A HISTÓRIA HORRÍVEL PARA SER CONTADA DEPOIS DE AGOSTO: UMA ANÁLISE DE DOIS CONTOS DE CAIO FERNANDO ABREURicardo A Moreira1
Atualmente autor referência da literatura brasileira, Caio Fernando Abreu fez parte de uma geração de escritores que foi reprimida pelo autoritarismo do governo ditatorial, sofrendo com a censura e a limitação da liberdade de expressão artística e política. Abordando temas como a incerteza da vida, o medo da morte e do sexo e a abordagem da temática da AIDS, considerada o “câncer gay” nos anos 80 e do qual foi vítima, fez com que um de seus contos, “Linda, uma história horrível” (1988), fosse incluído na antologia The Penguin book of international gay writing em 1995. Dentro da temática da AIDS, o conto “Linda, uma história horrível” (Linda) juntamente com “Depois de agosto” (1995), publicado pouco antes de sua morte em 1996, serão aqui analisados tomando como base os aspectos da doença, da tristeza e da melancolia de seus personagens.
Por meio de uma linguagem simples de tom confessional, Abreu explora as variadas possibilidades de uso da palavra escrita. São profundos sentimentos de desilusão e pessimismo individual e coletivo que se referem ao resultado das “crashing utopias of various kinds in the past few decades, be they political sexual, emotional, or even professional” (ARENAS, 2003, p.46), nas quais suas personagens são apresentadas de maneira conflituosa, tanto em relação aos seus desejos sexuais quanto às suas emoções.
Em “Linda, uma historia horrível”, o narrador-personagem visita a mãe que, morando sozinha, é decadente assim como o ambiente em que vive. A casa e os objetos, a cadela com quem vive e que ironicamente se chama Linda, e o próprio narrador são mostrados em um processo crescente de ruína. A cozinha onde acontece o diálogo entre mãe e filho está manchada de gordura que reflete a pele da mãe com manchas escuras (ou seria o contrário?); a ceratose, que é enfatizada, sílaba por sílaba, é a própria representação do corpo senil em lenta decadência que, assim como o país, se encontra “no caos, na doença e na miséria” (p.15), conforme a manchete do jornal rasgado que cobre o vidro quebrado da janela.
Enquanto a decadência da mãe é clara, a do seu filho, para ela, não é tão óbvia. Ele esconde ou disfarça a magreza e o cabelo perdido a desculpa da cabeça raspada, numa cena em que a mãe olha diretamente em seus olhos. Como a AIDS é uma doença de estágios onde “the presence of symptoms [...] mean that what the patient has is this illness” (Sontag, 1989, p.21), estas são também as primeiras referências que o leitor tem de sua condição de portador do vírus HIV.
A verdade, no entanto, é que não se pode falar sobre a doença, ou não se é forte o suficiente para fazê-lo. A televisão “diz que tem umas doenças novas aí. Umas pestes” (p.18), afirma a mãe, sendo rapidamente interrompida pelo filho, que muda de assunto. Para o leitor atento, a descrição da aparência física do protagonista - magro e perdendo cabelo - sugere o verdadeiro motivo de sua visita: expor para a mãe sua real condição física. Com esse objetivo, a personagem parece perguntar-se: Por que se abrir e apresentar mais negatividade à mãe que, já velha e sem muitos aspectos positivos para compartilhar assim como ele, está nos últimos momentos da vida?
Além da doença apresentar o estigma de seu agente causador ter origem externa, para poder falar da AIDS Abreu faz uso de uma linguagem especial, um tratamento diferente do que era, e ainda é, dado ao câncer que, com estigma e poder semelhante de destruição do doente, não tem como ser evitado. De acordo com Sontag “the unsafe behavior that produces AIDS is judge to be more than weakness. It is indulgence, delinquency – addictions to chemicals that are illegal and to sex regarded as deviant” (1989, p.25), o que faz com que a exclusão se torne um comportamento ‘natural’, e que torna o doente marginalizado.
