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Literatura e Autoritarismo
Dossiê Artistas e Cultura em Tempos de Autoritarismo
Capa | Editorial | Sumário | Apresentação        ISSN 1679-849X Dossiê nº 7 

APRESENTAÇÃO

Este número da revista Literatura e autoritarismo traz o dossiê intitulado "Artistas e cultura em tempos de autoritarismo". Originalmente, o projeto consistia numa coletânea sobre o tema durante a ditadura militar e civil instaurada em 1964. Depois ponderamos que seria válido ampliar a abrangência do dossiê. Afinal, o autoritarismo não se restringe ao Brasil nem àquele momento histórico, ainda que tenha aqui merecido atenção especial.
É evidente que tal abrangência não permite esgotar as múltiplas possibilidades do tema, cada vez mais estudado. Este número da revista traz contribuições recentes de pesquisadores de diversas universidades que realizaram teses ou dissertações em Sociologia, História e Letras, tratando das relações entre cultura, sociedade e políticas autoritárias.
Para abrir o número da revista, foi editada – praticamente na íntegra – uma longa entrevista concedida por Ferreira Gullar a Marcelo Ridenti, na qual abordou sua trajetória cultural e política, destacando temas como os artistas comunistas, o Centro Popular de Cultura, o Teatro Opinião, a censura, o exílio e a redemocratização.
Quanto ao conjunto de artigos, estes foram organizados conforme os seguintes recortes temáticos: Escritores em tempos autoritários; Literatura, sociedade e política; Teatro, teledramaturgia e cinema: a ditadura militar brasileira; e Livros e edições subversivas.
A seção “Escritores em tempos autoritários” abre com o texto de Felipe Victor Lima sobre o Congresso Brasileiros dos Escritores de janeiro de 1945, que foi um marco tanto para a profissionalização como para o engajamento dos escritores nas lutas sociais de seu tempo, tomando por base as reflexões de Mário de Andrade no final da vida, embora ele tivesse desempenhado pessoalmente um papel discreto durante o evento. Um paralelo a essa resistência à ditadura Vargas encontra-se na oposição de artistas e intelectuais à ditadura instalada com o golpe de 1964, tema do segundo artigo do dossiê. Nele, Miriam Hermeto disseca o prefácio do livro Gota D’Água, de Chico Buarque e Paulo Pontes, tomando-o como um manifesto-projeto de ação coletiva de artistas e intelectuais em meados dos anos 1970, buscando combater a ditadura e esboçar um novo projeto cultural para o Brasil. Em seguida, vem o texto de Mariana Chaguri sobre aspectos da trajetória de Cyro Martins, com base na correspondência que trocou com Augusto Meyer, no contexto da vida intelectual em Porto Alegre nas décadas de 1930 e 1940, que se desenvolvia no início da era Vargas. Dando outro salto no tempo, em direção à experiência mais recente de autoritarismo, Clovis Carvalho Britto trata da poética da “geração mimeógrafo”, construída nos anos 1970 durante a ditadura, com destaque para a participação de Ana Cristina César.
O segundo bloco temático, “Literatura, sociedade e política”, abre com artigo de Álvaro Marins, no qual interpreta a relação de subordinação do indígena com o colonizador pela análise de dois casamentos mestiços nos romances de José de Alencar, O guarani e Iracema. Por sua vez, Robson dos Santos desenvolve uma análise da relação entre espaço social, violência e autoritarismo no romance Terras dos sem fim, de Jorge Amado. Já Vera Ceccarello discute o tema da ditadura militar brasileira na estruturação dos romances Dois irmãos e Cinzas do norte, obras de Milton Hatoum nos anos 2000, nas quais o autoritarismo apresenta consequências importantes para os personagens e os rumos da narrativa. Fechando a seção, Eduardo José Tollendal discute a crítica estruturalista em contraponto com a crítica marxista, ambas marcadas pela política autoritária, tomando como exemplos o Brasil e a Bulgária.
Três artigos compõem o eixo “Teatro, teledramaturgia e cinema: a ditadura militar brasileira”. O primeiro, de Miliandre Garcia, enfoca as ambiguidades do ministro da Justiça Gama e Silva – e da própria ditadura –sobre o tema da censura, particularmente no âmbito do teatro em 1968. O segundo, de Igor Sacramento, analisa as diferentes matrizes estéticas presentes nas telenovelas de Dias Gomes Bandeira 2, O Bem-Amado e Sinal de Alerta, produções dos anos 1970 que contaram com um herói negativo como protagonista. Para encerrar o tópico, Caroline Gomes Leme faz um panorama dos filmes brasileiros que abordaram a ditadura militar no contexto de abertura política nos anos 1980, com ênfase na análise da representação da tortura.
Por último, mas nem por isso menos importante, vem a seção “Livros e edições subversivas”, com dois textos que podem ser lidos em paralelo, um sobre o Brasil e outro sobre Portugal na vigência de regimes autoritários. Rodrigo Czajka analisa as acusações judiciais e políticas, logo após o golpe de 1964, à coleção História Nova do Brasil, produzida e publicada no início daquela década por intelectuais ligados ao Instituto Superior de Estudos Brasileiros. Enquanto Flamarion Maués aborda a atuação de editoras de caráter político em Portugal antes e depois da Revolução dos Cravos de 1974, que representavam um desafio ao poder instituído, destacando-se as editoras Seara Nova e Estampa.
Enfim, este dossiê traz uma amostragem significativa do que tem sido produzido na Universidade brasileira sobre "artistas e cultura em tempos de autoritarismo".
Abril de 2012

Marcelo Ridenti
Robson dos Santos
Rodrigo Czajka
(Organizadores)

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