IDEOLOGIA,
VIOLÊNCIA E PATRIARCALISMO: A CONDIÇÃO FEMININA EM UM CONTO
DE CLARICE LISPECTOR
Lizandro
Carlos Calegari [1]
No
Brasil, as primeiras discussões mais consistentes acerca da
questão da mulher datam de 1960. É nesse período que ocorrem
modificações no código civil, o que coincidiria com o fim do
controle legal do marido nas decisões da família. Com isso,
as mulheres, teoricamente, deixariam de ser inferiores dentro
do casamento e passariam a assumir cargos e a exercer profissões
sem a permissão prévia do companheiro. Ainda nesse particular,
elas lutaram contra a discriminação quando na procura de um
emprego. Assim, aquele momento foi marcado por calorosos debates;
no entanto, as condições para a consolidação de projetos eram
dificultadas pelas circunstâncias políticas. Afora isso, a Ditadura
Militar que culminou naquela época foi um acontecimento importante
para que tais desejos de emancipação não tivessem o alcance
desejado. Não obstante esses fatos, a partir da referida década,
a mulher passou a ser objeto de estudo na sociologia, na psicanálise,
na história e na antropologia.
Não
somente essas áreas do conhecimento voltaram a sua atenção para
a figura feminina, o modo de representação da mulher na literatura
bem como a sua relação com a crítica e o público leitor também
passaram a assumir lugar de destaque. Assim, o trabalho de crítica
feminista, essencialmente voltado para a desconstrução do caráter
gendrado dos discursos de e sobre a representação e para a procura
da definição de uma identidade feminina, tem-se realizado por
meio de duas vertentes: a de linha francesa e a de linha anglo-americana.
No primeiro caso, tem-se a influência da desconstrução de Derrida
e da psicanálise de Lacan, trabalhando no sentido de identificar
uma possível subjetividade feminina e enfatizando os vínculos
que aproximam o estatuto do sujeito (autor/leitor) à formação
das subjetividades e à produção da escrita. No segundo, dá-se
privilégio à contextualização político-pragmática e enfatizam-se
questões ligadas à formação do cânone, às ideologias de gênero,
à legitimidade das práticas interpretativas acadêmicas e às
implicações das experiências culturais e intersubjetivas de
leitoras e/ou de autoras nos discursos de representação.
Dentro desse esquema, cabe destacar que a trajetória da literatura
de autoria feminina no Brasil obedece às seguintes fases: a
fase feminina (1859-1944), a fase feminista (1944-1990) e a
fase fêmea (1990-atual). No primeiro momento, têm-se a imitação
e a internalização dos valores e dos padrões patriarcais vigentes.
Estão, aí, as obras de Maria Firmina dos Reis, Júlia Lopes de
Almeida, Carolina Nabuco e Ana Luísa de Azevedo Castro. No segundo,
observa-se o protesto contra tais valores e padrões em defesa
dos direitos e dos valores das minorias. Nesse rol, enquadram-se
os escritos de Clarice Lispector, Lya Luft, Helena Parente Cunha
e Nélida Piñon. Por fim, na última fase referida, tem-se a autodescoberta
e a busca de identidade própria. São representativas, nesse
caso, a própria Piñon e Lya Luft, fazendo parte, ainda, desse
quadro, textos de Adélia Prado, Patrícia Melo e Zulmira Ribeiro
Tavares, só para citar os principais nomes.
O
objetivo desse estudo consiste em averiguar como as mulheres
se comportam em relação às normas existentes na sociedade em
que vivem, considerando-se, particularmente, o contexto político,
histórico, cultural e patriarcal em que elas estão inseridas.
Tece-se a presente análise crítica a partir do conto Amor
do livro Laços de família, de Clarice Lispector, cuja
primeira edição data de 1960. Não obstante tal delimitação,
são feitas referências a outros textos da aludida obra e escritora
com o intuito de dar maior consistência à interpretação realizada.
Pelas observações atrás definidas, os contos do livro em apreciação
estão de acordo com a segunda fase da literatura de autoria
feminina no Brasil, o que significa, então, que eles se propõem
a uma ruptura com os padrões vigentes. Isso, no entanto, não
quer dizer que as personagens femininas de Lispector alcançam
uma autonomia; agora, elas começam a refletir sobre o feminino
e a sua situação numa sociedade machista marcada pela dominação
e pela opressão. Em outros termos: a obra clariceana estrutura-se
em torno das relações de gênero, fazendo emergir as diferenças
sociais cristalizadas entre sexos, as quais cerceiam quaisquer
possibilidades de a mulher atingir sua plenitude existencial.
Ademais,
classificá-la como feminista não implica, entretanto, que as
suas obras empreendam uma defesa panfletária dos direitos das
mulheres. Significa que tais obras trazem críticas contundentes
aos valores patriarcais, desmascarando a repressão feminina
nas práticas sociais, numa espécie de conseqüência do processo
de conscientização desencadeado pelo feminismo. Na coletânea
de contos Laços de família, Lispector questiona o modelo
patriarcal em que a mulher fica reduzida, mas nem por isso o
seu valor estético é contestável. Assim, a sua obra seria engajada.