O processo de exclusão é uma situação ao qual o doente é inevitavelmente submetido. Temos a exclusão pela sociedade devido ao terror da possibilidade de contágio, assim como aconteceu com a sífilis no século XVI, a tuberculose no século XIX e, em seguida, com o câncer até o surgimento da AIDS (SCLIAR 2003; SONTAG 1989). O isolamento do indivíduo com o vírus é semelhante ao do sifilítico porque resulta de um “angustiante, melancólico desamparo, conseqüência do esgarçamento do tecido social” (SCLIAR, p.46), onde certamente a vergonha de se expor não somente possibilita um julgamento de seu comportamento e de sua condição de doente pela sociedade, uma vez que a contaminação pelo vírus HIV decorre de agente externo, diferentemente do câncer que resulta de mau funcionamento orgânico.
Em “Linda”, o relacionamento entre mãe e filho está enfraquecido há muito tempo. O saudosismo de momentos familiares apenas contribui para o aumento da tristeza e da melancolia no momento em que se encontram. É uma relação familiar desgastada que reflete e acentua a decadência dos corpos das personagens. O futuro para eles não apresenta esperança, apenas a perpetuação da fatalidade que acometeu os outros familiares, o que contribui em tornar sua existência ainda mais horrível.
O voltar ao passado, para tal personagem, não passa de uma tentativa de escapar do futuro incerto e doloroso que virá com a doença, um momento de melancolia para quem tem o presente marcado pela tristeza (Ginzburg, 2008, p.109). É também um reflexo do desejo de voltar no tempo, rebobinar a fita da vida, ver a brancura das casas que antecedem a da mãe, diferentes daquela casa velha em que ele se encontrava. Entretanto, tais fugas ou visões imaginativas e memorialistas não representam nenhuma solução. São apenas válvulas de escape em que se confundem “alívio, vergonha” (ABREU, 1988, p.15), o medo e o desejo da morte naquele momento.
A confusão entre os sentimentos de alívio e vergonha para o protagonista nos permite a compreensão mais ampla de sua situação. O alívio com a morte breve o pouparia do processo degenerativo que acomete os doentes na mesma situação. No entanto, a vergonha é um fator ainda importante, pois evitaria a possível revelação de sua vida íntima. A vergonha advém, nesse caso, do fato de as pessoas associarem a situação desses doentes ao seu principal risco de contágio – sexual –, o que certamente revelaria sua orientação.
A vergonha da protagonista nos permite observar sua dificuldade de expor seu problema. É uma situação de ‘contramão’ à situação de desesperança, e a opção que lhe resta é calar-se. Qualquer movimento serve para se desviar daquele momento que deveria ser encarado, redirecionando a conversa. “Quase falou [... e] desviou os olhos para baixo da mesa” (ABREU, 1988, p.18) e afirmou para mãe que tudo estava bem. É a vergonha e a marca da vulnerabilidade individual e social advindos com a revelação do comportamento sexual promíscuo (SONTAG, 1989, p.65-73).
A negatividade e o pessimismo descritos em “Linda” ocorrem de maneira semelhante em “Depois de agosto” (1995). Na ocasião em que o conto foi escrito, um ano antes da morte de Abreu, o autor revela em suas diversas partes, ora o reflexo de suas dores e dificuldades, como portador do vírus HIV, ora seu sofrimento como doente de AIDS.
A primeira parte do conto já nos revela a perspectiva da morte, que aparecerá outras vezes no decorrer do texto no uso que o autor faz de símbolos da cultura africana, mais precisamente dos nomes de orixás, começando pelo subtítulo Lázaro. São Lázaro é o orixá protetor dos enfermos, tendo a palavra “lazarento”, tanto em seu contexto bíblico como popular no Brasil, como referência à pessoa doente.
É agosto, tido também como mês de azar e desgosto na superstição brasileira. A sensação do protagonista de não pertencimento ao local onde se encontra está em contraste com o horizonte do outro lado da avenida, preenchido de túmulos. A esperança e a alegria não são mais elementos que fazem parte desse sujeito, sendo percebidas apenas em um ‘outro’ que também não se encontra próximo, mas em um lado diferente. Nesse momento inicial, a percepção do passar do tempo para esse indivíduo tem um sentido diferente. Nele, as dores e sensações se misturam porque nada mais faz sentido, sendo tarde demais para ter o privilégio de desejar.
