duzentos e cinqüenta mil exemplares. Porém, tais contradições nem sempre aconteciam. Quem queria publicar uma obra no Terceiro Reich, mesmo se opondo ao regime, teve de adequar à realidade da política de censura a sua maneira de escrever, os meios de expressão empregados e as formas como as críticas deveriam ser veiculadas.

Portanto, os emigrantes interiores, como todo autor que pretende escrever e publicar uma obra crítica ao regime político em um Estado autoritário ou totalitário, precisaram desenvolver uma estratégia fundamental que os permitia, de um lado, burlar a censura e, de outro, fazer chegar ao leitor sua intenção crítica: o disfarce
[5] . O disfarce da intenção crítica por meio da linguagem literária exige um poder de decodificação por parte do leitor. Mas tal decodificação só se torna possível se o texto, em sua origem, contiver elementos que conduzam o leitor necessariamente à decodificação. Isso parece contraditório, pois, se o texto marca aquilo o que deve ser decodificado, como é que as marcas não são percebidas pelo censor? No caso específico da »Emigração Interior«, seus representantes se valeram da »camuflagem histórica« (historische Camouflage) [6] , ou seja, a camuflagem das verdadeiras intenções literárias por meio de um determinado tema histórico que deveria suscitar paralelos com o cotidiano do Terceiro Reich, possibilitando a crítica do presente através de uma postura crítica em relação ao passado. Não é de se admirar que tenham surgido tantos romances históricos após 1933. Os romances históricos de autores da »Emigração Interior« puderam passar sem problemas pela censura, na medida em que, ao mesmo tempo, um grande número de romances históricos nacional-socialistas também era publicado. Entretanto, a diferença entre os romances históricos de escritores simpatizantes com o regime e os romances históricos da »Emigração Interior« é evidente: enquanto os primeiros retratavam o passado histórico como um processo inevitável e necessário que antecede o presente do nacional-socialismo, os últimos colocavam a crítica social no centro da intenção narrativa.

Os exemplos mais significativos de camuflagem histórica na literatura da »Emigração Interior« são as obras Der Großtyrann und das Gericht (1935), de Werner Bergengruen, e Las Casas vor Karl V. (1938), de Reinhold Schneider. As obras concebidas segundo o princípio da camuflagem histórica tinham de contar, de um lado, com a capacidade do leitor de captar a mensagem transmitida nas entrelinhas e, de outro, necessitavam do sentido duplo ou mesmo plural para poderem burlar as instâncias de controle do Estado e, com isso, serem publicadas. Para tanto, os órgãos de censura precisavam ser ludibriados de modo a tomar o fato historicamente representado como o próprio objeto em questão. Ao mesmo tempo, contava-se com uma outra »leitura« – por parte do leitor – por meio de indicações claras do duplo sentido da obra, para que o leitor não permanecesse apenas no nível do plano histórico, sem transporta-lo para a realidade cotidiana do Terceiro Reich. No intuito de desprestigiar o nazismo, os emigrantes interiores davam preferência a acontecimentos históricos que, por seu caráter político, tinham levado à emancipação democrática e revolucionária, ou tinham demonstrado em tempos passados fenômenos devastadores como o do presente. O próprio objeto de crítica se torna, de maneira indireta, o nacional-socialismo.

No caráter antifascista dos emigrantes interiores, predominavam as posições histórico-filosóficas segundo as tradições do pensamento conservador que, diante da realidade do nacional-socialismo, não ofereciam outra coisa além de uma espiritualidade supra-temporal. Na verdade, o irracionalismo histórico-filosófico contido nessa postura antifascista não tinha forças para opor-se ao irracionalismo ideológico do nacional-socialismo. Entretanto, não se deve duvidar do antifascismo subjetivo da »Emigração Interior«, e nem tampouco dos esforços individuais de escritores, jornalistas e artistas contra a tirania do regime nazista. O editor Peter Suhrkamp, por exemplo, sofreu represálias que culminaram com sua detenção. Em 1938, o escritor Ernst Wiechert foi preso no campo de concentração de Buchenwald por ter defendido o pastor Martin Niemöller, um dos líderes da »Igreja Confissionária« (Bekennende Kirche), instituição evangélica que se opunha ao regime. Além disso, durante a guerra, Reinhold Schneider, Werner Bergengruen e Rudolf Hagelstange difundiram seus versos ilegalmente, não obstante os perigos a que se expunham.


Um exemplo da literatura da »Emigração Interior«: Las Casas vor Karl V., de Reinhold Schneider
escritor e historiador Reinhold Schneider (1903-1958) foi talvez o principal nome da »Emigração Interior«. Sua postura ideológica era orientada por um humanismo católico e elitista, revelado na crença da ação individual através de preceitos ético-morais. Schneider expressava seu poder de criação literária por meio de temas e personagens históricos. Ao transpor um fato histórico para a literatura de ficção, apontava o indivíduo como instância indissosciável do processo histórico. A confrontação entre fé e descrença, consciência e poder, Estado e Igreja, o conflito entre o bem e o mal e a mensagem cristã que sempre apela à consciência são os principais temas tratados nos seus contos, dramas e ensaios. Em suas obras, a tradição cristã católica se une à visão da problemática política e intelectual de seu tempo.

Sob a influência do filósofo existencialista espanhol Miguel de Unamuno (1864-1936), Schneider empreendeu duas longas viagens a Portugal e à Espanha, onde concebeu suas duas primeiras obras históricas mais significativas, Das Leiden des Camões (1930) e Philipp II. (1931) [7] . Após a publicação do ensaio Macht und Gnade (1940), rapidamente esgotado, as medidas de censura contra Schneider se intensificaram, e ele foi oficialmente proibido de escrever. Seus ensaios religiosos e seus sonetos passaram a ser impressos e distribuídos ilegalmente, sobretudo por membros da Igreja. Participou da resistência católica e, pouco antes do final da guerra, foi acusado de alta traição. A partir de sua postura cristã humanista, Schneider sempre reprovou o nacional-socialismo. Entre suas principais obras estão os escritos históricos Portugal (1931), Theresia von Spanien (1939), Macht und Gnade (1940), Weltreich und Gottesreich (1946), e as novelas Las Casas vor Karl V. (1938), Die dunkle Nacht (1943) e Die gerettete Krone (1948) [8] .