Em
Amor, a personagem central, Ana, enquadra-se no destino
de mulher, ou seja, vive confinada no ambiente doméstico. Depois
de uma juventude intensa cumprindo fielmente com o seu papel
de mulher, isto é, em relação às normas existentes na sociedade
regida pela ordem falocrática, ela reconhece que, em verdade,
é vítima de um processo ideológico que a torna submissa e secundária
em relação aos homens. O conto inicia apresentando as circunstâncias
a que ela se enquadra diariamente:
“Um
pouco cansada, com as compras deformando o novo saco de tricô.
Ana subiu no bonde. Depositou o volume no colo e o bonde começou
a andar. Recostou-se então no banco procurando conforto, num
suspiro de meia satisfação.
Os
filhos de Ana eram bons, uma coisa verdadeira e sumarenta. (...)
A cozinha era enfim espaçosa, o fogão enguiçado dava estouros.
O calor era forte no apartamento que estavam aos poucos pagando.
Mas o vento batendo nas cortinas que ela mesma cortara lembrava-lhe
que se quisesse podia parar e enxugar a testa, olhando o calmo
horizonte. Como um lavrador. Ela plantara as sementes que tinha
na mão, não outras, mas essas apenas. E cresciam árvores. Crescia
a sua rápida conversa com o cobrador de luz, crescia a água
enchendo o tanque, cresciam seus filhos, crescia a mesa com
comidas, o marido chegando com os jornais e sorrindo de fome,
o canto importuno das empregadas do edifício. Ana dava a tudo,
tranqüilamente, sua mão pequena e forte, sua corrente de vida”.
(p. 19)
Nessa
passagem, observa-se que Ana age repetindo os papéis impostos
às mulheres pela sociedade patriarcal. Assim, cabe a ela fazer
as compras, cuidar dos filhos, dos afazeres domésticos e mesmo
do marido. Em outros termos, ela é uma dona de casa, mas nem
por isso tal profissão constitui-se numa possibilidade libertadora.
O seu comportamento em relação às normas existentes é de aceitação.
Esse universo na qual ela se insere resguarda certa harmonia,
justamente por ela cumprir satisfatoriamente com os deveres
que lhe competem como mulher. Tudo isso faz com que ela se sinta
em conformidade com os preceitos ideológicos que subjazem a
relação homem-mulher. Portanto, a mesmice é ideologicamente
inculcada nas mulheres e, por isso mesmo, elas não questionariam
a ordem social imposta. O fato de Ana preencher aqueles requisitos
de uma boa mãe e de uma boa esposa são condições suficientes
para a sua própria recompensa. Tanto isso é verdade que, nesse
fragmento, ela é comparada a um lavrador. Tal comparação
é importante conquanto fica assinalada a igualdade de valores
que se estabelece entre as atividades ditas dos homens e as
tarefas ditas das mulheres, mas nem por isso essas últimas são
reconhecidas como sujeitos que desempenham funções essenciais
e imprescindíveis na sociedade.
Às
mulheres, ainda, não são conferidas possibilidades para que
reflitam sobre a sua situação de marginalização. Não lhes são
conferidos esclarecimentos acerca de suas condições de exclusão
e exploração, e isso não é por caso: existe um componente estratégico
de manipulação ideológica que as impossibilita de erguer qualquer
questionamento que vai na contramão da proposta falocêntrica.
Como decorrência disso, elas desconhecem a sua própria história,
ou seja, a sua ancestralidade. Não só isso: elas se desconhecem
a si próprias a ponto de se rejeitarem ou mesmo de desencadearem
uma relação de poder autoritária. No trecho transcrito, é feita
uma referência às empregadas que habitam o mesmo edifício
de Ana. As empregadas seriam, pois, duplamente submissas: pela
sua condição sexual feminina e por serem comandadas por outras
mulheres. Com isso, as mulheres seriam exploradoras e opressoras
de outras mulheres, o que enfatizaria o preconceito contra o
gênero.
Em
Laços de família, há um conto que chama a atenção para
essa particularidade: A menor mulher do mundo. Nele,
as mulheres demonstram uma atitude de rejeição ou de bizarra
ternura por Pequena Flor, a menor mulher do mundo, membro de
uma sociedade primitiva. Ela mora numa árvore e é caçada como
se caça um animal: com redes. Ela cozinha; o homem, caça. Ao
se coçar diante de um explorador “onde uma pessoa não se coça”
(p. 70), ela deixa explícito que desconhece as normas de civilização.
É essa mulher de 45 centímetros, que mora no topo de uma árvore,
que será vista, num jornal de domingo, pelas mulheres urbanas
e civilizadas que residem em apartamentos. De qualquer modo,
são dois tipos de mulher, uma primitiva e outra civilizada,
que vivem numa mesma época, mas é como se vivessem separadas
há séculos. O texto problematiza, então, a desunião entre seres
femininos, o que alimentaria o poder patriarcal.
