Site do Grupo de Pesquisa Literatura e Autoritarismo  |  Índice de Revistas  |  Normas para Publicação
Literatura e Autoritarismo
Espaço urbano e experiências de desolação e violência
Capa | Editorial | Sumário | Apresentação        ISSN 1679-849X Revista nº 19 

BELAZARTE E ELLIS, SEU CRIADO PESSOAL:
representação da relação entre classes em meio à modernização conservadora paulistana no conto “Túmulo, túmulo, túmulo”, de Mário de Andrade

Wilson José Flores Jr.1
Resumo: A representação da periferia de São Paulo nos anos 1920 e, sobretudo, das relações entre as classes sociais na incipiente metrópole é um aspecto central de Os contos de Belazarte, de Mário de Andrade. Nas narrativas, encontra-se a mesma fatalidade dos contos de fada, mas pelo avesso: ao invés de destinados à felicidade, à recompensa e ao restabelecimento da ordem e da justiça, em Belazarte as personagens estão como que fadadas à infelicidade, ao sofrimento e à injustiça. Vista a partir da periferia de São Paulo, a compensação moral desaparece e nenhum conforto é oferecido àquele que sofre. O narrador aponta a injustiça, reconhece-a, incomoda-se com ela, mas, ao mesmo tempo, culpa as personagens, expressando uma consciência problemática e contraditória que oscila entre reconhecer as personagens como vítimas, culpadas ou o que seja. O resultado dessa oscilação é um discurso constitutivamente ambivalente e irônico, às vezes sádico, que se compadece no mesmo movimento em que vê o sofrimento como inexorável, senão como merecido.
Palavras-chave: Literatura, Mário de Andrade, periferia, São Paulo, ambivalência.
Abstract: The representation of the Sao Paulo outskirts in 1920’s is a central aspect of Os contos de Belazarte, written by Mário de Andrade. The same fate of fairy tales is found in the narratives, but in reverse: instead of destined to happiness, to reward and to restore order and justice, in Belazarte the characters appear to be destined to unhappiness, suffering and injustice. Seen from the São Paulo outskirts, the moral compensation disappears and no comfort is offered to the suffering and the downtrodden. The narrator points out the injustice, recognize it, bother with it, but at the same time, blame the characters, expressing a problematic and contradictory consciousness that oscillates between recognizing the characters as victims, guilty or whatever. The result of this oscillation is a speech constitutively ambivalent and ironic, sometimes sadistic, who has compassion on the same movement that sees suffering as inevitable or, worst, as deserved.
Keywords: Literature, Mário de Andrade, outskirts, São Paulo, ambivalence.

1 Doutorando em Teoria Literária da UFRJ. Bolsista CNPq. E-mail: wfloresjr@ufrj.br
© 2008 - All rights reserved - Web Developer by Odirlei Vianei Uavniczak