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IDEOLOGIA, VIOLÊNCIA E PATRIARCALISMO: A CONDIÇÃO FEMININA EM UM CONTO DE CLARICE LISPECTOR

Lizandro Carlos Calegari [1]

No Brasil, as primeiras discussões mais consistentes acerca da questão da mulher datam de 1960. É nesse período que ocorrem modificações no código civil, o que coincidiria com o fim do controle legal do marido nas decisões da família. Com isso, as mulheres, teoricamente, deixariam de ser inferiores dentro do casamento e passariam a assumir cargos e a exercer profissões sem a permissão prévia do companheiro. Ainda nesse particular, elas lutaram contra a discriminação quando na procura de um emprego. Assim, aquele momento foi marcado por calorosos debates; no entanto, as condições para a consolidação de projetos eram dificultadas pelas circunstâncias políticas. Afora isso, a Ditadura Militar que culminou naquela época foi um acontecimento importante para que tais desejos de emancipação não tivessem o alcance desejado. Não obstante esses fatos, a partir da referida década, a mulher passou a ser objeto de estudo na sociologia, na psicanálise, na história e na antropologia.

Não somente essas áreas do conhecimento voltaram a sua atenção para a figura feminina, o modo de representação da mulher na literatura bem como a sua relação com a crítica e o público leitor também passaram a assumir lugar de destaque. Assim, o trabalho de crítica feminista, essencialmente voltado para a desconstrução do caráter gendrado dos discursos de e sobre a representação e para a procura da definição de uma identidade feminina, tem-se realizado por meio de duas vertentes: a de linha francesa e a de linha anglo-americana. No primeiro caso, tem-se a influência da desconstrução de Derrida e da psicanálise de Lacan, trabalhando no sentido de identificar uma possível subjetividade feminina e enfatizando os vínculos que aproximam o estatuto do sujeito (autor/leitor) à formação das subjetividades e à produção da escrita. No segundo, dá-se privilégio à contextualização político-pragmática e enfatizam-se questões ligadas à formação do cânone, às ideologias de gênero, à legitimidade das práticas interpretativas acadêmicas e às implicações das experiências culturais e intersubjetivas de leitoras e/ou de autoras nos discursos de representação.

Dentro desse esquema, cabe destacar que a trajetória da literatura de autoria feminina no Brasil obedece às seguintes fases: a fase feminina (1859-1944), a fase feminista (1944-1990) e a fase fêmea (1990-atual). No primeiro momento, têm-se a imitação e a internalização dos valores e dos padrões patriarcais vigentes. Estão, aí, as obras de Maria Firmina dos Reis, Júlia Lopes de Almeida, Carolina Nabuco e Ana Luísa de Azevedo Castro. No segundo, observa-se o protesto contra tais valores e padrões em defesa dos direitos e dos valores das minorias. Nesse rol, enquadram-se os escritos de Clarice Lispector, Lya Luft, Helena Parente Cunha e Nélida Piñon. Por fim, na última fase referida, tem-se a autodescoberta e a busca de identidade própria. São representativas, nesse caso, a própria Piñon e Lya Luft, fazendo parte, ainda, desse quadro, textos de Adélia Prado, Patrícia Melo e Zulmira Ribeiro Tavares, só para citar os principais nomes.

O objetivo desse estudo consiste em averiguar como as mulheres se comportam em relação às normas existentes na sociedade em que vivem, considerando-se, particularmente, o contexto político, histórico, cultural e patriarcal em que elas estão inseridas. Tece-se a presente análise crítica a partir do conto Amor do livro Laços de família, de Clarice Lispector, cuja primeira edição data de 1960. Não obstante tal delimitação, são feitas referências a outros textos da aludida obra e escritora com o intuito de dar maior consistência à interpretação realizada. Pelas observações atrás definidas, os contos do livro em apreciação estão de acordo com a segunda fase da literatura de autoria feminina no Brasil, o que significa, então, que eles se propõem a uma ruptura com os padrões vigentes. Isso, no entanto, não quer dizer que as personagens femininas de Lispector alcançam uma autonomia; agora, elas começam a refletir sobre o feminino e a sua situação numa sociedade machista marcada pela dominação e pela opressão. Em outros termos: a obra clariceana estrutura-se em torno das relações de gênero, fazendo emergir as diferenças sociais cristalizadas entre sexos, as quais cerceiam quaisquer possibilidades de a mulher atingir sua plenitude existencial.

Ademais, classificá-la como feminista não implica, entretanto, que as suas obras empreendam uma defesa panfletária dos direitos das mulheres. Significa que tais obras trazem críticas contundentes aos valores patriarcais, desmascarando a repressão feminina nas práticas sociais, numa espécie de conseqüência do processo de conscientização desencadeado pelo feminismo. Na coletânea de contos Laços de família, Lispector questiona o modelo patriarcal em que a mulher fica reduzida, mas nem por isso o seu valor estético é contestável. Assim, a sua obra seria engajada.