O
conto Amor refere-se, ainda, não de modo claro e direto,
à questão do casamento. O matrimônio seria uma armadilha do
patriarcalismo, pois, além de exigir, legalmente, que as mulheres
dêem continuidade ao sobrenome do marido, determina que elas
tenham filhos. Essa última condição obriga à mulher a se confinar
no ambiente doméstico, sem, muitas vezes, ter possibilidades
de assumir uma profissão que lhe assegure uma certa independência
em relação ao homem:
“Sua precaução
reduzia-se a tomar cuidado na hora perigosa da tarde, quando
a casa estava vazia sem precisar mais dela, o sol alto, cada
membro da família distribuído nas suas funções. Olhando os móveis
limpos, seu coração se apertava um pouco em espanto – ela o
abafava com a mesma habilidade que as lides em casa lhe haviam
transmitido. Saía então para fazer compras ou levar objetos
para consertar, cuidando do lar e da família à revelia deles.
Quando voltasse era o fim da tarde e as crianças vindas do colégio
exigiam-na. Assim chegaria a noite, com sua tranqüila vibração.
De manhã acordaria aureolada pelos calmos deveres. Encontrava
os móveis empoeirados e sujos, como se voltassem arrependidos.
Quanto a ela mesma, fazia obscuramente parte das raízes negras
e suaves do mundo. E alimentava anonimamente a vida. Estava
bom assim. Assim ela o quisera e escolhera”. (p. 20-21)
Essa
passagem cristaliza a imagem de mulher que aceita os papéis
impostos pela sociedade patriarcal. Em verdade, não seria uma
questão de escolha ou de aceitação, mas uma internalização inconsciente
daquelas marcas que definem o perfil da mulher que a sociedade
aceita e exige ter. Nesse particular, Ana está de acordo com
aquelas normas convencionais gerais que, a propósito, a fazem
repetir o destino de mulher: ela limpa e prepara a casa para
o marido e os filhos. O cumprimento de tais tarefas a deixa
realizada; no entanto, a não execução dessas metas faria com
que ela se autopunisse ou fosse punida pelo próprio companheiro,
pelos próprios filhos e mesmo pela sociedade. Seja como for,
a ordem patriarcal – que determina que a mulher volte a sua
atenção para a família, tendo, inclusive, que elevar e respeitar
a figura masculina – imprime a ela uma marca que lhe perseguirá
para sempre. O casamento e a maternidade consistem, pois, em
estratégias cujo intuito aloja-se na tentativa de aprisionamento
da mulher em regras de condutas sociais. Essa ordem é importante
conquanto define o lugar e os papéis que os homens devem ocupar,
justamente para garantir a sua imagem frente a um esquema de
comportamento que tem subjacente um princípio autoritário de
relações.
Tem-se,
ainda, nesse trecho, um certo desenho de Ana que reforça os
comentários já tecidos. Trata-se da referência à aureola que
ela parece ocupar sobre a cabeça. Tal imagem lembra, dentro
do âmbito religioso cristão, a Virgem Maria, mãe de Jesus Cristo.
Segundo as sagradas escrituras, Maria dedicou-se ao lar, ao
marido e ao filho, sem burlar quaisquer esquemas sociais. Portanto,
a imitação de tais condutas faria das mulheres indivíduos respeitados
e valorizados. Entretanto, não são esses os atributos que lhes
conferem um lugar social de prestígio. O discurso religioso
cristão é usado como estratégia ideológica para mascarar e encobrir
certa rede de dominação cuja vítima é a mulher. Não só isso,
ele faz com que a figura feminina mantenha relação com o sagrado,
garantindo, assim, uma força que conduz à origem do universo
e da vida. Jesus Cristo, que é evocado pela alusão feita à Virgem
Maria, está na base de um novo arranjo social ou princípio de
vida, mas tem, também, como marca caracterizadora o sofrimento.
Portanto, o sacrifício que as lides domésticas impunham a Ana
faria com que ela equiparasse a sua vida à de Virgem Maria,
sendo, pois, assim, santificada e elevada ao âmbito do sagrado,
não obstante o sofrimento que ela finge ignorar. Em qualquer
das hipóteses, a ordem cultural ou religiosa evocam um sujeito
feminino que aceita passivamente uma certa ordem hierárquica
fadada a jamais permitir seu esfacelamento.
Nesse
conto, Ana, depois de um dia como os outros, toma um ônibus
para retornar ao lar. Tal atitude é o princípio de uma viagem,
não apenas uma viagem no sentido literal do termo, mas uma viagem
que a coloca frente-a-frente com um processo de autoconhecimento.
Aliás, o deslocamento do veículo implica o movimento, a mudança,
a oscilação, enfim, quebra-se a tranqüilidade e as certezas
existentes até então. Tudo isso proporcionaria um momento de
reflexão, o que representaria uma etapa de construção do feminino
em andamento:
“O
bonde vacilava nos trilhos, entrava em ruas largas. Logo um
vento meio úmido soprava anunciando, mais que o fim da tarde,
o fim da hora instável. Ana respirou profundamente e uma grande
aceitação deu a seu rosto um ar de mulher.