Surge então a Primavera na segunda parte. Um significativo tempo em que a mudança de estação serve para as pessoas demonstrarem alegria e dividir histórias, para a protagonista é um momento em que seu mundo passa a ser controlado pelo mal-estar causado pelas drogas que o mantêm vivo e que, por outro lado, o coíbem da verdadeira sensação de viver. Drogas usadas para controle do vírus e que podem dar sentido à vida, mas que, junto com a falta de esperança resultantes do mês anterior, jamais o permitem olhar para o futuro ou fazer planos.
Poder chegar à Primavera para o protagonista contraria o que pode ser visto como o início de um processo de renovação após o inverno. A riqueza de cores e a possibilidade de renovação com o novo tempo estão presentes, mas nada tem representação significante. Todos esses elementos fazem parte das outras pessoas, das que estão do “Outro Lado com suas deliciosas histórias de vivas desimportâncias” (p.256) porque a possibilidade de ter superado o mês do desgosto já é uma conquista. Interessantemente, esse ‘Outro Lado’ é tão melhor que merece ser tratado por iniciais maiúsculas. É um mundo onde se vive e ao qual ele não mais pertence, sendo seu futuro apenas resultante da morte ainda não ter chegado. O pessimismo é crescente e a consciência de que logo o fim de um novo ciclo chegará e não haverá mais tempo para se viver como os viventes são claros, visto ele não mais pertencer a esse grupo.
Esses sujeitos melancólicos apresentados por Abreu, nos contos aqui tratados, estão vinculados a um processo semelhante ao que ocorreu no século XIX quando as “mudanças [e] as transformações sociais de um mundo globalizado chegaram ao Brasil” (SCLIAR, 2003, p.203), e que ressurge com o advento da AIDS no século XX. Abreu adiciona à sua dor pessoal o momento em que no Brasil acontece um bombardeio de informações referentes aos riscos e formas de contágio do vírus HIV, e que acometeu às vítimas devido ao estigma criado em torno da doença contraída. Justamente o drama da protagonista de “Linda”.
O tempo continua a passar e a informação que temos diz respeito apenas a momentos isolados que, na verdade, são relevantes para cada fase na vida do protagonista. A falta de ligação direta entre as partes do conto cria um bloqueio interpretativo sobre o leitor e gera relativa dificuldade para se entender o porquê da importância das mesmas. É interessante que, por mais estranhos que sejam os pontos apresentados, talvez por causa da dor da doença e da maneira através da qual o protagonista se relaciona com a vida, na epígrafe já se percebe que há pouco a dizer sobre essa fase, mas que, ao mesmo tempo, não deve ser tratada com frieza.
A verdade é que o conto é repleto de certo mistério e cabe ao leitor desvendar o que se passa com o protagonista, na representatividade ficcional dos fatos do dia-a-dia para ele, bem como sua relevância. São acontecimentos distantes entre si, que deixam o leitor a imaginar que nada substancial ocorreu ao protagonista, períodos vazios de vida, tão doloridos que devem ser omitidos, e permanecer silenciados, evitando assim que sejam revividos.
Em Anunciação já é janeiro. O subtítulo nada mais é que o aviso da chegada, assim como em uma anunciação bíblica, de um ‘outro’ personagem que vive a mesma gentil crueldade. São descobertos os mesmos gostos entre eles, porém a consciência o fazia reforçar sua condição de lazarento uma vez que
AIDS ha[d] turned out to be one of the most meaning-laden of diseases, along with leprosy and syphilis, clearly are the checks on the impulse to stigmatize people with the disease. [This way] the illness is such a perfect repository for people’s most general fears about the future to some extent renders irrelevant the predictable efforts to pin the disease on a deviant group or a dark continent (SONTAG, 1989, p.92)que o levava a evitar qualquer contato entre os dois devido à auto-repulsa em relação à sua condição. A repulsa inicial é então posta de lado na parte intitulada Espelho, quando um encontro com um desconhecido revelará este como igual. O “outro”, que a princípio se imaginava fazer parte do ‘outro lado’, do grupo do qual ele não pertence mais devido à negatividade que se tornou recorrente em sua vida, surpreendentemente é igual a ele. A revelação se dá por meio do raio de Iansã, a deusa dos raios e das tempestades, quebrando o momento de tranqüilidade em que se encontravam. Abreu apresenta o narrador ressaltando elementos que na cultura popular brasileira representam otimismo e força. O fato de mencionar orixás não é somente uma forma de valorizar símbolos religiosos, sendo eles também marcadores de energia e proteção daquele sujeito que é vítima de uma doença que, como em “Linda” não se fala, ou não se pode falar, apenas sugerir.
