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Capa | Editorial | Sumário | Apresentação ISSN 1679-849X | Revista nº 9 |
APRESENTAÇÃOEsta edição da revista eletrônica Literatura e Autoritarismo, visando oportunizar o debate acadêmico amplo, apresenta estudos literários dedicados a obras depositárias da tensão entre lembrança e esquecimento da repressão política praticada no Brasil durante o regime militar, bem como em outros países. O subtítulo Memórias da repressão aponta para a necessidade de recordar o passado e de refletir, também através da literatura, sobre a violência política e seus desdobramentos na vida das pessoas que a ela estiveram expostas.
“O passado não está morto, nem mesmo passou. Nós o separamos de nós e fingimos que não é conosco”, escreve Christa Wolf Christa Wolf1, autora alemã, referindo-se ao período nazista na Alemanha e à dificuldade de se enfrentar um passado de culpa. Esquecer uma história de violentações significa enterrar o passado, eximir-se de qualquer responsabilidade. Lutar contra o esquecimento é não permitir que a repressão política volte e que a injustiça se perpetue.
Nesse sentido, a questão da culpa e do dever de recordar, presente na afirmação de Nelly Richard em relação ao Chile pós-golpe, tem validade também para o Brasil e outros países em situação semelhante:
Recordar, hoje, a tensão e os dilaceramentos dessa arte da memória é uma maneira de não deixar-se enganar pela consignação da transparência que, em nome do realismo instrumental do consenso e de sua lógica sociocomunicativa, trata de eliminar toda a aspereza da superfície, excessivamente polida e educada, dos signos do acordo. Resgatar essa memória como campo de forças plurais e divergentes serve para abri-la a uma multiplicidade de pontos de vista cujas contradições não devem permanecer silenciadas pela vontade atual de dissolver toda opacidade, de eliminar todo corpo estranho que ameace tornar turva a visão de uma história social e cultural falsamente reconciliada consigo mesma.2 Questões relacionadas à violação dos direitos humanos e ao trauma provocado pela violência política deixaram suas marcas em textos literários surgidos à sombra de ditaduras. É sobre essas poesias e narrativas que os estudos aqui disponibilizados se debruçam, trazendo à luz memórias, testemunhos, histórias.
A primeira parte da revista, voltada ao tema da repressão e posterior anistia no Brasil, apresenta, como destaque, o ensaio “Paulo César Fonteles de Lima - Poesia e Ditadura”, de Steven Uhly. O destaque se justifica com os vinte anos do assassinato de Paulo Fonteles, ocorrido em 11 de junho de 1987. Justamente vinte anos depois, suas primeiras poesias serão publicadas no Brasil. Steven Uhly apresenta, de antemão, uma seleção de poesias de Fonteles, ainda inéditas no país, além de seu contundente relato sobre as torturas que sofreu nos porões da ditadura.
O ensaio “Anistia e (In)Justiça no Brasil: o dever de justiça e a impunidade”, de Márcio Seligmann-Silva, aborda a questão das políticas de memória relacionadas ao apagamento da culpa, trazendo “reflexões sobre a anistia como amnésia oficial e o dever de memória”. Nesse contexto também são analisados os versos da música “Angélica”, de Chico Buarque.
O trabalho intitulado “Opressão e violência em Notas de Manfredo Rangel, repórter (a respeito de Kramer), de Sérgio Sant’Anna”, apresentado por Carlos Vinicius Veneziani dos Santos, analisa a relação entre a obra e o contexto de sua produção, enfatizando “a presença de uma crítica ao autoritarismo e à opressão do indivíduo” no texto literário.
A segunda parte da revista contém estudos voltados à literatura de outros países. Começando pela Argentina, o texto “Um pacto com a santa, ou Autenticações demoníacas no romance de Eva Perón?”, de André Luis Mitidieri-Pereira, analisa a posição do narrador no romance Santa Evita, de Tomás Eloy Martínez, sob o viés das “relações entre ser histórico, modelo e personagem”.
Voltado à literatura espanhola, o trabalho “O poder e as instituições em A Casa de Bernarda Alba”, de Luciana Ferrari Montemezzo, centra suas atenções sobre a última obra de Federico García Lorca, mostrando o castigo que é reservado “àqueles que ousam desacomodar a ordem vigente”.
Sob o título “O testemunho em É isto um homem?, de Primo Levi”, Joselaine Brondani Medeiros reflete sobre o horror nazista perpetrado contra os judeus durante a II Guerra e sobre a questão do testemunho na obra do autor italiano.
Fechando esta edição da revista, o texto “Atrocidade de elite – Literatura e artes como locais de violência”, de Jürgen Wertheimer, apresenta reflexões sobre a violência na literatura e nas artes e sua recepção por parte dos intelectuais, no âmbito da mídia e da crítica cultural alemãs.
Agradecemos aos autores que generosamente disponibilizaram seus textos para a nona edição da revista Literatura e Autoritarismo.
Rosani Úrsula Ketzer Umbach
João Luis Pereira Ourique Lizandro Carlos Calegari (Org.) |
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