O
bonde se arrastava, em seguida estacava. Até Humaitá tinha tempo
de descansar. Foi então que olhou para o homem parado no ponto.
A
diferença entre ele e os outros é que ele estava realmente parado.
De pé, suas mãos se mantinham avançadas. Era um cego.
O
que havia mais que fizesse Ana se aprumar em desconfiança? Alguma
coisa intranqüila estava sucedendo. Então ela viu: o cego mascava
chicles... Um homem cego mascava chicles”. (p. 21)
Aquela
estabilidade existencial que aparentemente garantia um estilo
de vida harmonioso a Ana começa a ser desmantelada. Tal circunstância
ganha consistência conquanto a personagem do aludido conto depara-se
com uma situação particular: um homem cego parado mascando chicles.
Essa imagem suscita uma reflexão acerca da sua condição enquanto
sujeito feminino. O indivíduo imóvel chama a atenção para a
posição do homem na sociedade. A sua tendência é a de assumir
um posto de privilégio que lhe confira prestígio social. Nessa
passagem, o cidadão é cego, mas, mesmo assim, ele apresenta
um equilíbrio que lhe dá uma posição diferenciada. Ana, ao contrário,
cumpre com um destino de mulher; entretanto, depara-se com a
incerteza, a dúvida e a insegurança quando se põe frente a um
homem. Não é somente isso que toca Ana: o ato de mascar chicles
consistiria numa ação que implicaria uma repetição quase que
mecânica de acontecimentos. O sujeito cego, nesse particular,
não seria somente aquele cidadão a que ela assistiu numa determinada
ocasião de sua vida; antes, seria a sua própria imagem refletida
numa outra pessoa. Nesse momento, Ana se dá conta de que a sua
vida, na verdade, consiste numa repetição de comportamentos
e atitudes. Quem estava impossibilitada de averiguar isso era
ela – ela estava cega. Em outros termos: a rotina das mulheres
volta-se para a imitação de certos padrões sociais a que ela
é fadada a cumprir: arrumar a casa, cuidar dos filhos e do marido
e, ainda, cuidar de si para não decepcionar o companheiro. Assim,
pequenos detalhes do cotidiano deflagram o entrechoque de mundos
e de fronteiras, que se tornam fluidos e erradios como o que
é dado ao leitor acerca da relação de Ana, a sua casa, o seu
marido.
Nesse
caso, o bonde em que a personagem se encontra chama atenção
não somente para o movimento de mudança, incerteza ou instabilidade
– o fato de ele vacilar nos trilhos, conforme explicita o fragmento
transcrito, sugere essa possibilidade de leitura. Antes, confere
a Ana uma visão limitada do mundo, ou seja, o pequeno espaço
que ela dispõe no ônibus remete para o universo restrito de
vivências e/ou de experiências que as mulheres, em geral, possuem.
Essas percepções abalam Ana, inquietando-a, e, com isso, o seu
mundo como que se arruína. Aliás, quando o veículo dá a partida,
ela cai: “o bonde deu uma arrancada súbita jogando-a desprevenida
para trás” (p. 22). De qualquer modo, observa-se que Ana torna-se
consciente da sua condição de mulher, e qualquer abalo que ela
experimenta a torna frágil. Ela se dá conta de que não tem nenhum
alicerce sobre o qual possa apoiar-se. Essa situação, aliás,
provoca uma série de percepções que até então ela não tivera:
“Incapaz
de se mover para apanhar as sua compras, Ana se aprumava pálida.
Uma expressão de rosto, há muito não usada, ressurgira-lhe com
dificuldade, ainda incerta, incompreensível. O moleque dos jornais
ria estragando-lhe o volume. Mas os ovos se haviam quebrado
no embrulho de jornal. Gemas amarelas e viscosas pingavam entre
os fios de rede. O cego interrompera a mastigação e avançava
as mãos inseguras, tentando inutilmente pegar o que acontecia.
O embrulho dos ovos foi jogado fora da rede e, entre os sorrisos
dos passageiros e o sinal do condutor, o bonde deu a nova arrancada
de partida.
Poucos
instantes depois já não a olhavam mais. O bonde se sacudia nos
trilhos e o cego mascando goma ficara atrás para sempre. Mas
o mal estava feito.
A
rede de tricô era áspera entre os dedos, não íntima quando a
tricotara. A rede perdera o sentido e estar num bonde era um
fio partido; não sabia o que fazer com as compras no colo. E
como uma estranha música, o mundo recomeçava ao redor. O mal
estava feito. (...) o mundo se tornara de novo um mal-estar.
Vários anos ruíam, as gemas amarelas escorriam. Expulsa de seus
próprios dias, parecia-lhe que as pessoas na rua eram periclitantes,
que se mantinham por um mínimo equilíbrio à tona da escuridão
– e por um momento a falta de sentido deixava-as tão livres
que elas não sabiam para onde ir”. (p. 22-23)
Nesse
fragmento, Ana mostra-se consciente das limitações que os papéis
sociais lhe impõem e que a impedem de agir. Atenta à dominação
masculina, a personagem se vê reduzida a uma situação humilhante
e absurda: todos os passageiros do ônibus, no instante de sua
queda, a observam e um menino qualquer aproveita a situação
para rir. Isso não é tudo: os ovos que Ana adquirira quebram-se.