A experiência no desenvolvimento de estudos históricos desde o final da década de 20 fez com que Reinhold Schneider estivesse, por assim dizer, melhor »equipado« para trabalhar com a técnica de camuflagem histórica como possibilidade de crítica ao regime nazista. Um estudo mais profundo de sua obra-prima, a novela Las Casas vor Karl V. Szenen aus der KonquistadorenzeitLas Casas diante de Carlos V. Cenas do Tempo dos Conquistadores«), publicada em 1938, demonstra com que maestria seu autor parte de um tema e de personagens históricos para construir uma obra que coloca em questão os fatos do presente na Alemanha nazista. Schneider escolheu intencionalmente o tema da conquista da América e das conseqüências devastadoras da política espanhola para os índios, pois, sem dúvida, seria possível criar uma obra de protesto, mesmo que velado, contra os desmandos e, em especial, a política racial do nacional-socialismo. Schneider reconheceu que o tema era apropriado ao tempo presente e convenceu-se da possibilidade de se expressar contra a perseguição dos judeus num momento crucial. As chamadas »Leis de Nuremberg« (Nürnberger Gesetze), leis raciais promulgadas em setembro de 1935, que determinaram juridicamente a discriminação contra judeus alemães, estavam em pleno vigor. No dia 9 de novembro de 1938, ano em que a obra Las Casas vor Karl V. foi publicada, ocorreu a »Noite dos Cristais« (no jargão nazista, Kristallnacht), um pogrom instrumentalizado pelo Estado contra a população judia, como uma espécie de represália pelo assassinato de Ernst vom Rath, secretário de legação na embaixada alemã em Paris, cometido pelo judeu polonês Herschel Grynzpan [9] . Naquela noite, cujo nome foi motivado pela quebra das vitrines, estabelecimentos comerciais foram depredados e saqueados, sinagogas foram incendiadas e cemitérios, profanados, além de inúmeras prisões e de vários assassinatos. Partindo de sua visão cristã, Schneider procura se valer da história para demonstrar que fatos deploráveis como aqueles vivenciados desde janeiro de 1933 na Alemanha poderiam ser inseridos em um questinamento maior: a responsabilidade do indivíduo perante os desmandos do Estado. Em uma carta escrita no ano de 1948, Schneider fez a seguinte revelação:

 

O tema ofereceu-me a possibilidade de um questionamento fundamental sobre a cisão entre homem e Estado e a tarefa do homem cristão nesse conflito. [10] (T. do A.)

 

A crítica de Reinhold Schneider pode ser interpretada no contexto da encíclica do Papa Pio XI, de 14 de março de 1937, intitulada »Com preocupação aguda« (Mit brennender Sorge) [11] , que foi secretamente difundida nas igrejas católicas durante a celebração das missas, tornando-se assim um ato de resistência. A crítica recaia principalmente sobre a teoria e a prática da doutrina racial nacional-socialista, totalmente oposta às concepções da Igreja católica e aos fundamentos cristãos.            

Las Casas vor Karl V
. é um dos textos mais importantes da resistência literária, produzidos no Terceiro Reich. Estruturada em quatro capítulos, a novela se inicia com o embarque do monge dominicano Bartolomé de Las Casas em Veracruz rumo à Espanha, onde pretende convencer Carlos V, Rei de Castela e Aragão e Imperador dos Estados alemães, a uma mudança fundamental na política colonial. O leitor toma conhecimento dos pressupostos históricos e das situações atuais nas Índias Ocidentais através de recordações e de confissões de um companheiro de viagem de Las Casas, Bernardino de Lares, ao qual é dedicada a maior parte dos dois primeiros capítulos, passados em alto-mar e na cidade de Valladolid. O flash back em torno da vida do conquistador regresso, alquebrado física e espiritualmente, exemplifica aquilo o que Las Casas combate, ou seja, a colonização violenta das Índias pelos conquistadores espanhóis, totalmente contraditória à sua incumbência missionária. Verbos como erbeuten (capturar), ausrauben (despojar), plündern (saquear), peinigen (torturar, flagelar) e ermorden (assassinar) emprestam aos capítulos iniciais a dimensão do poder destruidor da política colonial espanhola.

O ponto alto do livro é a grande disputatio – fato histórico ocorrido em 1542 –, que mais parece ser a audiência de um processo em que o sacerdote assume a posição de defensor do direito natural dos índios contra o defensor do direito público, Juan Ginés de Sepúlveda.
O próprio Las Casas é acusado por Sepúlveda de ter, no passado, explorado os índios, e de ter vivido como um homem de posses que desfrutava da política colonial, sem nela ver qualquer contradição. Las Casas não nega as afirmações de Sepúlveda, mas demonstra que ele próprio havia se transformado, quando abrira os olhos para a violência e os desmandos cometidos pelos espanhóis nas Novas Índias, no momento em que foi despertado para as premissas fundamentais do comportamento cristão, como Barmherzigkeit (misericórdia, caridade) [12] e Nächstenliebe (amor ao próximo) [13] . Ao mesmo tempo, Las Casas luta pela salvação dos culpados, que continuarão se embrutecendo e sucumbirão em meio à própria injustiça, enquanto estiver em vigor uma política discriminatória por parte da coroa espanhola. O monge acusa os conquistadores espanhóis de desprezo pelos direitos humanos e leva o rei a reconhecer sua responsabilidade direta na política colonial. No quarto e último capítulo, atormentado por sua consciência, após dias de reflexão, o rei decide promulgar »Leis Novas« (Leyes Nuevas, 1542) que determinam a observação dos direitos iguais dos índios e que deveriam por fim à escravatura e aos maltratos impostos às populações indígenas da América hispânica. Ao final, Las Casas recebe do rei a difícil missão de propagar as leis e, em conseqüência, é elevado a bispo de Chiapas (México).