Em Amor, a personagem central, Ana, enquadra-se no destino de mulher, ou seja, vive confinada no ambiente doméstico. Depois de uma juventude intensa cumprindo fielmente com o seu papel de mulher, isto é, em relação às normas existentes na sociedade regida pela ordem falocrática, ela reconhece que, em verdade, é vítima de um processo ideológico que a torna submissa e secundária em relação aos homens. O conto inicia apresentando as circunstâncias a que ela se enquadra diariamente:

“Um pouco cansada, com as compras deformando o novo saco de tricô. Ana subiu no bonde. Depositou o volume no colo e o bonde começou a andar. Recostou-se então no banco procurando conforto, num suspiro de meia satisfação.

Os filhos de Ana eram bons, uma coisa verdadeira e sumarenta. (...) A cozinha era enfim espaçosa, o fogão enguiçado dava estouros. O calor era forte no apartamento que estavam aos poucos pagando. Mas o vento batendo nas cortinas que ela mesma cortara lembrava-lhe que se quisesse podia parar e enxugar a testa, olhando o calmo horizonte. Como um lavrador. Ela plantara as sementes que tinha na mão, não outras, mas essas apenas. E cresciam árvores. Crescia a sua rápida conversa com o cobrador de luz, crescia a água enchendo o tanque, cresciam seus filhos, crescia a mesa com comidas, o marido chegando com os jornais e sorrindo de fome, o canto importuno das empregadas do edifício. Ana dava a tudo, tranqüilamente, sua mão pequena e forte, sua corrente de vida”. (p. 19)

Nessa passagem, observa-se que Ana age repetindo os papéis impostos às mulheres pela sociedade patriarcal. Assim, cabe a ela fazer as compras, cuidar dos filhos, dos afazeres domésticos e mesmo do marido. Em outros termos, ela é uma dona de casa, mas nem por isso tal profissão constitui-se numa possibilidade libertadora. O seu comportamento em relação às normas existentes é de aceitação. Esse universo na qual ela se insere resguarda certa harmonia, justamente por ela cumprir satisfatoriamente com os deveres que lhe competem como mulher. Tudo isso faz com que ela se sinta em conformidade com os preceitos ideológicos que subjazem a relação homem-mulher. Portanto, a mesmice é ideologicamente inculcada nas mulheres e, por isso mesmo, elas não questionariam a ordem social imposta. O fato de Ana preencher aqueles requisitos de uma boa mãe e de uma boa esposa são condições suficientes para a sua própria recompensa. Tanto isso é verdade que, nesse fragmento, ela é comparada a um lavrador. Tal comparação é importante conquanto fica assinalada a igualdade de valores que se estabelece entre as atividades ditas dos homens e as tarefas ditas das mulheres, mas nem por isso essas últimas são reconhecidas como sujeitos que desempenham funções essenciais e imprescindíveis na sociedade.

Às mulheres, ainda, não são conferidas possibilidades para que reflitam sobre a sua situação de marginalização. Não lhes são conferidos esclarecimentos acerca de suas condições de exclusão e exploração, e isso não é por caso: existe um componente estratégico de manipulação ideológica que as impossibilita de erguer qualquer questionamento que vai na contramão da proposta falocêntrica. Como decorrência disso, elas desconhecem a sua própria história, ou seja, a sua ancestralidade. Não só isso: elas se desconhecem a si próprias a ponto de se rejeitarem ou mesmo de desencadearem uma relação de poder autoritária. No trecho transcrito, é feita uma referência às empregadas que habitam o mesmo edifício de Ana. As empregadas seriam, pois, duplamente submissas: pela sua condição sexual feminina e por serem comandadas por outras mulheres. Com isso, as mulheres seriam exploradoras e opressoras de outras mulheres, o que enfatizaria o preconceito contra o gênero.

Em Laços de família, há um conto que chama a atenção para essa particularidade: A menor mulher do mundo. Nele, as mulheres demonstram uma atitude de rejeição ou de bizarra ternura por Pequena Flor, a menor mulher do mundo, membro de uma sociedade primitiva. Ela mora numa árvore e é caçada como se caça um animal: com redes. Ela cozinha; o homem, caça. Ao se coçar diante de um explorador “onde uma pessoa não se coça” (p. 70), ela deixa explícito que desconhece as normas de civilização. É essa mulher de 45 centímetros, que mora no topo de uma árvore, que será vista, num jornal de domingo, pelas mulheres urbanas e civilizadas que residem em apartamentos. De qualquer modo, são dois tipos de mulher, uma primitiva e outra civilizada, que vivem numa mesma época, mas é como se vivessem separadas há séculos. O texto problematiza, então, a desunião entre seres femininos, o que alimentaria o poder patriarcal.

