O “Vagabundos do Infinito” é um grupo de
pesquisa em teatro, formado em 2005, que vem pesquisando a relação da
preparação xamânica com a preparação do ator. O xamanismo é abordado pelo grupo
a partir de uma perspectiva mitificada e desmistificada, ou seja, não se atém
às diversas formas culturais, religiosas ou para-religiosas e rituais do
xamanismo, nas culturas onde ele se manifesta, mas sim aos princípios que regem
suas práticas e à idéia de “viver o mito”. Sob essa ótica, o mito é entendido
como um processo de aprendizagem exemplar a ser vivenciado.
O
grupo produziu até o momento seis espetáculos, sendo quatro solos e dois
coletivos. As peças-solo se justificam em função de cada ator desenvolver uma
pesquisa pessoal associada à pesquisa comum do grupo. Como não poderia deixar
de ser, o treinamento não se dá apenas no campo teatral, os atores trabalham no
seu cotidiano, sobre seus hábitos, suas memórias e até dormindo, já que os
sonhos lúcidos são um dos campos relevantes na pesquisa.
Uma
das principais fontes nos estudos do grupo sobre o xamanismo são
as obras de
Carlos Castaneda e suas companheiras de feitiçaria Taisha Abelar
e Florinda
Donner-Grau. Embora para os que pouco conhecem a obra de Castaneda o
autor
esteja de modo geral associado ao que ele chama de “plantas de
poder”, ou seja,
plantas que podem produzir efeitos alucinógenos, essa é
uma faceta com a qual o
grupo “Vagabundos do Infinito” não trabalha.
Interessam ao grupo as práticas
dos “passes mágicos”, da
“recapitulação” e do “sonhar” por
exemplo, expostas em
suas obras.
No
campo teatral, os interesses do grupo passam por Artaud, Grotowski, Barba,
Schechner entre outros. Há, em todo caso, a busca por um processo pessoal a
partir dos estudos e treinamentos coletivos. Em ambos os campos, teatral e
xamânico, as atenções do grupo voltam-se para as fontes de algumas das culturas
ditas orientais, não com o objetivo de apropriação cultural, mas sim de
perceber os princípios e trabalhar a partir deles. Ainda que se tenham diversas
referências, nada é tomado como falso ou verdadeiro a priori, a abordagem é
empírica, experimental e a escolha dos princípios a serem desenvolvidos e a
reflexão sobre os mesmos são feitas a partir desse processo vivencial.
As
peças-solos produzidas pelo grupo são: “Temos todas a mesma história”, “A super
mãe porra louca”, “Horla” e “Através do espelho”; as duas primeiras baseadas em
textos de Dario Fo e Franca Rame, a terceira em textos de Guy de Maupassant e a
última em textos de Lewis Carrol e Clarice Lispector.
As
peças coletivas produzidas são: “Noites em claro”, baseada em histórias em
quadrinhos de terror e suspense publicadas nos anos 70, de diversos autores e
“Vida acordada” uma colagem com textos de “Waking Life”, desenho animado de R.
Linklater; de “Aquela coisa toda” do grupo “Asdrubal Trouxe o Trombone”; além
de textos do “Vagabundos do Infinito”.
A
direção geral do grupo e da pesquisa está a cargo de Paulo Márcio, diretor e
ator carioca, radicado no Rio Grande do Sul, e que há alguns anos vem se
dedicando ao ensino de teatro no Curso de Artes Cênicas da Universidade Federal
de Santa Maria. Os atores são: Angélica Ertel, Gabriela Amado, Graciane Pires,
Leonel Henckes, Márcia Chiamulera, Marco Barreto e Tiago Teles. Na iluminação o
grupo tem contado com a participação de Vinícius Canto Blanco.