Em suas anotações que geraram a obra Las Casas vor Karl V., Reinhold Schneider fez o seguinte apontamento: »A consciência da Europa: Las Casas«
[14] . Certamente, Schneider via nesse personagem histórico, chamado de »Pai dos Indios«, um significado paradigmatico. O Frei Bartolomé de Las Casas (1474-1566), teólogo, missionário e historiador espanhol, seguiu em 1502 para Santo Domingo, onde foi ordenado padre em 1510. Em 1513, foi enviado à recém conquistada Cuba, quando começou a defender os índios contra os desmandos da política colonial, fundada no sistema de encomienda, e a lutar pela catequização pacífica e humana dentro do processo de conquista. Em 1523, ordenou-se dominicano. Através de sua influência sobre Carlos V, Las Casas obteve do rei a promulgação das Leyes Nuevas de 1542, em que eram declarados ilegais o sistema de apresamento e a escravização de índios, e que garantiam a integridade e a dignidade dos povos indígenas e de suas culturas. Em 1543, como bispo de Chiapas (México), Las Casas fracassou na execução das leis sob a influência de seus inimigos entre os conquistadores. Insandecidos pelo poder, os conquistadores deixaram de lado a fé e a moral. Não estavam preparados para uma nova visão de mundo que a descoberta da América lhes impunha. Em 1547, foi forçado a regressar à Espanha e, a partir de 1551, tornou-se conselheiro na corte e continuou defendendo os direitos dos índios. Os pensamentos éticos e políticos de Las Casas eram avançados para seu tempo. Suas concepções de liberdade individual e de relativismo cultural e étnico encontravam oposição por parte daqueles que ainda se prendiam a concepções arcaicas de Estado.            

Além do protagonista, Schneider apresenta em sua obra outros dois personagens históricos: Sepúlveda e Carlos V. O humanista espanhol Juan Ginés de Sepúlveda (1489-1573), após ter vivido seis anos na corte do Papa como tradutor de Aristóteles, assumiu em 1529 a função de cronista e editor político a serviço de Carlos V, que o nomeou educador de seu filho, o príncipe Filipe. Sepúlveda foi de fato o principal oponente de Las Casas nos conselhos sobre a legislação colonial espanhola.

Schneider também foi fiel na caracterização do principal representante do poder do Estado espanhol, o imperador alemão Carlos V (1500-1558), filho de Felipe, o Formoso, que, por herança, sucedeu ao avô, o Rei Fernando II, no trono de Aragão e Castela em 1516. O período de reinado de Carlos V foi marcado por muitas guerras, tanto de legitimação de poder diante da França, quanto guerras religiosas contra os turcos na Áustria e contra os mouros no norte da África. Também foi nesse período que a Espanha conquistou novos espaços na América – em 1521, o México, em 1533, o Peru, quando foi fundado o Reino Colonial Espanhol Ultramarino.            

Entre os personagens principais, apenas o fidalgo Bernardino de Lares é uma invenção livre de Schneider, uma espécie de duplo de Las Casas, que, atormentado pela consciência, vive em conflito consigo mesmo por ter participado das atrocidades cometidas pelos conquistadores. O seu amor pela jovem índia Lucaya, também uma personagem fictícia, o despertou para uma nova postura. Aliás, a consciência perpassa toda a ação como uma espécie de leitmotiv. Schneider transfere essa visão da consciência dos escritos históricos de Las Casas para a sua obra. Em suas anotações, Schneider fez o seguinte apontamento:

 

Sua própria consciência [i.e., de Las Casas], como a consciência dos reis, dos conquistadores e dos que possuiam terras e escravos, desempenha um papel importante em todos os tratados e declarações. [15] (T. do A.)

 

Reinhold Schneider reconheceu no episódio histórico em torno da negociação e da promulgação das »Leis Novas« um marco na história européia e latino-americana que poderia servir de paradigma para o presente. Tanto o personagem histórico Las Casas como o personagem fictício Bernardino de Lares ocupam no texto de Schneider uma função exemplar. Inicialmente, ambos estavam indiferentes diante dos métodos de exploração empregados pela coroa espanhola nas colônias ultramarinas. Porém, ao demonstrarem que passaram por um processo que lhes abriu os olhos – pelo amor à índia Lucaya, no caso de Bernardino de Lares, e pela fé fundada em princípios originalmente cristãos, no caso do monge dominicano –, suas trajetórias devem servir de paradigma para aqueles que ainda não se deram conta do verdadeiro caráter do regime nazista, ou que ainda não foram levados a refletir sobre a sua responsabilidade individual e, portanto, ética, mesmo que indireta, em relação ao abuso de poder, à militarização da sociedade alemã e ao racismo propagado e praticado oficialmente pelo Estado. De forma exemplar, Schneider fez com que Bernardino de Lares, por exemplo, ao dar testemunho das palavras de Las Casas, não apelasse diante do rei para a sua condição de militar que »apenas« cumprira ordens sob o comando de superiores:

 

»[...] Pelos meus atos, poderia recorrer ao direito militar e encontraria credibilidade. Mas o que devo fazer quando no lugar do juiz terreno surge o anjo com a espada? [...]« [16] (T. do A.)

 

De modo diametralmente oposto, o capitão Vargas, testemunha apresentada por Sepúlveda para tentar legitimar a sua visão da política colonial espanhola, iniciou seu depoimento com a seguinte frase lapidar, típica daqueles que transferem a responsabilidade de seus atos individuais à hierarquia e à obediência perante uma estrutura organizada segundo postos e funções a serem desempenhadas: »Sou apenas um soldado« [17] . A diferença está na consciência atormentada de Bernardino de Lares, que lhe impele ao arrependimento.            