A beleza da natureza para ele, não apresenta nenhum aspecto positivo. Cores, flores e os orixás são apenas representações simbólicas. Bons sentimentos já não fazem mais parte de sua vida. O medo e a inconstância se tornam elementos constantes do seu dia-a-dia. O choque da revelação entre os dois personagens prova ao protagonista que a condição de pertencer ao ‘seu’ grupo, ou estar no mesmo lado que o seu, não é exclusividade sua, provando a existência de outros iguais a ele. A bonança após a tempestade, apresentada com o reconhecimento dos dois como iguais, é concretizada com a suavidade de uma valsa, o que não impedia a sensação de que mesmo assim era “tarde demais [....] sobretudo para o amor” (ABREU, 1995, p.256). Ainda que pudessem se tocar, haveria sempre a impossibilidade de permanecerem juntos.
O encontro, que antes serviria para trazer de volta a alegria perdida, logo dispersa. A negatividade e o desânimo de antes prevalecem num dualismo de luta com o prazer. A excitação do toque dos corpos contrasta com a lembrança das dores de agosto, e se mistura com o terror da lembrança da batalha entre o retrovírus e a zidovudina. A identificação com Rá, deus egípcio que renascia a cada manhã morrendo no fim do dia, prova que, para ele, o renascimento era incerto e só restava a certeza da sensação da morte de cada dia e da proximidade de seu próprio fim. Assim, segue a vida dos dois após o encontro e a troca de confidências, restando apenas “talvezes” e possibilidades.
A frustração e a insegurança para com o futuro revelam mais uma vez, como acontece em “Linda”, a incerteza causada pela passagem do tempo. A recorrência causada pela convivência com o vírus faz com que, além de esperar que tudo terminasse de uma vez por todas, os sintomas da doença não permitam olhar quais seriam as possibilidades para a vida. Sontag argumenta que “AIDS imposes an act whose ideal is an experience of pure presentness (and a creation of the future) a relation to the past to be ignored at one’s peril” (1989, p.72), exatamente o que acontece com os protagonistas. Entretanto, o presente é vivido tristemente, o futuro não apresenta qualquer perspectiva de (re)criação, não faz sentido para eles ter esperança e o passado apenas traz a melancolia dos momentos que puderam ser vividos intensamente.
A quase alegria, uma característica ausente em sua maior parte, oscila com momentos de ‘não-tristeza’. Em “Linda”, o sorriso da mãe ao admirar o líquido verde do isqueiro a brilhar é rapidamente interrompido pelo protagonista que fecha a mão e impede sua continuidade. A alegria do encontro em “Depois de agosto” leva os personagens a rirem e também impede que planos sejam feitos. Ginzburg (n.d.) vê que no encontro, ambos os personagens se permitem um “contato corporal espontâneo”, mas mesmo quando se permitem tal comportamento, suas condições físicas em processo de degeneração não são esquecidas, o que leva a felicidade a ser um elemento proibido e fugidio. Não há ‘futuro’ para os dois que seguem suas vidas e a quem é permitido apenas se imaginarem novamente juntos quando sozinhos e isolados, cada um em seu canto, contando somente com os próprios braços para os abraços. A melancolia, no entanto, prevalece em suas experiências sobre os momentos que poderiam servir como fugas, interrompendo como força maior de dor ou negatividade.
Em cada parágrafo de “Linda”, e em cada parte e subtítulo de “Depois de agosto”, Abreu apresenta mais do que frases de um conto. O que a princípio pode ser lido de maneira simples pela clareza expressada das palavras usadas, onde acontecem “lances sugestivos e subliminarmente articulados” (Ginzburg n.p.) na verdade são de maior complexidade que se apresentam. Suas frases curtas repletas de contraste deixam ao leitor o papel de saber o que há com aqueles personagens, qual o motivo verdadeiro de seus comportamentos e a razão pela qual tantos elementos se misturam. Não cabe ao escritor explicar, mas certamente cabe ao leitor entender o doloroso processo do passar do tempo onde os protagonistas se dividem entre sofrer pelo passado que não volta mais, o medo do futuro e dos efeitos que possam surgir com o avanço da doença e o presente que serve para contemplar os momentos de dor.