Tal acontecimento, a rigor, é importante na compreensão do texto.
O ovo é um símbolo universal do estado original do cosmos, é
o símbolo da vida e do sagrado. Não apenas isso: ele apresenta
uma estrutura fechada que comporta, em seu interior, uma força
vital rigorosamente ordenada. A quebra do aludido ovo, nesse
conto, gera um processo de reflexão acerca de certas estruturas
que Ana considerava como perfeitamente acabadas. Em outras palavras:
se o ovo é um elemento que representa um estilo de vida dado
como ordenado e harmonioso, agora, com o seu rompimento, tem-se
que, por detrás dessa fachada, existe um componente ideológico
autoritário que confere à vida um caráter de mutilação. Nesse
momento, a vida, para Ana, deixa de ser um todo sistemático.
O tecido social é todo ele afetado quando se inicia um processo
de dessacralização daquela ordem ideologicamente imposta. Nesse
trecho, a rede de tricô que Ana trançava remete a essa
possibilidade de leitura. De qualquer modo, o comportamento
da personagem aponta para um momento de tensão estabelecido
pela impossibilidade de ela tomar uma decisão que poderia transformar
a sua vida em relação à sua condição de mulher casada submissa.
Toda
essa situação que entorna a personagem faz com que ela desconheça
a sua real condição de existência. O mundo, para Ana, torna-se,
pelo menos num primeiro momento, estranho e confuso. Essa idéia
pode ser assegurada no instante em que ela desce do ônibus.
Nessa ocasião, ela percebe que desconhece o ambiente a sua volta:
“Só
então percebeu que há muito passara do seu ponto de descida.
Na fraqueza em que estava tudo a atingia como um susto; desceu
do bonde com pernas débeis, olhou em torno de si, segurando
a rede suja de ovo. Por um momento não conseguia orientar-se.
Parecia ter saltado no meio da noite.
Era
uma rua comprida, com muros altos, amarelos. Seu coração batia
de medo, ela procurava inutilmente reconhecer os arredores,
enquanto a vida que descobrira continuava a pulsar e um vento
mais morno e mais misterioso rodeava-lhe o rosto. Ficou parada
olhando o muro. Enfim pôde localizar-se. Andando um pouco mais
ao longo de uma sebe, atravessou os portões do Jardim Botânico.
Andava
pesadamente pela alameda central, entre os coqueiros. Não havia
ninguém no Jardim. Depositou os embrulhos na terra, sentou-se
no banco de um atalho e ali ficou muito tempo.
A
vastidão parecia acalmá-la, o silêncio regulava sua respiração.
Ela adormecia dentro de si”. (p. 23-24)
As
relações sociais, para Ana, tornam-se indigestas e obscuras.
O rompimento do ovo, tal como se verificou, significa que a
personagem, a partir daquele momento, não vê mais o mundo enquanto
uma figura circular em que a ordem das coisas é dada por concluída
e acabada. É nesse instante de choque, em que se entrecruzam
a consciência de um estilo de vida tradicional e outro que começa
a se firmar a partir daquela situação, que ela se sente suspendida
e arruinada. A condição noturna e a sua posição em meio a uma
rua comprida com muros altos chamam a atenção
para essa idéia. Não só isso: a sua situação de solidão reforça
os aludidos aspectos. Esse isolamento sentido por Ana é dado
pelas circunstâncias em que se encontra, mas é, ainda, uma condição
imprescindível para a ordenação do caos. Em qualquer das hipóteses,
quando é dada às mulheres a percepção da sua real situação,
elas se sentem desnorteadas. Não que elas não tenham força para
reagir contra tal estado de coisas, acontece que, no instante
que transgridem e tentam uma transformação, elas são obrigadas
a enfrentar o sistema patriarcal.
Um
outro detalhe importante nesse fragmento diz respeito ao fato
de Ana penetrar no Jardim Botânico. A sua inserção nesse espaço
condiciona a sua reflexão acerca de ideologias que asseguram
uma ordem social na qual as mulheres se situam numa condição
de marginalização. A ideologia religiosa cristã, nesse particular,
é posta em xeque, já que Ana começa a compreender o mito de
Adão e Eva no paraíso. O paraíso seria, aqui, o Jardim. Portanto,
aquela idéia de harmonia conferida pelo mito bíblico resguarda,
em verdade, uma relação de poder autoritária. Assim, Ana se
insere num processo de reflexão de modo que o mundo começa a
ruir-se de forma que o belo cede lugar ao feio, o sagrado ao
profano, o paraíso ao inferno. O feio, o profano e o inferno,
a rigor, seriam as suas condições de existência que ficaram
resguardadas até então. O patriarcalismo, a propósito, faz a
mulher pensar que ser bela e decorativa é tudo. A beleza, nesse
sentido, segundo o olhar masculino, estaria vinculada à ignorância
feminina:
“As
árvores estavam carregadas, o mundo era tão rico que apodrecia.