O conto Amor refere-se, ainda, não de modo claro e direto, à questão do casamento. O matrimônio seria uma armadilha do patriarcalismo, pois, além de exigir, legalmente, que as mulheres dêem continuidade ao sobrenome do marido, determina que elas tenham filhos. Essa última condição obriga à mulher a se confinar no ambiente doméstico, sem, muitas vezes, ter possibilidades de assumir uma profissão que lhe assegure uma certa independência em relação ao homem:

“Sua precaução reduzia-se a tomar cuidado na hora perigosa da tarde, quando a casa estava vazia sem precisar mais dela, o sol alto, cada membro da família distribuído nas suas funções. Olhando os móveis limpos, seu coração se apertava um pouco em espanto – ela o abafava com a mesma habilidade que as lides em casa lhe haviam transmitido. Saía então para fazer compras ou levar objetos para consertar, cuidando do lar e da família à revelia deles. Quando voltasse era o fim da tarde e as crianças vindas do colégio exigiam-na. Assim chegaria a noite, com sua tranqüila vibração. De manhã acordaria aureolada pelos calmos deveres. Encontrava os móveis empoeirados e sujos, como se voltassem arrependidos. Quanto a ela mesma, fazia obscuramente parte das raízes negras e suaves do mundo. E alimentava anonimamente a vida. Estava bom assim. Assim ela o quisera e escolhera”. (p. 20-21)

Essa passagem cristaliza a imagem de mulher que aceita os papéis impostos pela sociedade patriarcal. Em verdade, não seria uma questão de escolha ou de aceitação, mas uma internalização inconsciente daquelas marcas que definem o perfil da mulher que a sociedade aceita e exige ter. Nesse particular, Ana está de acordo com aquelas normas convencionais gerais que, a propósito, a fazem repetir o destino de mulher: ela limpa e prepara a casa para o marido e os filhos. O cumprimento de tais tarefas a deixa realizada; no entanto, a não execução dessas metas faria com que ela se autopunisse ou fosse punida pelo próprio companheiro, pelos próprios filhos e mesmo pela sociedade. Seja como for, a ordem patriarcal – que determina que a mulher volte a sua atenção para a família, tendo, inclusive, que elevar e respeitar a figura masculina – imprime a ela uma marca que lhe perseguirá para sempre. O casamento e a maternidade consistem, pois, em estratégias cujo intuito aloja-se na tentativa de aprisionamento da mulher em regras de condutas sociais. Essa ordem é importante conquanto define o lugar e os papéis que os homens devem ocupar, justamente para garantir a sua imagem frente a um esquema de comportamento que tem subjacente um princípio autoritário de relações.

Tem-se, ainda, nesse trecho, um certo desenho de Ana que reforça os comentários já tecidos. Trata-se da referência à aureola que ela parece ocupar sobre a cabeça. Tal imagem lembra, dentro do âmbito religioso cristão, a Virgem Maria, mãe de Jesus Cristo. Segundo as sagradas escrituras, Maria dedicou-se ao lar, ao marido e ao filho, sem burlar quaisquer esquemas sociais. Portanto, a imitação de tais condutas faria das mulheres indivíduos respeitados e valorizados. Entretanto, não são esses os atributos que lhes conferem um lugar social de prestígio. O discurso religioso cristão é usado como estratégia ideológica para mascarar e encobrir certa rede de dominação cuja vítima é a mulher. Não só isso, ele faz com que a figura feminina mantenha relação com o sagrado, garantindo, assim, uma força que conduz à origem do universo e da vida. Jesus Cristo, que é evocado pela alusão feita à Virgem Maria, está na base de um novo arranjo social ou princípio de vida, mas tem, também, como marca caracterizadora o sofrimento. Portanto, o sacrifício que as lides domésticas impunham a Ana faria com que ela equiparasse a sua vida à de Virgem Maria, sendo, pois, assim, santificada e elevada ao âmbito do sagrado, não obstante o sofrimento que ela finge ignorar. Em qualquer das hipóteses, a ordem cultural ou religiosa evocam um sujeito feminino que aceita passivamente uma certa ordem hierárquica fadada a jamais permitir seu esfacelamento.

Nesse conto, Ana, depois de um dia como os outros, toma um ônibus para retornar ao lar. Tal atitude é o princípio de uma viagem, não apenas uma viagem no sentido literal do termo, mas uma viagem que a coloca frente-a-frente com um processo de autoconhecimento. Aliás, o deslocamento do veículo implica o movimento, a mudança, a oscilação, enfim, quebra-se a tranqüilidade e as certezas existentes até então. Tudo isso proporcionaria um momento de reflexão, o que representaria uma etapa de construção do feminino em andamento:

“O bonde vacilava nos trilhos, entrava em ruas largas. Logo um vento meio úmido soprava anunciando, mais que o fim da tarde, o fim da hora instável. Ana respirou profundamente e uma grande aceitação deu a seu rosto um ar de mulher.

