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Literatura e Autoritarismo
Literatura, Autoritarismo e Violência no Brasil do Período Colonial
Capa | Editorial | Sumário | Apresentação        ISSN 1679-849X Dossiê nº 11 

APRESENTAÇÃO

Os leitores deste volume da Revista Literatura e Autoritarismo talvez tenham uma expectativa ao se defrontar com o título do Dossiê inicialmente proposto – Literatura, Autoritarismo e Violência no Brasil do Período Colonial. Na qualidade de editores, também tínhamos uma expectativa ao lançar a chamada, que propunha a recepção de contribuições que tratassem do assunto sob a mais variada gama de abordagens, observando sempre o objeto literário como ponto de partida. Não só a questão colonial estava em tela, com possível discussão da teoria pós-colonial, até mesmo no seu espaço de manifestação em relação à antiga metrópole, mas também o conjunto de mentalidades que norteou a exploração da terra brasileira, as relações com a Igreja Católica e os momentos de grave dificuldade de compreensão do contexto imperialista de dominação da terra (particularmente na vida de brasileiros em Portugal). A proposição era que os artigos discutissem a vida cotidiana da colônia, os ideais de vida terrena e de salvação religiosa, os procedimentos de regulação dos comportamentos dos mazombos, dos índios e dos escravos. Também era de especial interesse a abordagem de textos românticos que idealizaram um país heroico e ético e que revelassem em si os paradoxos de uma vida permeada pelo autoritarismo e pela violência, onde caberia, ainda, o estudo de gênero e também da afrobrasilidade.
Respeitando os prazos estabelecidos para a recepção das colaborações, recebemos poucas, o que, não negamos, de início nos frustrou. Muitas hipóteses sobre esse fato nos vieram à mente: uma interpretação histórica mais alargada do que foi o período colonial e o Brasil Império, já liberto do jugo português; um possível descaso, por parte dos cursos de graduação e de pós-graduação em Letras, para com a literatura praticada no Brasil Colonial; a falta de suporte teórico para apreciar com qualidade metodológica os textos literários coloniais; a sedução exercida pela aparente facilidade com que se pode falar daquilo que é contemporâneo a nós. Enfim, pensamos, inclusive, nos termos com que elaboramos a chamada e na incompreensão do que foi escrito. Ao final, chegamos à conclusão de que todas as hipóteses lançadas são possíveis e aceitamos o desafio de trabalhar com o material que nos foi remetido.
O artigo “Os limites retórico-teológicos no Sermão Vigésimo Sétimo, o terceiro da séria Maria Rosa Mística, de António Vieira”. Com base em um aporte teórico retórico, demonstra-se que no sermão de Vieira convivem, em simbiose, representações seculares – o Império Português e a Igreja Católica – e a representação do absoluto que é Deus, com suas manifestações supostamente registrada nas Sagradas Escrituras.
Em “Uma crônica para Gobineau”, propõe-se a leitura de uma crônica literária do jornalista José Brito Broca sobre o embaixador francês Joseph-Arthur de Gobineau quando de sua passagem pelo Brasil (1869 a 1870), com destaque para o fato de ele ter sido um dos mais significativos teóricos do racismo no século XIX. É o olhar de Gobineau para os brasileiros que comprova sua visada racista.
A mocidade de Trajano: a representação da violência e do preconceito no Brasil do século XIX” tem como centro de análise o romance A Mocidade de Trajano, do Visconde de Taunay, criador de uma obra em que temas como a escravidão e o sofrimento do negro nas fazendas brasileiras são tratados como expoentes da violência e do preconceito, bem como das práticas culturais que marcaram o século XIX no Brasil imperial.
A representação da mulher é analisada em “O espaço de dominação e clausura em Inocência, de Visconde de Taunay”, com atenção voltada para a figuração da mulher e os paradoxos que a cercam na obra romântico-realista desse autor.
Branca Dias e seu padecimento sob o Tribunal do Santo Ofício é lembrada no artigo “O jogo de identidades em O Santo Inquérito, de Dias Gomes”. Em um contexto de perseguição político-religiosa, os cristãos novos são obrigados a praticar um jogo de encobrimento e de embaralhamento de suas identidades no Brasil colônia, o que estabelece um conflito entre uma identidade que lhes é imputada pelo poder vigente e a identidade que eles carregam consigo, uma mescla entre judaísmo e cristianismo.
Ao fazer uma leitura do romance A História do Ventríloquo, da escritora guianense Pauline Melville, em “Representações da espacialidade discursiva das personagens no romance A História do Ventríloquo”, o autor utiliza conceitos advindos do multiculturalismo e do pós-colonialismo, tendo como propósito a compreensão das negociações em uma zona de contato da América do Sul, a Guiana. Esse é o único artigo selecionado que não trata de literatura brasileira, porém faz uso do pós-colonialismo como alicerce teórico.
Que os interessados tenham uma boa leitura!

Alamir Aquino Correa
Rosana Cristina Zanelatto Santos
(Organizadores)

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