Quando Ana pensou que havia crianças e homens grandes com fome,
a náusea subiu-lhe à garganta, como se ela estivesse grávida
e abandonada. A moral do Jardim era outra. Agora que o cego
a guiara até ele, estremecia nos primeiros passos de um mundo
faiscante, sombrio, onde vitórias-régias boiavam monstruosas.
As pequenas flores espalhadas na relva não lhe pareciam amarelas
ou rosadas, mas cor de mau ouro e escarlate. A decomposição
era profunda, perfumada... Mas todas as pesadas coisas, ela
via com a cabeça rodeada por um enxame de insetos, enviados
pela vida mais fina do mundo. A brisa se insinuava entre as
flores. Ana mais adivinhava que sentia o seu cheiro adocicado...
O Jardim era tão bonito que ela teve medo do Inferno”. (p. 25)
Essas
percepções que brotam em Ana fazem com que ela avalie o seu
lar com um sentimento de desdém que não sentira até então. Essa
repulsa não é apenas o que ela sente pelo mundo lá fora, mas
pela própria casa. Essa situação é útil para ilustrar o seguinte:
muitas mulheres pensam que – por estarem bem casadas, por possuírem
o que lhes é necessário na vida, por não sofrerem qualquer tipo
de violência física pelo homem – estão fora das alçadas do poder
patriarcal. Muitas acham, ainda, que são as suas amigas, vizinhas
ou conhecidas que são vítimas de determinados abusos por parte
dos homens, esquecendo-se, no entanto, que elas também são vítimas
do sistema autoritário patriarcal, mas de uma forma diferente.
A personagem desse conto – que, aliás, nem sobrenome tem – pensava
levar uma vida feliz e harmoniosa ao lado do marido e dos filhos,
entretanto vê que está na mais completa ruína. A vida de casada
é insatisfatória e a unidade nunca é alcançada com o masculino:
“Abriu
a porta da casa. A sala era grande, quadrada, as maçanetas brilhavam
limpas, os vidros da sala brilhavam, a lâmpada brilhava – que
nova terra era essa? E por um instante a vida sadia que levara
até agora pareceu-lhe um modo moralmente louco de viver. O menino
que se aproximou correndo era um ser de pernas compridas e rosto
igual ao seu, que corria e a abraçava. Apertou-o com força,
com espanto. Protegia-se trêmula. Porque a vida era periclitante.
Ela amava o mundo, amava o que fora criado – amava com nojo.
(...) Abraçou o filho, quase a ponto de machucá-lo. Como se
soubesse de um mal – o cego ou o belo Jardim Botânico? – agarrava-se
a ele, a quem queria acima de tudo. Fora atingida pelo demônio
da fé. A vida é horrível, disse-lhe baixo, faminta. (...) Mamãe,
chamou o menino. Afastou-o, olhou aquele rosto, seu coração
crispou-se. Não deixe mamãe te esquecer, disse-lhe. A criança
mal sentiu o abraço se afrouxar, escapou e correu até a porta
do quarto, de onde olhou-a mais segura. Era o pior olhar que
jamais recebera”. (p. 26-27)
A
repulsa pela casa e pelo filho exibe a tendência de Ana sentir
raiva do mundo. Nesse particular, a capacidade de sentir desprezo
existe, mas é reprimida, a mulher nunca consegue exercê-la,
pois a sociedade patriarcal a reprime. Assim, a ordem é calar.
O patriarcalismo condena a mulher ao conformismo, senão ela
perde o que tem e passa a ser humilhada frente à sociedade.
De qualquer modo, a cólera, enquanto um sentimento feminino,
traduz a revolta provocada por uma realidade social injusta
e preconceituosa em relação às mulheres. Nesse caso, Ana não
age violentamente. Enquanto mulher, ela está sempre pronta para
perdoar. Aqui, parece que a sua atitude é a de perdoar o próprio
filho, justamente por ser seu descendente. Ou seja, ela perdoa
o filho, pois esse é um elemento a mais que a vincularia no
estilo de vida propiciada pelo matrimônio. Aliás, a reação pela
violência ainda não é assumida pela mulher clariceana. A propósito,
o tema da raiva e o da não consecução da violência enquanto
resposta a um processo histórico e social autoritário aparecem,
respectivamente, em O búfalo e Preciosidade, ambos
do livro Laços de família.
N’O
búfalo, uma mulher vai ao Jardim Zoológico em plena primavera
para, com os animais, apreender a odiar. Ela sente ódio, pois
não se sente amada por um homem: “‘Eu te odeio’, disse ela para
um homem cujo crime único era o de não amá-la. ‘Eu te odeio’,
disse muito apressada” (p. 127). Ao chegar ao zoológico, entretanto,
ela se depara com inúmeros casais de várias espécies vivendo
em harmonia, sendo que nenhum lhe confere a devida atenção,
pois estão trocando experiências com seus/suas parceiros/as.