Quase às portas da Segunda Guerra Mundial, num momento em que a militarização alemã já havia quebrado todas as cláusulas dos Tratados de Versalhes e de Locarno e não era mais nenhum segredo encoberto pela propaganda de uma Alemanha »amante da paz«, como ocorrera durante os XI. Jogos Olímpicos de Berlim, em 1936, Schneider reconhecia o potencial de destruição à sua volta. Temia as conseqüências nefastas que adviriam da política nazista, caso não fosse posto um fim no regime de Hitler. As palavras de alerta de Las Casas/Schneider, no ano de 1938, soam hoje como uma profecia do ímpeto devastador que varrerá a Europa nos próximos cinco anos e que marcará profundamente a Alemanha do pós-guerra:

 

»[...] »é verdade que o juízo recairá sobre essa terra! Pois quem falha na missão suprema incorre na mais pesada culpa. [...] e quando os homens se levantarem dos escombros e acusarem o Senhor e perguntarem por que Ele trouxe essa desgraça sobre a terra, irei me levantar do túmulo e testemunharei a favor da justiça de Deus. [...] deveriam ter carregado sobre seus ombros o Senhor Santo através do mar, mas ao invés disso carregaram satã. Por isso, Deus faz justiça se destruir a reputação dessa terra. Para os enormes crimes tem lugar, então, o enorme castigo.« [18] (T. do A.)

 

Não obstante a relação de conteúdo que ambos os episódios suscitam – de um lado, na Espanha e na América Latina do século XVI e, de outro, na Alemanha entre 1933 e 1938 – Reinhold Schneider introduziu algumas marcas em seu texto, que indubitavelmente despertam no leitor a necessidade de estabelecer uma ponte entre o passado e o presente. A presença de tais marcas pode ser constatada pela análise do vocabulário empregado pelo autor. Existem, por exemplo, cinco termos comumente veiculados pelo discurso nazista que aparecem no texto de Schneider:

 

Kamerad (»companheiro«)
Ordnung
(»ordem«)
Rasse (»raça«)
Vaterland
(»pátria«)
Volk (»povo«)

 

Quando falamos aqui de »leitor«, pensamos no leitor alemão durante o período nazista. Pois a marcação do texto por meio discursivo é praticada por Schneider em função dele. É ele que, sem dúvida, tem de estranhar diante do termo Kamerad, que se repete nove vezes ao longo da obra [19] , e que é empregado por Bernardino de Lares ao se referir a seus »companheiros« que, junto com ele, participaram de incursões militares contra índios nas Antilhas, no intuito de lhes subtraírem pérolas e objetos de ouro. O termo Kamerad foi incorporado ao alemão a partir do termo francês camerade (camarada, companheiro) no século XVI, que, por sua vez, remonta ao termo espanhol camarada [20] . No século XIX, tornou-se próprio do jargão militar no contexto das guerras de libertação contra o exército napoleônico. Sobretudo a canção marcial Ich hatt’ einen Kameraden (»Eu tinha um companheiro«), cujo texto de 1809 é do poeta romântico alemão Ludwig Uhland, e que foi musicado por Friedrich Silcher em 1825 [21] , passou, a partir de então, a ser uma das canções preferidas dos soldados. Seu texto fala da morte heróica do companheiro anônimo que cumpre o mesmo ritual de obedecer ao rufo do tambor e ir ao ataque. Ao lado da canção marcial Die Wacht am Rhein (»A Guarda do Reno«), de Max Schneckenburger [22] , ícone musical das várias guerras entre a França e a Alemanha ao longo dos séculos XIX e XX, a canção Ich hatt’ einen Kameraden também encontrou sua continuidade na tradição militar e nacionalista, em que se situam as raízes do nacional-socialismo. O apelo à Kameradschaft (companheirismo, camaradagem) durante o nazismo está associado à estruturação organicista e hierárquica da sociedade alemã cada vez mais militarizada, em que o indivíduo se funde a uma massa de Kameraden em prol de uma vontade única, imposta pelo Estado.            

Outro termo recorrente no texto de Schneider é Ordnung, que aparece quinze vezes [23] . O termo alemão Ordnung remonta ao velho-alto-alemão ordinunga e ao médio-alto-alemão ordenunge, proveniente do latim ordo, disposição, ordem ou alinhamento [24] . Desde a Revolução Alemã de 1848, quando as aspirações democráticas e constitucionais foram sufocadas pelos regimentos prussianos no intuito de restabelecer a »ordem« da Confederação Germânica em sua forma antiga, Ordnung tornou-se instrumento de poder imposto por repressão violenta contra tudo o que colocava em perigo a instância que detinha tal poder. Além disso, a idéia de »ordem« como norma que garantia a unidade soberana, de um lado, se fundiu à concepção moderna de Estado nacional e, de outro, ganhou força como oponente à idéia de caos que crescia no bojo da industrialização. Ordnung também passou a ser uma das principais, senão a principal palavra de ordem veiculada pela direita política alemã. Basta olharmos os cartazes de campanha política nas primeiras décadas do século XX na Alemanha para termos uma idéia de como Ordnung se tornou lugar comum no discurso político de direita. O nazismo também se apropriou dele, sem altera-lo em essência, mas apresentando-o como a estrutura das relações sociais a partir da divisão da sociedade em inúmeras organizações instrumentalizadas por um Estado de partido único, o NSDAP – Nationalsozialistische Deutsche Arbeiter-Partei. Não é coincidência que Schneider empregue o termo quase sempre como parte integrante da argumentação de representantes do status quo. O que mais apela para a »ordem« através do emprego da força é justamente o personagem Sepúlveda, seguido do Cardeal Loaysa de Sevilha, presidente do Conselho das Índias, e simpatizante com a política colonial nos moldes defendidos por Sepúlveda.

Divergindo de seus opositores, Las Casas procura chamar a atenção para uma outra concepção de »ordem« sobrenatural, misericordiosa, que emana de Deus e que está acima da »ordem« terrena, propagada por Sepúlveda. Para isso, o monge dominicano refere-se ao direito natural (Naturrecht),
considerado um reflexo da criação divina na consciência humana, que só pode adquirir sua força dentro da ordem cristã, e aponta os efeitos limitados do direito público (Staatsrecht) [25] , que, em primeiro lugar, visa à garantia da ordem jurídica fundamental do Estado. Por fim, Las Casas lança o desafio da observação dos direitos humanos em geral e da igualdade de direitos dos índios.