A visão negativa que Abreu transmite com o elemento corpo é o aspecto único que evidencia a AIDS como o problema dos personagens. A cachorra Linda espera a morte, a mãe velha com dedos amarelos de cigarro e o filho magro que ‘reflete’ a decadência da casa antiga numa cidade de província são partes do retrato de uma história destituída ficcionalmente de beleza. Do outro lado, ou seria do mesmo lado?, o outro personagem é “o mais sarnento de todos os cães do beco mais sujo de Nova Délhi” (p.251) e sofre com a impureza originada ‘depois de agosto’.
O desconforto emocional no comportamento dos personagens é uma característica evidente. Ginzburg vê que em “Depois de agosto” o que marca o protagonista “não é o sofrimento físico da sintomatologia da doença, mas o sofrimento emocional, pelo senso da solidão e ruína interna” (n.p.) que acontece de maneira descontrolada. Acrescenta-se em “Linda”, além de todos os fatores internos, se podemos caracterizá-los assim, a sua decadência externa: perda de peso e cabelo, as manchas na pele – o sarcoma de Kaposi que foi inicialmente um dos primeiros alarmes decorrentes do HIV – “da cor antiga [roxa] do tapete na escada, espalhadas embaixo dos pêlos do peito” (ABREU, 1988, p.22), e a insegurança sobre contar ou não sobre sua condição durante o encontro com a mãe. São fatos que se juntam e fazem com que surja uma mistura confusa seguida de vertigem ao perceber-se no espelho como “apenas a sombra de um homem magro demais” (p.21), não mais como matéria mas apenas como contorno, como sombra do que deveria ser.
Há mais densidade e semelhança entre as duas narrativas – são distintas à primeira vista – do que inicialmente aparentam. Uma segue a seqüência de acontecimentos (“Linda”) e a outra, com saltos no tempo e espaço nos apresenta apenas momentos relevantes (“Depois de agosto”). A verdade é que ambos os narradores, perdidos e em busca de um verdadeiro sentido para os momentos finais de sua existência, ao final de cada conto, deixam a história, que são suas histórias pessoais, aberta.
Uma das narrativas, o que a princípio poderia ter a função de organizar a complexidade do momento existencial, na verdade termina porque seu narrador não consegue dar prosseguimento porque sua dor o impede de fazê-lo. Em “Linda”, a epígrafe, Só as mães são felizes, já é o anúncio da exclusão do narrador dessa condição de felicidade. Por outro lado, a epígrafe de “Depois de agosto” pode nos leva a um duplo entendimento. A ironia de ser “uma história positiva”, que nos conduz à pergunta sobre o que há de positivo na história, é a verdadeira realidade que o próprio conto recria ficcionalmente: a condição de soropositivo das personagens. Um mistério que cabe ao leitor decidir e talvez conduzir à compreensão.
Referências bibliográficas ABREU, Caio F. Os dragões não conhecem o paraíso. São Paulo: Companhia das Letras, 1988. ABREU, Caio F. Ovelhas negras. Porto Alegre: Sulina, 1995. ARENAS, Fernando. Utopias of Otherness: nationhood and subjectivity in Portugal and Brazil. Minneapolis: University of Minnesota Press, 2003. GINZBURG, Jaime. “Memória da ditadura em Caio Fernando Abreu e Luís Fernando Veríssimo. Letterature d’America, v. 113, p. 95-110, 2008. SCLIAR, Moacyr. Saturno nos trópicos: a melancolia européia chega ao Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 2003. SONTAG, Susan. AIDS and its metaphors. New York: Farrar, 1989. SONTAG, Susan. Illness as metaphor. New York: Farrar, 1978. 1 Doutorando em Hispanic and Lusophone Literatures, Cultures, and Linguistics na University of Minnesota. E-mail: morei010@umn.edu. PORT 5530 – Brazilian Literary and Cultural Studies.
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