O bonde se arrastava, em seguida estacava. Até Humaitá tinha tempo de descansar. Foi então que olhou para o homem parado no ponto.

A diferença entre ele e os outros é que ele estava realmente parado. De pé, suas mãos se mantinham avançadas. Era um cego.

O que havia mais que fizesse Ana se aprumar em desconfiança? Alguma coisa intranqüila estava sucedendo. Então ela viu: o cego mascava chicles... Um homem cego mascava chicles”. (p. 21)

Aquela estabilidade existencial que aparentemente garantia um estilo de vida harmonioso a Ana começa a ser desmantelada. Tal circunstância ganha consistência conquanto a personagem do aludido conto depara-se com uma situação particular: um homem cego parado mascando chicles. Essa imagem suscita uma reflexão acerca da sua condição enquanto sujeito feminino. O indivíduo imóvel chama a atenção para a posição do homem na sociedade. A sua tendência é a de assumir um posto de privilégio que lhe confira prestígio social. Nessa passagem, o cidadão é cego, mas, mesmo assim, ele apresenta um equilíbrio que lhe dá uma posição diferenciada. Ana, ao contrário, cumpre com um destino de mulher; entretanto, depara-se com a incerteza, a dúvida e a insegurança quando se põe frente a um homem. Não é somente isso que toca Ana: o ato de mascar chicles consistiria numa ação que implicaria uma repetição quase que mecânica de acontecimentos. O sujeito cego, nesse particular, não seria somente aquele cidadão a que ela assistiu numa determinada ocasião de sua vida; antes, seria a sua própria imagem refletida numa outra pessoa. Nesse momento, Ana se dá conta de que a sua vida, na verdade, consiste numa repetição de comportamentos e atitudes. Quem estava impossibilitada de averiguar isso era ela – ela estava cega. Em outros termos: a rotina das mulheres volta-se para a imitação de certos padrões sociais a que ela é fadada a cumprir: arrumar a casa, cuidar dos filhos e do marido e, ainda, cuidar de si para não decepcionar o companheiro. Assim, pequenos detalhes do cotidiano deflagram o entrechoque de mundos e de fronteiras, que se tornam fluidos e erradios como o que é dado ao leitor acerca da relação de Ana, a sua casa, o seu marido.

Nesse caso, o bonde em que a personagem se encontra chama atenção não somente para o movimento de mudança, incerteza ou instabilidade – o fato de ele vacilar nos trilhos, conforme explicita o fragmento transcrito, sugere essa possibilidade de leitura. Antes, confere a Ana uma visão limitada do mundo, ou seja, o pequeno espaço que ela dispõe no ônibus remete para o universo restrito de vivências e/ou de experiências que as mulheres, em geral, possuem. Essas percepções abalam Ana, inquietando-a, e, com isso, o seu mundo como que se arruína. Aliás, quando o veículo dá a partida, ela cai: “o bonde deu uma arrancada súbita jogando-a desprevenida para trás” (p. 22). De qualquer modo, observa-se que Ana torna-se consciente da sua condição de mulher, e qualquer abalo que ela experimenta a torna frágil. Ela se dá conta de que não tem nenhum alicerce sobre o qual possa apoiar-se. Essa situação, aliás, provoca uma série de percepções que até então ela não tivera:

“Incapaz de se mover para apanhar as sua compras, Ana se aprumava pálida. Uma expressão de rosto, há muito não usada, ressurgira-lhe com dificuldade, ainda incerta, incompreensível. O moleque dos jornais ria estragando-lhe o volume. Mas os ovos se haviam quebrado no embrulho de jornal. Gemas amarelas e viscosas pingavam entre os fios de rede. O cego interrompera a mastigação e avançava as mãos inseguras, tentando inutilmente pegar o que acontecia. O embrulho dos ovos foi jogado fora da rede e, entre os sorrisos dos passageiros e o sinal do condutor, o bonde deu a nova arrancada de partida.

Poucos instantes depois já não a olhavam mais. O bonde se sacudia nos trilhos e o cego mascando goma ficara atrás para sempre. Mas o mal estava feito.

A rede de tricô era áspera entre os dedos, não íntima quando a tricotara. A rede perdera o sentido e estar num bonde era um fio partido; não sabia o que fazer com as compras no colo. E como uma estranha música, o mundo recomeçava ao redor. O mal estava feito. (...) o mundo se tornara de novo um mal-estar. Vários anos ruíam, as gemas amarelas escorriam. Expulsa de seus próprios dias, parecia-lhe que as pessoas na rua eram periclitantes, que se mantinham por um mínimo equilíbrio à tona da escuridão – e por um momento a falta de sentido deixava-as tão livres que elas não sabiam para onde ir”. (p. 22-23)