O próximo termo a ser tratado se destaca não pela incidência com que surge na novela Las Casa vor Kal V., mas pelo significado que tem dentro do discurso nazista: Rasse. Em alemão, o conceito de Rasse (raça) surgiu no século XVII a partir da palavra francesa race que, por sua vez, originou-se do termo italiano razza, cuja origem é imprecisa. Trata-se de um termo da biologia que, grosso modo, designa uma categoria sistemática que expressa a totalidade de elementos pertencentes a uma dada espécie. O conceito de Rasse passou a ser empregado no discurso político a partir das últimas décadas do século XIX através da influência dos teóricos racialistas Arthur Graf von Gobineau, Alfred Ploetz, Houston Stewart Chamberlain e Alfred Rosenberg [26] , que tiveram grande influência sobre a ideologia racial nacional-socialista, que pregava a supervalorização da chamada »raça nórdica« ou »ariana« (die nordische/arische Rasse) [27] .

No texto de Schneider, Rasse aparece apenas uma vez, e na forma do plural. Porém, esse termo surge no ponto alto da disputa entre Las Casas e Sepúlveda diante de Carlos V. O defensor do direito público acusa o sacerdote de ter discriminado os negros quando propôs a substituição dos índios por escravos negros nos trabalhos mais pesados. Em sua argumentação estão presentes as idéias do mundo antigo, em que se acreditava no direito dos povos mais desenvolvidos e mais aptos sobre os bárbaros:

 

»[…] Ele [i.e., Las Casas] o fez abertamente quando aconselhou o embarque de negros para as Novas Índias e o seu emprego como trabalhadores nas minas e no campo, ao invés dos índios. [...] E, com isso, ele admitiu perante o mundo todo que para raças superiores vale um outro direito que para inferiores. Como superior ele deve ter considerado os índios, e como inferior, os negros. É impossível que ele não se tenha dado conta de que os negros não se dirigiram às naus dos comerciantes portugueses, genoveses e holandeses por livre e espontânea vontade, que eles, no mesmo sentido, seriam livres como os índios deveriam ser segundo sua opinião, se não houvesse um povo racialmente superior e mais desenvolvido – e este somos apenas nós espanhóis – que, para a fé do mundo, detivesse um poder sobre povos inferiores, como já ensinavam Aristóteles e Platão.« [28] (grifos meus) (T. do A.)

 

Indo além, Schneider insere na argumentação de Sepúlveda o termo Rasse, anacrônico para a Espanha do século XVI, e marcadamente presente no cotidiano do nazismo. A expressão ein höher geartetes Volk, traduzido por mim como »um povo racialmente superior«, traz no termo geartet (gerado), particípio do verbo arten (gerar), o radical art (do médio-alto-alemão, origem, índole, qualidade inata) [29] , que serviu de sufixo na formação de alguns termos do jargão nazista, como os adjetivos artfremd (impróprio da raça, exótico) e artverwandt (correspondente da raça), empregados pelos nacional-socialistas na redação de leis raciais e, portanto, discriminatórias, que caracterizavam os seres humanos como höherwertig (de valor superior) ou minderwertig (de valor inferior) [30] . O fato de Rasse e Art praticamente funcionarem como sinônimos no discurso nazista resulta da polissemia do termo Art, que na biologia significa »espécie«. No momento em que o discurso darwinista foi transportado para o âmbito sociológico, tornando-se o que chamamos de »darwinismo social«, Art assumiu então o sentido de Rasse.  Podemos supor que Schneider optou por empregar os adjetivos höher (superior, mais elevado), minder (inferior), geringer (inferior) e tiefer (inferior, mais profundo), na forma do comparativo, ao invés dos termos explicitamente nazistas, para assim não chamar a atenção do censor para a crítica à postura de Sepúlveda e, indiretamente, ao nazismo.

Como notamos na última citação, Sepúlveda procura justificar a imposição violenta da política de ordem pelo Estado, atribuindo a Las Casas o »racismo« que ele próprio defende.
A substituição de mão-de-obra escrava do índio por mão-de-obra escrava do homem negro foi realmente proposta pelo verdadeiro Bartolomé de Las Casas que, juntamente com outros dois clérigos, a registrou no Memorial de Quatorze Remédios (1516). Seguindo a fonte história, Schneider enfraquece o argumento de Sepúlveda através da própria confissão de Las Casas de ter sido autor de tal proposta, que, no entanto, não teria sido feita por questões »raciais«, como queria o teórico de direito, mas por questões humanitárias:

 

»[…] aconselhei que trouxessem negros para as Índias Ocidentais e que os empregassem no lugar dos índios. Acreditava que os negros suportariam mais que os índios, os quais via morrer em todas as ruas, e queria por fim a um sofrimento maior por meio de um menor. Mas foi erro e culpa, e eu, aqui presente, a admito solenemente e declaro que é contra todo direito e contra a fé, e que, na mais alta medida, é digno de condenação que negros sejam capturados na costa da Guiné como caças, metidos em navios, comercializados nas Índias, e que lá sejam tratados da forma como acontece diariamente e a cada instante. Tenho culpa nisso, pois eu, tolo, cedi a meu coração ao invés de aconselhar o que era justo. Mas também o ouro exerceu poder sobre mim em minha juventude. Sou um espanhol e sou vencido por tentações, às quais meu povo se submete, e eu luto contra essas tentações para mostrar a meu povo que eu as posso superar.« [31] (T. do A.)

 

 A exemplo de Rasse, o termo Vaterland (pátria) é empregado em Las Casas vor Karl V. por aqueles que não querem reconhecer os direitos dos índios [32] . Vaterland se originou do médio-alto-alemão vaterlant [pátria (Heimat), céu (Himmel)], e seu primeiro registro data do século XII, transportada do latim patria, terra natal ou país de origem [33] . No contexto das guerras contra Napoleão, esse conceito também passou por uma transformação, sendo impregnado, a partir de então, de um sentido nacionalista. Aliás, a canção marcial Die Wacht am Rhein (»A Guarda do Reno«), mencionada anteriormente, foi um dos instrumentos mais eficazes na popularização do conceito de Vaterland dentro da tradição nacionalista do século XIX, em que Vaterland aparece contextualizado com idéias de sacrifício heróico, ordem, hierarquia e disciplina. Pode-se notar que Schneider quer marcar as falas de Sepúlveda e do Cardeal Loaysa de Sevilha com tal caráter nacionalista, enquanto o discurso oposto, ou seja, de Las Casas, é marcadamente universalista.            

