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Literatura e Autoritarismo
          Sujeito, Memória e História
Capa | Editorial | Sumário | Apresentação        ISSN 1679-849X Revista nº 10 

APRESENTAÇÃO

Chegando ao décimo número, a revista eletrônica Literatura e Autoritarismo, seguindo sua tradição de oportunizar o debate acadêmico, apresenta estudos literários voltados a obras oriundas, em sua maioria, de escritores brasileiros, mas contemplando também um autor russo e representantes da teoria da literatura alemã. O subtítulo Sujeito, memória e história alude à temática desta edição, presente nos artigos que a compõem. São tratadas questões relacionadas ao sujeito lírico e ao entrelaçamento de discursos memorialísticos e históricos na literatura, a qual expõe realidades subjetivas que muitas vezes se vinculam ao contexto de produção.
A contribuição de Christoph Schamm, intitulada Alemanha, há cem anos: nascimento e morte do eu lírico, apresenta, em edição bilíngüe alemã-portuguesa, reflexões sobre o sujeito lírico e seu percurso dentro da teoria da literatura no último século. O autor busca assinalar a diferença que se percebe entre a poesia do século XX e aquela em que a expressão de uma subjetividade se dá através de um “eu” explícito.
A poesia passada a limbo (Reflexões sobre Grupo Escolar de Cacaso), de autoria de Débora Racy Soares, reflete sobre dois poemas de Cacaso, “procurando demonstrar como eles dialogam com o momento de produção”. Para a autora, esse diálogo se estabelece uma vez que os poemas analisados lidam com imagens de violência, mutilação, morte, traduzindo uma experiência traumática da existência.
O problema da história na fortuna crítica de A rosa do povo, artigo de Cristiano Augusto da Silva Jutgla, centra a atenção na recepção do livro de Carlos Drummond de Andrade por parte da crítica, quando esta aborda o termo história. Do ponto de vista do autor, em virtude dos regimes conservadores, o vocábulo história foi tratado de forma abrangente e generalizante ao longo do século XX. Com o processo de democratização observado no último decênio do referido século, o termo teria recebido um tratamento mais específico de forma que seu significado leve em conta as circunstâncias históricas e sociais.
O artigo A personalidade autoritária em Os Demônios de Dostoievski, de Alexandre M. Botton, analisa, na obra do autor russo, o que a Teoria Crítica, representada aqui por Adorno e Horkheimer, denominou como “personalidade autoritária”. Também é de interesse do autor avaliar a polifonia da obra, procurando defender a hipótese de que tal recurso é uma forma usada para diluir o autoritarismo expresso no texto.
Em Herança de Philogônio: a poética do mando em O mulo, de Darcy Ribeiro, apresentado por Jean Pierre Chauvin, tecem-se considerações a respeito da “autobiografia de Philogônio Castro Maya: coronel do sertão goiano”, personagem da obra que representa o “mandante” brasileiro. Assim, o autor tenta estabelecer a idéia de que Philogônio Castro Maya resguarda traços que estabelecem ligação com o perfil da classe dominante no Brasil.
Em O nacionalismo verde: a ideologia pliniana na alma de Trepandé, são traçadas considerações acerca da dimensão ideológica alcançada pelos livros de Salgado quando do seu envolvimento com a Ação Integralista Brasileira. Centrado na análise do livro Trepandé e calcado em elementos teóricos propostos por Lucien Goldmann, o autor do artigo procura demonstrar que a produção de Salgado prima pela valorização de ideologias autoritárias.
A violência em Capão pecado, de autoria de Carolina Correia dos Santos, procura estudar o personagem principal do romance de Ferréz quando envolvido em episódios de violência. A partir de tal análise e retomando alguns elementos teóricos de Edward Said, Gayatri Spivak e João César Castro Rocha, a autora demonstra que a obra está calcada na busca da construção de uma idéia de descrença no projeto de modernidade.
Também se ocupando da literatura marginal, tem-se o artigo de Flávia Cera intitulado Corpus: a vida política. A autora estuda um livro de contos de Ferréz, Ninguém é inocente em São Paulo, que, caracterizado pela fragmentação, faz explodir a violência, o racismo, a desigualdade e o preconceito, desnudando um país que tem subjacentes princípios autoritários de estruturação.
Cada uma dessas propostas é importante porque, direta ou indiretamente, lidam com questões que dizem respeito a problemas de constituição de subjetividades, o que, inevitavelmente, conduz o leitor, de uma forma ou de outra, ao interior do debate.
Agradecemos aos autores que generosamente disponibilizaram seus textos para a décima edição da revista Literatura e Autoritarismo.


Rosani Úrsula Ketzer Umbach
Lizandro Carlos Calegari
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