Ela só aprendera a amar, nunca a odiar, e isso a fazia sofrer.
Contudo, é em certa altura de seu passeio que ela se depara
com um búfalo negro que lhe dá atenção: “[o] búfalo voltou-se,
imobilizou-se, e à distância encarou-a” (p. 134). O búfalo fitou
os olhos da mulher com toda calma e tranqüilidade e, a partir
daquele instante, ela começa a sentir algo diferente. Nesse
particular, o búfalo seria uma representação do homem, o homem-búfalo,
odiando-a tão facilmente, e ela tentando esquecer o que aprendera
a fazer durante a sua vida: amar.
Preciosidade
narra a história de uma adolescente de quinze anos impotente
frente ao olhar masculino. Pela manhã, a sua rotina diária consiste
em acordar cedo e pegar um bonde para ir à escola. Nessa viagem
de aproximadamente uma hora, ela se sente vigiada por todos,
fato esse que a perturba. É importante observar, nesse caso,
que, no espaço doméstico, ela se sente protegida, ao passo que,
nas ruas, ela encontra-se desamparada. Em outros termos, ela
reconhece que seu corpo é a sua ruína, motivo de sua humilhação.
Certo dia, dois homens a abordaram: “[o] que se seguiu foram
quatro mãos difíceis, foram quatro mãos que não sabiam o que
queriam, quatro mãos erradas de quem não tinha a vocação, quatro
mãos que a tocaram tão inesperadamente que ela fez a coisa mais
certa que poderia ter feito no mundo dos movimentos: ficou paralisada”
(p. 90). Portanto, esse conto tematiza a consciência de discriminação
que enfrenta a mulher bem como a sua conformidade e sujeição
frente a tais aspectos.
Seja
como for, em ambos os casos, tem-se um sujeito feminino que
sofre devido à sua condição sexual. No conto Amor, Ana
também é atingida pela sua condição, o que provoca uma situação
de desconforto:
“Mas a
vida arrepiava-a, como um frio. Ouvia o sino da escola, longe
e constante. O pequeno horror da poeira ligando em fios a parte
inferior do fogão, onde descobriu a pequena aranha. Carregando
a jarra para mudar a água – havia o horror da flor se entregando
lânguida e asquerosa às suas mãos. O mesmo trabalho secreto
se fazia ali na cozinha. Perto da lata de lixo, esmagou com
o pé a formiga. O pequeno assassinato da formiga. O mínimo corpo
tremia. As gotas d’água caíam na água parada do tanque. Os besouros
de verão. O horror dos besouros inexpressivos. Ao redor havia
uma vida silenciosa, lenta, insistente. Horror, horror. Andava
de uma lado para outro na cozinha, cortando os bifes, mexendo
o creme. Em torno da cabeça, em ronda, em torno da luz, os mosquitos
de uma noite cálida. Uma noite em que a piedade era tão crua
como o amor ruim. Entre os dois seios escorria o suor. A fé
a quebrantava, o calor do forno ardia nos seus olhos”. (p. 27-28)
Nesse
fragmento, há algumas palavras e expressões que sugerem o estado
de dor da protagonista. A sua vida é fria, silenciosa, lenta
e insistente, ou seja, melancólica, e tudo o que se identifica
com essa vida vem carregada com um teor de desdém. Nessa passagem,
o vocábulo horror é empregado inúmeras vezes para intensificar
o desassossego de Ana. Além disso, as várias situações que permeiam
a sua existência vêm marcadas por um aspecto de ansiedade, inquietação
e mal-estar. Assim, utensílios domésticos aparecem empoeirados
e cobertos por teias de aranha; a flor é lânguida e asquerosa,
isto é, perdeu a sua conotação original; uma formiga é morta;
os besouros são inexpressivos; os mosquitos quebram a harmonia
de uma noite cálida de verão e o calor fazia arder seus olhos,
sugerindo, assim, a imagem do inferno. Deste rol, convém chamar
a atenção para o assassinato da formiga. O ato de matar insetos
aparece em pelo menos outros dois escritos da autora: no livro
A paixão segundo G.H. (1964), em que a protagonista mata
uma barata na parede do quarto da empregada, e no conto A
quinta história, da obra A legião estrangeira (1964).
Nesse último caso, tem-se a apresentação do ritual que visa
à aniquilação de baratas. Tais insetos, nesse enredo, consistem
num mal que deve ser exterminado continuamente. Em todos os
casos, o ato de exterminar animais consistiria numa atitude
catártica, pois equivaleria a exterminar seres humanos.