Por fim, o termo mais empregado por Schneider é Volk (povo), numa incidência total de 71 vezes, aparecendo tanto no singular como no plural
[34] . O termo Volk (povo, pessoal, bando de guerreiros) se originou do termo germânico antigo volc, no inglês folk, e no sueco folk. Trata-se de um conceito plural que, originalmente, era empregado para designar a tripulação de um navio ou o conjunto de integrantes de uma divisão militar. Ao longo do tempo, sofreu alterações de significado, passando, antes de tudo, a designar os integrantes de uma sociedade, pensada em uma unidade ideal que, por exemplo, pode se fundar na origem, na história, na cultura e na língua comuns, e até mesmo adquirir um caráter especificamente étnico [35] . O termo Volk foi tão empregado no Terceiro Reich que perdeu sua definição racional e objetiva, tornando-se elemento de fácil apropriação para a ideologia nazista, fundada no irracionalismo. No jargão nazista, temos a formação de inúmeras palavras compostas a partir de Volk, como, por exemplo, Volksgemeinschaft (comunidade popular), um dos conceitos fundamentais da doutrina nacional-socialista, com o qual se definia a idéia de unidade social fundada na unidade histórica, cultural e consanguínea do povo alemão [36] .            

O próprio eixo histórico que funciona como fio condutor da obra possibilita a Schneider contrapor a esses termos comuns do jargão nazista outros dois termos centrais que trabalham para a valoração positiva do protagonista: Wahrheit (verdade)
[37] , pela qual Las Casas clama, e Unrecht (injustiça) [38] , praticada com o assentimento legal do Estado e denunciada pelo sacerdote e por Bernardino de Lares. Ao final da novela, a vitória não comemorada por Las Casas, ciente de que não seria nada fácil pôr em prática as novas leis promulgadas por Carlos V, é, ao mesmo tempo, a vitória da verdade sobre a injustiça. Aliás, a defesa do »direito natural« (Naturrecht) e a denúncia da »injustiça« (Unrecht) figuram no texto da encíclica Mit brennender Sorge [39] , o que demonstra a afinidade do texto de Schneider com a crítica incisiva de Pio XI ao nazismo, numa postura diametralmente oposta àquela de seu sucessor, o Papa Pio XII.            

Um último aspecto relevante no processo de marcação discursiva surge na cena final da novela, em que Las Casas está prestes a embarcar rumo às Índias Ocidentais. Caminhando pela praia, o sacerdote atinge uma ponta de terra em que se encontra

 

[...] uma pilha de pedras coroadas com uma imponente cruz de madeira, cujos braços largos pareciam de fato abençoar ou advertir as naus que partiam e as que voltavam para casa. [...] [40] (grifo meu) (T. do A.)

 

Além dessa passagem, o termo Holzkreuz (cruz de madeira) aparece mais duas vezes no texto de Schneider [41] , aliás, ambas em situação de morte: na primeira vez, Bernardino de Lares dá uma cruz de madeira à índia Lucaya, pouco antes de sua morte; na segunda, Bernardino de Lares pede ao padre Las Casas que lhe passe a mesma cruz de madeira que estava pendurada na parede de seu quarto, antes de falecer. No entanto, o emprego do termo Holzkreuz (cruz de madeira) não é tão comum em alemão, mas sim a expressão Kreuz aus Holz (cruz de madeira). Esse ícone erigido por Schneider ao final da novela, a cruz de madeira imponente, a Holzkreuz, deve ser o indicador não apenas das naus, mas dos homens, dos homens no Terceiro Reich, cujo meio está dominado por um outro tipo de simbologia, e por um símbolo em especial: a Hakenkreuz (cruz suástica).

Considerações Finais

Partir da reflexão sobre o contexto de emergência de Las Casas vor Karl V. e sobre seu produtor, constatamos que Reinhold Schneider se vale da camuflagem literária para, de um lado, burlar a censura e, de outro, criticar o regime. Além da camuflagem histórica, a marcação do texto no nível discursivo por meio de termos que pertencem não ao passado da América hispânica e da Espanha nas primeiras décadas do período colonial, mas ao presente do Terceiro Reich deve auxiliar o leitor a associar ambos os períodos e, com isso, a decifrar a crítica disfarçada por ambas as estratégias de criação adotadas por Schneider.            

A análise do contexto de emergência e o conhecimento a respeito do próprio autor nos possibilitam deduzir que o público-alvo que Schneider tinha em mente ao conceber sua obra-prima era, em primeira instância, o público cristão católico. Sua ligação com a Igreja católica funcionou como uma espécie de refúgio diante do mundo »pagão« nacional-socialista. O próprio Las Casas vê como sua maior missão »o combate do paganismo entre os cristãos« [42] . Com isso, Schneider expressa literariamente aquilo para o qual a encíclica papal Mit brennender Sorge chamara a atenção em 1937: O nazismo era o »novo paganismo« (Neuheidentum) [43] a ser combatido. No entanto, Schneider não poupa nem mesmo a Igreja, pois a simpatia demonstrada pelo presidente do Conselho das Índias, o Cardeal Loaysa de Sevilha, em relação à tese de Sepúlveda de que uma política colonial mais branda levaria a Espanha à destruição e, com ela, parte da cristandade, alude àqueles clérigos que, de alguma forma, pactuaram com o regime ou no mínimo se abstiveram de combate-lo [44] . Por fim, todas essas considerações acerca de Las Casas vor Karl V., como exemplo de produção literária de resistência em um regime totalitário, demonstram que a crítica de Thomas Mann, apresentada no início do presente artigo, deve ser, no mínimo, repensada.