Nesse fragmento, Ana mostra-se consciente das limitações que os papéis sociais lhe impõem e que a impedem de agir. Atenta à dominação masculina, a personagem se vê reduzida a uma situação humilhante e absurda: todos os passageiros do ônibus, no instante de sua queda, a observam e um menino qualquer aproveita a situação para rir. Isso não é tudo: os ovos que Ana adquirira quebram-se. Tal acontecimento, a rigor, é importante na compreensão do texto. O ovo é um símbolo universal do estado original do cosmos, é o símbolo da vida e do sagrado. Não apenas isso: ele apresenta uma estrutura fechada que comporta, em seu interior, uma força vital rigorosamente ordenada. A quebra do aludido ovo, nesse conto, gera um processo de reflexão acerca de certas estruturas que Ana considerava como perfeitamente acabadas. Em outras palavras: se o ovo é um elemento que representa um estilo de vida dado como ordenado e harmonioso, agora, com o seu rompimento, tem-se que, por detrás dessa fachada, existe um componente ideológico autoritário que confere à vida um caráter de mutilação. Nesse momento, a vida, para Ana, deixa de ser um todo sistemático. O tecido social é todo ele afetado quando se inicia um processo de dessacralização daquela ordem ideologicamente imposta. Nesse trecho, a rede de tricô que Ana trançava remete a essa possibilidade de leitura. De qualquer modo, o comportamento da personagem aponta para um momento de tensão estabelecido pela impossibilidade de ela tomar uma decisão que poderia transformar a sua vida em relação à sua condição de mulher casada submissa.

Toda essa situação que entorna a personagem faz com que ela desconheça a sua real condição de existência. O mundo, para Ana, torna-se, pelo menos num primeiro momento, estranho e confuso. Essa idéia pode ser assegurada no instante em que ela desce do ônibus. Nessa ocasião, ela percebe que desconhece o ambiente a sua volta:

“Só então percebeu que há muito passara do seu ponto de descida. Na fraqueza em que estava tudo a atingia como um susto; desceu do bonde com pernas débeis, olhou em torno de si, segurando a rede suja de ovo. Por um momento não conseguia orientar-se. Parecia ter saltado no meio da noite.

Era uma rua comprida, com muros altos, amarelos. Seu coração batia de medo, ela procurava inutilmente reconhecer os arredores, enquanto a vida que descobrira continuava a pulsar e um vento mais morno e mais misterioso rodeava-lhe o rosto. Ficou parada olhando o muro. Enfim pôde localizar-se. Andando um pouco mais ao longo de uma sebe, atravessou os portões do Jardim Botânico.

Andava pesadamente pela alameda central, entre os coqueiros. Não havia ninguém no Jardim. Depositou os embrulhos na terra, sentou-se  no banco de um atalho e ali ficou muito tempo.

A vastidão parecia acalmá-la, o silêncio regulava sua respiração. Ela adormecia dentro de si”. (p. 23-24)

As relações sociais, para Ana, tornam-se indigestas e obscuras. O rompimento do ovo, tal como se verificou, significa que a personagem, a partir daquele momento, não vê mais o mundo enquanto uma figura circular em que a ordem das coisas é dada por concluída e acabada. É nesse instante de choque, em que se entrecruzam a consciência de um estilo de vida tradicional e outro que começa a se firmar a partir daquela situação, que ela se sente suspendida e arruinada. A condição noturna e a sua posição em meio a uma rua comprida com muros altos chamam a atenção para essa idéia. Não só isso: a sua situação de solidão reforça os aludidos aspectos. Esse isolamento sentido por Ana é dado pelas circunstâncias em que se encontra, mas é, ainda, uma condição imprescindível para a ordenação do caos. Em qualquer das hipóteses, quando é dada às mulheres a percepção da sua real situação, elas se sentem desnorteadas. Não que elas não tenham força para reagir contra tal estado de coisas, acontece que, no instante que transgridem e tentam uma transformação, elas são obrigadas a enfrentar o sistema patriarcal.

Um outro detalhe importante nesse fragmento diz respeito ao fato de Ana penetrar no Jardim Botânico. A sua inserção nesse espaço condiciona a sua reflexão acerca de ideologias que asseguram uma ordem social na qual as mulheres se situam numa condição de marginalização. A ideologia religiosa cristã, nesse particular, é posta em xeque, já que Ana começa a compreender o mito de Adão e Eva no paraíso. O paraíso seria, aqui, o Jardim. Portanto, aquela idéia de harmonia conferida pelo mito bíblico resguarda, em verdade, uma relação de poder autoritária. Assim, Ana se insere num processo de reflexão de modo que o mundo começa a ruir-se de forma que o belo cede lugar ao feio, o sagrado ao profano, o paraíso ao inferno. O feio, o profano e o inferno, a rigor, seriam as suas condições de existência que ficaram resguardadas até então. O patriarcalismo, a propósito, faz a mulher pensar que ser bela e decorativa é tudo. A beleza, nesse sentido, segundo o olhar masculino, estaria vinculada à ignorância feminina:

“As árvores estavam carregadas, o mundo era tão rico que apodrecia. Quando Ana pensou que havia crianças e homens grandes com fome, a náusea subiu-lhe à garganta, como se ela estivesse grávida e abandonada. A moral do Jardim era outra. Agora que o cego a guiara até ele, estremecia nos primeiros passos de um mundo faiscante, sombrio, onde vitórias-régias boiavam monstruosas. As pequenas flores espalhadas na relva não lhe pareciam amarelas ou rosadas, mas cor de mau ouro e escarlate. A decomposição era profunda, perfumada... Mas todas as pesadas coisas, ela via com a cabeça rodeada por um enxame de insetos, enviados pela vida mais fina do mundo. A brisa se insinuava entre as flores. Ana mais adivinhava que sentia o seu cheiro adocicado... O Jardim era tão bonito que ela teve medo do Inferno”. (p. 25)

Essas percepções que brotam em Ana fazem com que ela avalie o seu lar com um sentimento de desdém que não sentira até então. Essa repulsa não é apenas o que ela sente pelo mundo lá fora, mas pela própria casa. Essa situação é útil para ilustrar o seguinte: muitas mulheres pensam que – por estarem bem casadas, por possuírem o que lhes é necessário na vida, por não sofrerem qualquer tipo de violência física pelo homem – estão fora das alçadas do poder patriarcal. Muitas acham, ainda, que são as suas amigas, vizinhas ou conhecidas que são vítimas de determinados abusos por parte dos homens, esquecendo-se, no entanto, que elas também são vítimas do sistema autoritário patriarcal, mas de uma forma diferente. A personagem desse conto – que, aliás, nem sobrenome tem – pensava levar uma vida feliz e harmoniosa ao lado do marido e dos filhos, entretanto vê que está na mais completa ruína. A vida de casada é insatisfatória e a unidade nunca é alcançada com o masculino:

“Abriu a porta da casa. A sala era grande, quadrada, as maçanetas brilhavam limpas, os vidros da sala brilhavam, a lâmpada brilhava – que nova terra era essa? E por um instante a vida sadia que levara até agora pareceu-lhe um modo moralmente louco de viver. O menino que se aproximou correndo era um ser de pernas compridas e rosto igual ao seu, que corria e a abraçava. Apertou-o com força, com espanto. Protegia-se trêmula. Porque a vida era periclitante. Ela amava o mundo, amava o que fora criado – amava com nojo. (...) Abraçou o filho, quase a ponto de machucá-lo. Como se soubesse de um mal – o cego ou o belo Jardim Botânico? – agarrava-se a ele, a quem queria acima de tudo. Fora atingida pelo demônio da fé. A vida é horrível, disse-lhe baixo, faminta. (...) Mamãe, chamou o menino. Afastou-o, olhou aquele rosto, seu coração crispou-se. Não deixe mamãe te esquecer, disse-lhe. A criança mal sentiu o abraço se afrouxar, escapou e correu até a porta do quarto, de onde olhou-a mais segura. Era o pior olhar que jamais recebera”. (p. 26-27)

A repulsa pela casa e pelo filho exibe a tendência de Ana sentir raiva do mundo. Nesse particular, a capacidade de sentir desprezo existe, mas é reprimida, a mulher nunca consegue exercê-la, pois a sociedade patriarcal a reprime. Assim, a ordem é calar. O patriarcalismo condena a mulher ao conformismo, senão ela perde o que tem e passa a ser humilhada frente à sociedade. De qualquer modo, a cólera, enquanto um sentimento feminino, traduz a revolta provocada por uma realidade social injusta e preconceituosa em relação às mulheres. Nesse caso, Ana não age violentamente. Enquanto mulher, ela está sempre pronta para perdoar. Aqui, parece que a sua atitude é a de perdoar o próprio filho, justamente por ser seu descendente. Ou seja, ela perdoa o filho, pois esse é um elemento a mais que a vincularia no estilo de vida propiciada pelo matrimônio. Aliás, a reação pela violência ainda não é assumida pela mulher clariceana. A propósito, o tema da raiva e o da não consecução da violência enquanto resposta a um processo histórico e social autoritário aparecem, respectivamente, em O búfalo e Preciosidade, ambos do livro Laços de família.

N’O búfalo, uma mulher vai ao Jardim Zoológico em plena primavera para, com os animais, apreender a odiar. Ela sente ódio, pois não se sente amada por um homem: “‘Eu te odeio’, disse ela para um homem cujo crime único era o de não amá-la. ‘Eu te odeio’, disse muito apressada” (p. 127). Ao chegar ao zoológico, entretanto, ela se depara com inúmeros casais de várias espécies vivendo em harmonia, sendo que nenhum lhe confere a devida atenção, pois estão trocando experiências com seus/suas parceiros/as. Ela só aprendera a amar, nunca a odiar, e isso a fazia sofrer. Contudo, é em certa altura de seu passeio que ela se depara com um búfalo negro que lhe dá atenção: “[o] búfalo voltou-se, imobilizou-se, e à distância encarou-a” (p. 134). O búfalo fitou os olhos da mulher com toda calma e tranqüilidade e, a partir daquele instante, ela começa a sentir algo diferente. Nesse particular, o búfalo seria uma representação do homem, o homem-búfalo, odiando-a tão facilmente, e ela tentando esquecer o que aprendera a fazer durante a sua vida: amar.

