Site do Grupo de Pesquisa Literatura e Autoritarismo  |  Índice de Revistas  |  Normas para Publicação
Literatura e Autoritarismo
Dossiê Imagem e Memória
Capa | Editorial | Sumário | Apresentação        ISSN 1679-849X Dossiê nº 06 

ESCRITAS ESQUECIDAS: SOBRE QUATRO-OLHOS, DE RENATO POMPEU, E UM LEMBRETE DE KANT

Tiago Lanna Pissolati*
Resumo: Os rastros da memória têm acompanhado o traço da escrita desde suas primeiras manifestações. No entanto, esse mesmo traço é carregado de uma outra força que pode fragmentá-lo, cercá-lo de lacunas ou mesmo levá-lo às margens do impossível: o esquecimento. Não se trata do lado avesso da memória, do seu oposto ou contraparte, mas de algo que, justamente por dotar a memória de vazios, torna-a possível. Na literatura, há escritas carregadas pela força da memória – como os diários, testemunhos, ficções memorialistas e relatos diversos. Cabe perguntar, por outro lado, de que forma se manifestaria uma escrita impulsionada pelo esquecimento. Uma escrita que, impedida de acessar o passado, surge das ausências, dos vazios, dos abismos da memória. Escrita que surge, portanto, da impossibilidade de lembrar. A fim de buscar uma resposta a essa questão, recorremos a duas manifestações dessas escritas do esquecimento: uma anotação que o filósofo Immanuel Kant fez para si mesmo, com o objetivo de lembrar-se de esquecer um criado estimado, e o romance Quatro-olhos, de Renato Pompeu, escrito no período mais mordaz da ditadura militar brasileira.
Palavras-chave: memória, esquecimento, origem, ditadura militar.
Abstract: The traces of memory have been printed along with the lines of writing since the first texts. However, that same line is also moved by another force that may fragment it, build blanks around it or even take it to the edges of impossible: forgetting. We don’t refer to the other side of memory, its opposing form or counterpart, but to something that, in filling memory with empty spaces, makes it possible. In literature, there are texts moved mostly by the forces of memory – such as diaries and testimonies. We should ask, on the other hand, what forms texts moved by forgetting could take. Texts which, incapable of assessing the past, come from absences, empty spaces, abysses of memory. Thus, texts that come from the impossibility of remembrance. In order to search for answers for this question, we will recur to two manifestations of this writing of forgetting: a note that Immanuel Kant wrote to himself to remind him of forgetting a former butler, and the novel Quatro-olhos, by Renato Pompeu, written during the harshest times of Brazilian military dictatorship.
Keywords: memory, forgetting, origins, Brazilian military dictatorship

* Mestrando em Estudos Literários pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Bolsista CAPES. E-mail: tiagopissolati@gmail.com
© 2008 - All rights reserved - Web Developer by Odirlei Vianei Uavniczak