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Literatura e Autoritarismo
Dossiê “Escritas da Violência”
Capa | Editorial | Sumário | Apresentação        ISSN 1679-849X Dossiê  

APRESENTAÇÃO

Os textos aqui reunidos foram originalmente apresentados no “Colóquio Projeto Temático Escritas da Violência Módulo I”, que ocorreu nos dias 16, 17 e 18 de outubro de 2007, na FFLCH-USP. Neste colóquio falaram os bolsistas de graduação e pós-graduação ligados ao projeto. O evento foi organizado pelos pesquisadores principais do Projeto Temático e organizadores deste dossiê e foi promovido também pelo Grupo de Pesquisa Literatura e Autoritarismo (CNPq, coordenado pela Profa. Rosani Umbach UFSM), pelo Departamento de Letras Clássicas e Vernáculas da FFLCH-USP, pelo Programa de Pós-Graduação em Literatura Brasileira das FFLCH-USP e pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo.
Nestes trabalhos vemos diferentes abordagens da questão da violência na sua relação com a literatura. Para despertar o interesse do leitor e sobretudo tentando fazer uma pequena sinopse das temáticas abordadas, lançamos aqui, num rápido exercício caleidoscópico, algumas palavras-chave que compõem este dossiê. No campo da literatura brasileira lemos um estudo sobre Eu, de Augusto dos Anjos, que é confrontado com a obra de Rui Barbosa Ruínas de um Governo (trabalho de Maria Olivia Garcia Ribeiro de Arruda). As análises também enfocam os volumes de memórias, ainda inéditos, de Alberto Rangel, intitulados Águas Revessas (1871-1945), que apresentam uma forte relação com as duas Grandes Guerras (contribuição de Fabiana Bigaton Tonin). O trabalho de Larissa Satico Ribeiro Higa estuda as representações da violência no romance Parque Industrial (1933), de Patrícia Galvão, que é lido ao lado de Paixão Pagu – a autobiografia precoce de Patrícia Galvão. Já o ensaio de Carlos Eduardo Fernandes Netto trata de obras de José Geraldo Vieira, João Alphonsus e Boris Schnaiderman na sua relação com a Segunda Guerra Mundial. Outro estudo enfoca a questão do paternalismo em Lavoura arcaica, de Raduan Nassar (trabalho de Ana Carolina Teles). Valéria de Freitas Pereira faz uma análise do conto “Morte segunda”, de Caio Fernando Abreu, publicado no livro Inventário do irremediável. No campo dos estudos do trauma da ditadura brasileira de 1964-1985 o livro Memórias do Esquecimento, de Flávio Tavares, é estudado tanto no artigo de Diego Del Porto Cistia Nieto, como no trabalho de Fabrício Flores Fernandes, que analisa esta obra em confronto com o livro, Retrato calado de Luiz Roberto Salinas Fortes. Jayme Alberto da Costa Pinto Jr., por sua vez, trata do romance Em Câmara Lenta, escrito por Renato Tapajós em 1977, um fruto precoce deste trabalho de trauma da violência da ditadura brasileira. Maria Rita Sigaud Soares Palmeira estuda em sua contribuição a questão da nova literatura dos cárceres a partir das obras de Diário de um detento, o livro, de Jocenir, e de Memórias de um sobrevivente, de Luiz Alberto Mendes. Lemos ainda no trabalho de Ana Silvia Andreu da Fonseca sobre a questão da produção rap como cristalização de uma nova violência urbana aliada a questões trágicas. Pablo Gasparini apresenta um estudo da obra e da linguagem de Néstor Perlongher, o poeta e antropólogo argentino (1942-1992), que se radicou no Brasil em 1982 e produziu com uma escrita “aportunholada”. Já o trabalho de Paloma Vidal trata da obra Las genealogías, da escritora mexicana Margo Glantz, e discute o tema da viagem e da memória nesta obra. Além destas análises, o dossiê traz também um estudo do novo jornalismo de Hiroshima, de John Hersey, A sangue frio, de Truman Capote e Olga de Fernando Morais (trabalho de Cynthia Belgini Andretta) e contém uma análise da obra da escritora ucraniana Irène Némirovsky, ainda pouco conhecida no Brasil e que tem uma forte relação com o percurso dos judeus na Europa na primeira metade do século XX (trabalho de Cristiana Vieira Cancellier de Olivo). A obra do poeta russo Vladímir Maiakóvski é estudada por Paulo Sergio Souza Junior do ponto de vista da relação entre obra poética e inscrição da vida. Patrícia Miranda Davalos apresenta uma análise da primeira obra autobiográfica de Thomas Bernhard e a interpreta como uma mise em scène de sua auto-vitimização. Para finalizar, no campo teórico o dossiê traz uma análise do conceito de horror na sua relação com os conceitos de monstro, estranho e abjeto (trabalho de Marcelo Rodrigues de Moraes).
Como se vê, os trabalhos trilham uma ampla gama de temáticas, sendo que deve-se destacar tanto a tentativa de se trabalhar com autores de fora do cânone, como também de se pensar questões ainda pouco estudadas, como a relação da literatura brasileira com as duas grandes guerras do século XX, ou a literatura nascida da ditadura brasileira e a recente literatura dos cárceres. Ao incorporar trabalhos sobre autores hispano-americanos e europeus fica clara também a intenção comparatista de nosso grupo de pesquisas. Trata-se de pensar constelações de autores, épocas e de conceitos, visando discutir sobretudo a questão da violência na sua relação com a literatura. A qualidade dos trabalhos (alguns de iniciação científica, outros de mestrandos, de doutorandos e de professores doutores realizando seus pós-doutorados) sinaliza que nos dois anos que ainda temos pela frente neste projeto muito ainda poderá ser estudado e discutido visando contribuir para este campo específico dos estudos literários.
Agradecemos à Professora Rosani Umbach, da UFSM por acolher tão gentilmente este dossiê no espaço da revista Literatura e Autoritarismo, parte do grupo de pesquisas com o mesmo nome, que por sua temática e grupo de pesquisadores possui muitos vínculos com o Projeto Temático FAPESP Escritas da Violência.
São Paulo, 22 de outubro de 2008.

Francisco Foot Hardman (IEL-UNICAMP)
Jaime Ginzburg (FFLCH-USP)
Márcio Seligmann-Silva (IEL-UNICAMP)
(Organizadores)

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