Preciosidade narra a história de uma adolescente de quinze anos impotente frente ao olhar masculino. Pela manhã, a sua rotina diária consiste em acordar cedo e pegar um bonde para ir à escola. Nessa viagem de aproximadamente uma hora, ela se sente vigiada por todos, fato esse que a perturba. É importante observar, nesse caso, que, no espaço doméstico, ela se sente protegida, ao passo que, nas ruas, ela encontra-se desamparada. Em outros termos, ela reconhece que seu corpo é a sua ruína, motivo de sua humilhação. Certo dia, dois homens a abordaram: “[o] que se seguiu foram quatro mãos difíceis, foram  quatro mãos que não sabiam o que queriam, quatro mãos erradas de quem não tinha a vocação, quatro mãos que a tocaram tão inesperadamente que ela fez a coisa mais certa que poderia ter feito no mundo dos movimentos: ficou paralisada” (p. 90). Portanto, esse conto tematiza a consciência de discriminação que enfrenta a mulher bem como a sua conformidade e sujeição frente a tais aspectos.

Seja como for, em ambos os casos, tem-se um sujeito feminino que sofre devido à sua condição sexual. No conto Amor, Ana também é atingida pela sua condição, o que provoca uma situação de desconforto:

“Mas a vida arrepiava-a, como um frio. Ouvia o sino da escola, longe e constante. O pequeno horror da poeira ligando em fios a parte inferior do fogão, onde descobriu a pequena aranha. Carregando a jarra para mudar a água – havia o horror da flor se entregando lânguida e asquerosa às suas mãos. O mesmo trabalho secreto se fazia ali na cozinha. Perto da lata de lixo, esmagou com o pé a formiga. O pequeno assassinato da formiga. O mínimo corpo tremia. As gotas d’água caíam na água parada do tanque. Os besouros de verão. O horror dos besouros inexpressivos. Ao redor havia uma vida silenciosa, lenta, insistente. Horror, horror. Andava de uma lado para outro na cozinha, cortando os bifes, mexendo o creme. Em torno da cabeça, em ronda, em torno da luz, os mosquitos de uma noite cálida. Uma noite em que a piedade era tão crua como o amor ruim. Entre os dois seios escorria o suor. A fé a quebrantava, o calor do forno ardia nos seus olhos”. (p. 27-28)

Nesse fragmento, há algumas palavras e expressões que sugerem o estado de dor da protagonista. A sua vida é fria, silenciosa, lenta e insistente, ou seja, melancólica, e tudo o que se identifica com essa vida vem carregada com um teor de desdém. Nessa passagem, o vocábulo horror é empregado inúmeras vezes para intensificar o desassossego de Ana. Além disso, as várias situações que permeiam a sua existência vêm marcadas por um aspecto de ansiedade, inquietação e mal-estar. Assim, utensílios domésticos aparecem empoeirados e cobertos por teias de aranha; a flor é lânguida e asquerosa, isto é, perdeu a sua conotação original; uma formiga é morta; os besouros são inexpressivos; os mosquitos quebram a harmonia de uma noite cálida de verão e o calor fazia arder seus olhos, sugerindo, assim, a imagem do inferno. Deste rol, convém chamar a atenção para o assassinato da formiga. O ato de matar insetos aparece em pelo menos outros dois escritos da autora: no livro A paixão segundo G.H. (1964), em que a protagonista mata uma barata na parede do quarto da empregada, e no conto A quinta história, da obra A legião estrangeira (1964). Nesse último caso, tem-se a apresentação do ritual que visa à aniquilação de baratas. Tais insetos, nesse enredo, consistem num mal que deve ser exterminado continuamente. Em todos os casos, o ato de exterminar animais consistiria numa atitude catártica, pois equivaleria a exterminar seres humanos.

Tudo o que se passara com Ana naquele dia exige que ela vá a cata de uma ânsia de fuga. É o que acontece depois do jantar que tivera com o marido, os filhos e os parentes. No aparente sossego do lar, ela se coloca na janela do quarto, numa atitude contemplativa, buscando uma possível resposta para o mal que a entorna:

“Depois, quando todos foram embora e as crianças já estavam deitadas, ela era uma mulher bruta que olhava pela janela. A cidade estava adormecida e quente. O que o cego desencadeara caberia nos seus dias? Quantos anos levaria até envelhecer de novo? Qualquer movimento seu e pisaria numa das crianças. Mas com uma maldade de amante, parecia aceitar que da flor saísse o mosquito, que as vitórias-régias boiassem no escuro do lago. O cego pendia entre os frutos do Jardim Botânico”. (p. 28-29).

