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APRESENTAÇÃO

Ao apresentarmos o quarto número da Revista Eletrônica Literatura e Autoritarismo, gostaríamos de fazer menção à colaboração dos componentes do Grupo de Pesquisa que, direta ou indiretamente, contribuíram para que esta publicação mantivesse a sua regularidade, colocando à disposição de interessados e pesquisadores desta área temática – tão importante quanto “esquecida” no percurso da nossa formação cultural – estudos que resgatam a importância do debate acerca de problemas cada vez mais presentes na nossa sociedade.

Sob o título O Esquecimento da violência, foram selecionados textos que possuem uma relação com a História e com a visão crítica sobre a formação cultural de sociedades que sofreram uma espécie de “apagamento” dos processos de subjugação a que estiveram submetidas. Assim, a reflexão cada vez mais atual e urgente dos valores culturais existentes na(s) nossa(s) sociedade(s), de não deixarmos que a memória fique carregada de mitos, contribuindo para o mascaramento da realidade, exerce um papel fundamental no respeito à vida e à dignidade humana.

O primeiro texto é apresentado pela Profª Dra. Inara de Oliveira Rodrigues, que faz uma reflexão sobre o percurso anti-épico da história portuguesa, salientando que o processo de quebra dos mitos feito em As Naus, de António Lobo Antunes, principalmente com a humanização dos "heróis", é levado às últimas conseqüências: seu rebaixamento, ou:

O chamado do poeta ecoa distante: "É a hora!", mas com um sentido totalmente renovado, porque já não há mais nada para ser esperado, a não ser a extrema ousadia de humanizar o passado, desglorificar os heróis e desacreditar (...) todas as verdades históricas que não desconfiem de si mesmas.

O texto seguinte, do Prof. Dr. Enrique Serra Padrós [1] trata especialmente dos “usos” da memória (que se constitui em “uma referência de coesão identitária (...) parte da cultura política de uma determinada sociedade), da censura como esquecimento organizado - desmemória – em função da lógica de controle e supressão por parte das ditaduras Latino-Americanas. “A institucionalização do silêncio oficial e a supressão da memória coletiva foram fundamentais para desresponsabilizar os culpados e impor o anestesiamento e a amnésia do silêncio final”.

Isso, a que poderíamos chamar de cultura do medo, também é apresentado  Profª Ms Camila Clélia Alencastro Paes por meio de uma abordagem comparatista entre as obras ¿Quién mató a Palomino Molero? (1986), de Mario Vargas Llosa, e A Caverna (2000), de José Saramago. “De forma crítica, os escritores analisam seu contexto, procurando compreendê-lo de forma  realista e conduzindo o leitor ao conhecimento da verdade que o circunda, ao mesmo tempo em que contribui para que este reflita sobre o papel que lhe cabe na sociedade”.

O Prof. Dr. Marcelo Marinho tece considerações sobre o preconceito racial exercido sobre os indígenas pelas culturas Ibero-Americanas [2] , salientando que a “percepção que se tem do Outro é, de forma geral, vaga e movediça, posto que construída ao grado das flutuações discursivas ligadas a mudanças de interesses sócio-políticos”.

O quinto texto, do Prof. Ms Lizandro Carlos Calegari, consiste em tecer relações entre as definições de história, melancolia e alegoria em Walter Benjamin tendo como referência central alguns de seus mais famosos estudos filosóficos: Sobre o conceito da história e Origem do drama barroco alemão.

Encerrando esta edição da Revista Eletrônica Literatura e Autoritarismo: O Esquecimento da violência, a resenha da Profª Ms Juliana Beatriz Klein sobre a obra No Castelo do Barba Azul, de George Steiner, salienta a questão cultural que o autor aborda através de uma incursão pela sociedade mundial, transfigurada após duas guerras de âmbito planetário.

 


[1] Publicado inicialmente na Revista Letras, do Programa de Pós-Graduação em Letras da UFSM, n° 22: Literatura e Autoritarismo, organizada pelos professores Rosani Úrsula Ketzer Umbach e Jaime Ginzburg , Jan.-Jun. 2001, p. 79-95 (ISSN 1519-3985).

[2] Texto publicado inicialmente na Coleção Ensaios, do Programa de Pós-Graduação em Letras da UFSM, n. 4: Literatura e Autoritarismo, organizada pelos professores Rosani Ketzer Umbach e Jaime Ginzburg, Dez. 2001, p. 83-87 (ISSN 1519-0218).

 
João Luis Pereira Ourique
Rosani Úrsula Ketzer Umbach (Orgs.)
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