Tudo
o que se passara com Ana naquele dia exige que ela vá a cata
de uma ânsia de fuga. É o que acontece depois do jantar que
tivera com o marido, os filhos e os parentes. No aparente sossego
do lar, ela se coloca na janela do quarto, numa atitude contemplativa,
buscando uma possível resposta para o mal que a entorna:
“Depois,
quando todos foram embora e as crianças já estavam deitadas,
ela era uma mulher bruta que olhava pela janela. A cidade estava
adormecida e quente. O que o cego desencadeara caberia nos seus
dias? Quantos anos levaria até envelhecer de novo? Qualquer
movimento seu e pisaria numa das crianças. Mas com uma maldade
de amante, parecia aceitar que da flor saísse o mosquito, que
as vitórias-régias boiassem no escuro do lago. O cego pendia
entre os frutos do Jardim Botânico”. (p. 28-29).
Ana
olha pela janela, procurando recriar um outro universo, através
do delírio. Tal proeza não ocorre de modo satisfatório, pois
ela sente a limitação que a circunstância, ancorada a sua vida,
lhe confere. Ou seja, a noite restringe o alcance de seu olhar,
impossibilitando uma apreensão mais definida do espaço a sua
volta. Soma-se a isso a quietude da cidade justificada pelo
sono das pessoas. O adormecimento dos cidadãos, em certo sentido,
perturba a protagonista, pois tal situação se filiaria ao estado
de inconsciência desses indivíduos. As frases interrogativas
presentes nesse trecho elucidam as incertezas, as dúvidas e
a insegurança da personagem. É como se a vida se extinguisse
aí. Assim acaba o conto, fazendo referência ao vazio da mulher:
“penteava-se agora diante do espelho, por um instante sem nenhum
mundo no coração. Antes de se deitar, como se apagasse uma vela,
soprou a pequena flama do dia” (p. 29).
A
análise do conto em apreciação não foi exaustiva. No entanto,
permitiu verificar a riqueza da produção clariceana quando o
assunto gravita em torno da situação social da mulher. Lispector
não aderiu ao feminismo panfletário. A sua postura é feminista
quando ela retrata a discriminação enfrentada pelos sujeitos
femininos. Não apenas isso, sua obra é engajada quando ela exibe
a mulher não conformada, que se torna consciente do preconceito
de seu sexo e, ainda, quando luta contra o monopólio das profissões
chefiadas pelos homens. Afora esses detalhes, o artigo procurou
demonstrar a relação que se tece entre as condutas patriarcais,
a violência contra as mulheres e a ideologia autoritária que
camufla a situação dos indivíduos femininos. Portanto, a literatura
contribuiria para a formação dos sujeitos, pois, em inúmeros
casos, ela questiona certa forma de organização social, exibindo
as relações de poder que subjazem a existência humana.
Assim,
se a literatura tem esse poder humanizador, porque não descarta
o elemento social, a ela compete dessacralizar determinados
discursos autoritários. Nesse particular, o conto de Clarice
Lispector vai de encontro ao machismo autoritário e às ideologias
que transferem as mulheres para uma situação de inferioridade.
Não que a produção clariceana queira colocar as mulheres em
confronto direto com os homens, ela visa a conscientizá-las
de sua condição dentro da sociedade para, assim, alcançarem
a unidade com o masculino. Essa integração do homem com a mulher
consistiria num processo lento e que deveria estender-se para
os mais diversos aparelhos sociais. Deste modo, são as crianças
quem primeiro precisariam ser educadas, e caberia à família,
à escola e à igreja – só para citar alguns segmentos sociais
– esfacelar a ordem autoritária que condena as mulheres numa
posição de subordinação e marginalização.
A
protagonista do conto analisado, depois de se conscientizar
de sua real condição, procura se re-estabelecer. Isso não se
dá de maneira satisfatória, pois ela já fora educada dentro
de um esquema rígido dirigido pelos homens. Caberia à mulher
conquistar o seu espaço, não de modo autônomo e isolado, mas
em integração com os homens. Assim, não somente as mulheres
precisariam ser educadas, desde crianças, de forma diferente,
no sentido de não aceitar as diferenças sociais impostas pelo
sexo. Os homens, principalmente, deveriam tomar conhecimento
da situação das mulheres, e, desde jovens, assumir um comportamento
menos machista para, assim, construir relações menos violentas
e autoritárias.
Referências
bibliográficas
LISPECTOR,
Clarice. A paixão segundo G.H. Florianópolis: UFSC, 1988.
____.
A legião estrangeira. 15. ed. São Paulo: Siciliano, 1992.
____.
Laços de família. Rio de Janeiro: Rocco, 1998.
Bibliografia
de apoio
ALMEIDA,
Sandra Regina Goulart. A modernidade da escrita feminina de
Clarice Lispector. In: SOUZA, Eneida Maria de (Org.). Modernidades
tardias. Belo Horizonte: UFMG, 1998.
BEDASEE,
Raimunda. Violência e ideologia feminista na obra de Clarice
Lispector. Salvador: EDUFBA, 1999.
HITE, Shere.
O relatório Hite: um profundo estudo sobre a sexualidade
feminina. Trad. Ana Cristina Cesar. 21. ed. São Paulo: Editora
Beltrand Brasil S.A., 1992.
MURARD,
Rose Marie. Libertação sexual da mulher. 2. ed. Petrópolis,
RJ: Vozes, 1971.