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[1] Thomas Mann foi um dos escritores exilados que mais se empenhou em divulgar mensagens de alerta ao povo alemão, sobretudo com a deflagração da guerra; cf. MANN, Thomas Deutsche Hörer! Radiosendungen nach Deutschland aus den Jahren 1940 bis 1945, Frankfurt a.M.: Fischer, 1987 e Essays, vol. 4: »Achtung, Europa! Essays 1933-1938« e vol. 5: »Deutschland und die Deutschen 1938-1945«, Frankfurt a.M.: Fischer, 1995/1996.
[2] [...] in dem allmählich gewordenen großen Konzentrationslager, in dem es bald nur mehr Bewachende und Bewachte verschiedener Grade gab.; MOLO, Walter von, Münchner Zeitung, de 13.8.1945. In: HAY, Gerhard (et alli) (Orgs.) »Als der Krieg zu Ende war«. Ausstellungskatalog des Schiller-Nationalmuseums, München: Kösel, 1974, p.264-265, aqui p.264.
[3] [...] Es mag Aberglaube sein, aber in meinen Augen sind Bücher, die von 1933 bis 1945 in Deutschland überhaupt gedruckt werden konnten, weniger als wertlos und nicht gut, in die Hand zu nehmen. Ein Geruch von Blut und Schande haftet ihnen an. Sie sollten alle eingestampft werden...; MANN, Thomas: »Offener Brief für Deutschland«. In: Augsburger Anzeige, de 12.10.1945. Apud ibid., p.266-267, aqui p.267.
[4] No dia 10 de maio de 1933, realizou-se em diversos centros universitários a queima pública de livros, os quais foram difamados pelos nazistas como obras da »Imoralidade e Corrompimento« (Unmoral und Zersetzung). Personalidades, como Einstein, Freud, Trotzki, Thomas e Heinrich Mann, Alfred Döblin, Kurt Tucholsky e Anna Seghers tiveram seus livros queimados em cerimônias públicas, realizadas como parte da encenação do poder; cf. KAMMER, Hilde/BARTSCH, Elisabet Nationalsozialismus. Begriffe aus der Zeit der Gewaltherrschaft 1933-1945, Reinbek bei Hamburg: Rowohlt, 1992, p.41 e sg.
[5] Sobre o emprego do disfarce da intenção crítica na lírica do século XX na Alemanha nazista (1933-1945), na RDA (1961-1980), no Brasil (1968-1974) e no Chile (1973-1983), ver MÖLLER-ZEIDLER, Sabine: »Literatur und Autoritarismus. Die zensierte Sprache in der Lyrik«. In: CZIESLA, Wolfgang/ENGELHARDT, Michael von (Orgs.) Vergleichende Literaturbetrachtungen: 11 Beiträge zu Lateinamerika und dem deutschsprachigen Europa, München: Iudicium-Verlag, 1995, p.219-243, aqui p.220.
[6] SCHNELL, Ralf: »Innere Emigration und kulturelle Dissidenz«. In: LÖWENTAHL, Richard/MÜHLEN, Patrik von zur (Orgs.) Widerstand und Verweigerung in Deutschland 1933 bis 1945, Bonn: Dietz, 1990, p.211-225, aqui p.216.
[7] »O Sofrimento de Camões« (1930) e »Felipe II« (1931).
[8] »Portugal« (1931), »Teresa de Espanha« (1939), »Poder e Graça« (1940), »Império Universal e Reino de Deus« (1946),»Las Casas diante de Carlos V« (1938), »A noite escura« (1943) e »A coroa salva« (1948).
[9] Cf. KAMMER, Hilde/BARTSCH, Elisabet, op. cit., p.109 e sg. e 145 e sg.
[10] Der Stoff bot die Möglichkeit einer grundsätzlichen Auseinandersetzung über den Zwiespalt zwischen Mensch und Staat und die Aufgabe des Christen in einem solchen Konflikt.; apud LANDAU, Edwin Maria: »Das Gewissen des Abendlandes. Las Casas« [Posfácio]. In: SCHNEIDER, Reinhold Las Casas vor Karl V. Szenen aus der Konquistadorenzeit, Frankfurt a.M.: Suhrkamp, 1990, p.147-156, aqui p.148.
[11] Cf. HÜRTEN, Heinz: »Katholische Kirche und Widerstand«. In: STEINBACH, Peter/TUCHEL, Johannes (Orgs.) Widerstand gegen den Nationalsozialismus, Berlin: Landeszentrale für politische Bildungsarbeit, 1994, p.182-192, aqui p.185.
[12] Cf. SCHNEIDER, Reinhold, op. cit., p.53, 61, 121.
[13] Cf. ibid., p.65.
[14] Das Gewissen des Abendlandes: Las Casas; apud ibid., p.147.
[15] Sein eigenes Gewissen wie das Gewissen der Könige, der Konquistadoren und Land- und Sklavenbesitzer spielt eine bedeutende Rolle in allen Traktaten und Äußerungen.; apud ibid., p.150.
[16] »[...] denn ich könnte mich für meine Taten auf Kriegsrecht berufen und fände Glauben. Aber was soll ich tun, wenn an des irdischen Richters Stelle der Engel mit dem Schwerte tritt? [...]«; SCHNEIDER, Reinhold, op. cit., p.120.
[17] »Ich bin nur ein Soldat«; ibid., p.115.
[18] »[...] »ist es wahr, daß das Gericht kommen wird über dieses Land! Denn wer den größten Auftrag verfehlt, der verfällt auch der schwersten Schuld. [...] und wenn die Menschen sich aufrichten aus den Trümmern und den Herrn anklagen und fragen, warum er dieses Unheil über das Land gebracht habe, so werde ich mich erheben aus dem Grabe und für Gottes Gerechtigkeit zeugen. [...] sie hätten dem Heiligen gleich den Herrn durch das Meer tragen sollen auf ihren Schultern und haben statt seiner den Satan getragen. Darum tut Gott recht, wenn er dieses Landes Ansehen vernichtet. Für ungeheure Verbrechen erfolgt nun die ungeheure Strafe.«; ibid., p.125.