Ana olha pela janela, procurando recriar um outro universo, através do delírio. Tal proeza não ocorre de modo satisfatório, pois ela sente a limitação que a circunstância, ancorada a sua vida, lhe confere. Ou seja, a noite restringe o alcance de seu olhar, impossibilitando uma apreensão mais definida do espaço a sua volta. Soma-se a isso a quietude da cidade justificada pelo sono das pessoas. O adormecimento dos cidadãos, em certo sentido, perturba a protagonista, pois tal situação se filiaria ao estado de inconsciência desses indivíduos. As frases interrogativas presentes nesse trecho elucidam as incertezas, as dúvidas e a insegurança da personagem. É como se a vida se extinguisse aí. Assim acaba o conto, fazendo referência ao vazio da mulher: “penteava-se agora diante do espelho, por um instante sem nenhum mundo no coração. Antes de se deitar, como se apagasse uma vela, soprou a pequena flama do dia” (p. 29).

A análise do conto em apreciação não foi exaustiva. No entanto, permitiu verificar a riqueza da produção clariceana quando o assunto gravita em torno da situação social da mulher. Lispector não aderiu ao feminismo panfletário. A sua postura é feminista quando ela retrata a discriminação enfrentada pelos sujeitos femininos. Não apenas isso, sua obra é engajada quando ela exibe a mulher não conformada, que se torna consciente do preconceito de seu sexo e, ainda, quando luta contra o monopólio das profissões chefiadas pelos homens. Afora esses detalhes, o artigo procurou demonstrar a relação que se tece entre as condutas patriarcais, a violência contra as mulheres e a ideologia autoritária que camufla a situação dos indivíduos femininos. Portanto, a literatura contribuiria para a formação dos sujeitos, pois, em inúmeros casos, ela questiona certa forma de organização social, exibindo as relações de poder que subjazem a existência humana.

Assim, se a literatura tem esse poder humanizador, porque não descarta o elemento social, a ela compete dessacralizar determinados discursos autoritários. Nesse particular, o conto de Clarice Lispector vai de encontro ao machismo autoritário e às ideologias que transferem as mulheres para uma situação de inferioridade. Não que a produção clariceana queira colocar as mulheres em confronto direto com os homens, ela visa a conscientizá-las de sua condição dentro da sociedade para, assim, alcançarem a unidade com o masculino. Essa integração do homem com a mulher consistiria num processo lento e que deveria estender-se para os mais diversos aparelhos sociais. Deste modo, são as crianças quem primeiro precisariam ser educadas, e caberia à família, à escola e à igreja – só para citar alguns segmentos sociais – esfacelar a ordem autoritária que condena as mulheres numa posição de subordinação e marginalização.

A protagonista do conto analisado, depois de se conscientizar de sua real condição, procura se re-estabelecer. Isso não se dá de maneira satisfatória, pois ela já fora educada dentro de um esquema rígido dirigido pelos homens. Caberia à mulher conquistar o seu espaço, não de modo autônomo e isolado, mas em integração com os homens. Assim, não somente as mulheres precisariam ser educadas, desde crianças, de forma diferente, no sentido de não aceitar as diferenças sociais impostas pelo sexo. Os homens, principalmente, deveriam tomar conhecimento da situação das mulheres, e, desde jovens, assumir um comportamento menos machista para, assim, construir relações menos violentas e autoritárias.

Referências bibliográficas

LISPECTOR, Clarice. A paixão segundo G.H. Florianópolis: UFSC, 1988.

____. A legião estrangeira. 15. ed. São Paulo: Siciliano, 1992.

____. Laços de família. Rio de Janeiro: Rocco, 1998.

Bibliografia de apoio

ALMEIDA, Sandra Regina Goulart. A modernidade da escrita feminina de Clarice Lispector. In: SOUZA, Eneida Maria de (Org.). Modernidades tardias. Belo Horizonte: UFMG, 1998.

BEDASEE, Raimunda. Violência e ideologia feminista na obra de Clarice Lispector. Salvador: EDUFBA, 1999.

FOSTER, David William. Gender and society in contemporary Brazilian cinema. Austin: University of Texas Press, 1999.

HITE, Shere. O relatório Hite: um profundo estudo sobre a sexualidade feminina. Trad. Ana Cristina Cesar. 21. ed. São Paulo: Editora Beltrand Brasil S.A., 1992.

MURARD, Rose Marie. Libertação sexual da mulher. 2. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 1971.

ZOLIN, Lúcia Osana. Desconstruindo a opressão: a imagem feminina em A república dos sonhos, de Nélida Piñon. Maringá: Eduem, 2003.



[1] Doutorando em Estudos Literários pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Bolsista CAPES/CNPq.

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