[19] Ibid., p.17, 20, 24, 35, 38, 39 e 76.
[20] Cf. DROSDOWSKI, Günther (et alli) (Orgs.) Dunden. Das Herkunftswörterbuch. Etymologie der deutschen Sprache, Bd.7, Mannheim/Leipzig/Wien/Zürich, Dudenverlag, 1997, p.323.
[21] Cf. DIEKMANN, Anne/GOHL, Willi (Orgs.) Das große Liederbuch, Zürich: Diogenes, 1975, p.197.
[22] Cf. GAST, Wolfgang (Org.) Politische Lyrik. Deutsche Zeitgedichte des 19. und 20. Jahrhunderts, Stuttgart: Reclam, 1973, p.9 e sg.
[23] Cf. SCHNEIDER, Reinhold, op. cit., p.20, 16, 46, 53, 87, 88, 89, 93, 94, 102, 123, 124.
[24] Cf. DROSDOWSKI, Günther (et alli), op. cit., p.502.
[25] Cf. SCHNEIDER, Reinhold, op. cit., p.101.
[26] Cf. BENZ, Wolfgang (Org.) Legenden, Lügen, Vorurteile. Ein Wörterbuch zur Zeitgeschichte, 6a. ed., München: dtv, 1992, p.167.
[27] Cf. DROSDOWSKI, Günther (et alli), op. cit., p.573.
[28] »[...] Denn das hat er offenbar getan, als er riet, Neger nach den Neuen Indien zu verfrachten und sie statt der Índios als Arbeiter in den Bergwerken und auf dem Feld zu gebrauchen. [...] und er hat damit vor aller Welt zugegeben, daß für höhere Rassen ein anders Recht gelte als für mindere; als höher muß er die Indios betrachtet haben und als geringer die Neger. Unmöglich kann er doch übersehen haben, daß die Neger sich nicht freiwillig auf die Schiffe der portugiesischen, genuesischen und holländischen Händler begeben; daß sie in demselben Sinne frei wären, wie es die Indios nach seiner Meinung sein sollen, wenn eben nicht ein höher geartetes und höher entwickeltes Volk – und das sind wir Spanier allein – zum Frommen der Welt ein Recht inne hätte über tiefer stehende Völker, wie das schon Aristoteles und Plato gelehrt haben.«; SCHNEIDER, Reinhold, op. cit., p.101.
[29] Cf. DROSDOWSKI, Günther (et alli), op. cit., p.46.
[30] cf. KAMMER, Hilde/BARTSCH, Elisabet, op. cit., p.20 e sg.
[31] »[...] geraten habe, Neger nach Westindien zu bringen und sie an der Stelle der Indios arbeiten zu lassen. […] Ich glaubte, die Neger ertrügen mehr als die Indios, die ich an allen Straßen sterben sah, und wollte durch ein geringeres Leiden ein größeres aufhalten. Aber es war Irrtum und Schuld, und ich schwöre sie hiermit feierlich ab und erkläre, daß es wider alles Recht und wider den Glauben, daß es im höchsten Maße verdammungswürdig ist, die Neger an der Küste Guineas wie Wild einzufangen, sie in die Schiffe zu pferchen, in Indien zu verhandeln und dort so mit ihnen umzughen, wie es täglich und stündlich geschieht. Ich habe schuld daran, weil ich Narr meinem Herzen nachgegeben habe statt anzuraten, was Recht ist. Aber auch das Gold hat Gewalt über mich gehabt in meiner Jugend; ich bin ein Spanier und bin den Versuchungen erlegen, denen mein Volk unterworfen ist, und ich kämpfe mit diesen Versuchungen um, soweit es in meinen Kräften steht, meinem Volke zu zeigen, wie ich sie überwinden kann.«; SCHNEIDER, Reinhold, op. cit., p.104.
[32] O termo Vaterland aparece três vezes no texto de Schneider; cf. ibid., p.87, 101, 115.
[33] Cf. DROSDOWSKI, Günther (et alli), op. cit., p.777.
[34] Cf. SCHNEIDER, Reinhold, op. cit., p.11, 23, 24, 25, 26, 34, 43, 44, 53, 54, 55, 64, 65, 68, 69, 73, 79, 88, 90, 91, 92, 93, 94, 95, 101, 102, 104, 107, 108, 109, 110, 111, 112, 113, 117, 118, 119, 121, 122, 123, 124, 126, 127, 130, 136.
[35] Cf. DROSDOWSKI, Günther (et alli), op. cit., p.793.
[36] Cf. KAMMER, Hilde/BARTSCH, Elisabet, op. cit., p.222 e sg.
[37] O termo Wahrheit aparece 21 vezes no texto; cf. SCHNEIDER, Reinhold, op. cit., p.18, 57, 79, 88, 90, 110, 111, 114, 115, 117, 119.
[38] O termo Unrecht aparece 25 vezes no texto; cf. ibid., p.14, 19, 33, 88, 90, 105, 106, 107, 108, 109, 110, 120, 122, 136, 137, 139, 140.
[39] Cf. KLEMPERER, Klemens von: »Naturrecht und der deutsche Widerstand gegen den Nationalsozialismus«. In: STEINBACH, Peter/TUCHEL, Johannes, op. cit., p.43-53.
[40] [...] Steine aufgeschicht und mit einem gewaltigen Holzkreuz bekrönt worden, dessen breite Arme bestimmt schienen, die ausfahrenden oder heimkehrenden Schiffe zu segnen odern zu ermahnen. [...]; ibid., p.145.
[41] Cf. SCHNEIDER, Reinhold, op. cit., p.74, 132 e 145.
[42] […] das Heidentum in den Christen zu bekämpfen […]; ibid., p.49.
[43] HÜRTEN, Heinz, op. cit., p.185.
[44] Cf. CORNWELL, John O Papa de Hitler. A história secreta de Pio XII, 2a. ed., Rio de Janeiro: Imago, 2000. [Título original: Hitler’s Pope – The secret History of Pius XII, trad. de A. B. Pinheiro de Lemos]

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