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Literatura e Autoritarismo
       Rememoração e Reminiscência
Capa | Editorial | Sumário | Apresentação        ISSN 1679-849X Revista nº 16 

APRESENTAÇÃO

Com o título REMEMORAÇÃO E REMINISCÊNCIA, a Revista Eletrônica Literatura e Autoritarismo pretende discutir a relação entre a memória e a representação na literatura. O título evidencia o destaque que Walter Benjamin1 dá a esses conceitos: na rememoração o tempo passado não é vazio nem homogêneo, enquanto que a reminiscência reforça a ideia de que ao mesmo tempo em que não se pode conhecer o passado em sua totalidade, é possível articular uma compreensão, ainda que provisória, sobre ele. Nessa abordagem, a edição de número 16 congrega textos de pesquisadores voltados para uma reflexão crítica sobre a cultura e a sociedade.
O primeiro trabalho traz o título de “¿CUÁL ERA LA VERDADERA SALVACIÓN, LA QUE CAMINABA O LA QUE SE VEÍA CAMINAR?” (TAMARO, 2008, p. 68): RELAÇÕES DE PODER COMO DETERMINANTES DA IDENTIDADE E DA ALTERIDADE EM SALVACIÓN, DE SUSANNA TAMARO, de autoria de Ana Paula Cantarelli. A migração é trabalhada por Cantarelli ao lado dos diversos simbolismos que esse conceito carrega. O meio no qual a protagonista do conto homônimo – Salvación – “está imersa possui uma constituição identitária inflada que grita aos imigrantes pobres: ‘- Vocês não são daqui! Vocês são diferentes e não pertencem ao nosso meio!’. Esses gritos fazem questão de ecoar infinitamente, concedendo, pela sua força de repetição e de autoafirmação, um lugar cada vez menos privilegiado aos imigrantes”.
ESQUECER PARA LEMBRAR: MEMÓRIA E COMPREENSÃO EM INFÂNCIA, DE GRACILIANO RAMOS é o título do artigo de Gustavo Silveira Ribeiro. A oposição nietzschiana entre memória e esquecimento é evocada pelo autor no intuito de compreender a narrativa autobiográfica do conto Infância. Sobre esse narrador, Ribeiro afirma que os “percalços de sua formação como indivíduo, a descoberta das suas aptidões, o contato e o confronto com o Outro, tudo isso só interessa a esse narrador – que se sabe distante no tempo e no espaço dos acontecimentos que relata – como matéria de reflexão”.
Terceiro trabalho a compor esta edição, A LAVOURA ARCAICA E A SEMENTE DO MAL UMA ANÁLISE DA OBRA DE RADUAN NASSAR, de Victor de Oliveira Pinto Coelho, se propõe analisar a obra literária em consonância com a psicanálise e a nova crítica da ideologia, tomando por base a teoria da Estética da Recepção. A relação tensa entre as personagens André e Ihoána – filho e pai – evidencia a divisão familiar. O clima de tensão existente na obra é abordado como vazios significativos para a análise proposta por Coelho. Assim, “Tais vazios independem da intencionalidade do autor e, como lugares de efeito, se abrem para a recepção – o que, por sua vez, abre a possibilidade de atualizações de expectativas e/ou “domesticações” da obra ou tematizações, em que a obra se abre para a dissonância e subversão de expectativas e padrões”.
O trabalho de Maria Gorete Oliveira de Sousa e Gilson Leandro Queluz - METÁFORAS DO TOTALITARISMO EM IONESCO: A PROLIFERAÇÃO DA MATÉRIA EM O NOVO INQUILINO – procura “investigar as metáforas do totalitarismo em Ionesco e desvendá-las como uma crítica filosófica à alienação da modernidade”. Sousa e Queluz discutem as metáforas que confrontam o mundo unidimensional do homem sufocado pelo consumismo e pelo vazio existencial. “Percebemos o caráter polarizador da proliferação da matéria, tanto social quanto dramaturgicamente, e assim formulamos a hipótese de que o recurso imagético da proliferação da matéria é – no teatro de Ionesco – um contraponto crítico e cognitivo, a partir do qual o leitor/espectador pode inferir os efeitos dos sistemas totalitário-tecnicistas”.
SARGENTO GETÚLIO E O ROMANCE MODERNO: REFLEXÕES SOBRE OS ASPECTOS DE REPRESENTAÇÃO DA REALIDADE, trabalho de Marcela Verônica da Silva, evidencia o contexto histórico no qual a obra analisada se insere, com destaque aos conflitos políticos que remontam à época de sua publicação (1971). Mostrando uma preocupação que vai além de marcas linguísticas voltadas para aspectos meramente regionalistas, Silva entende um processo de formação cultural mais amplo e dinâmico: “Sargento Getúlio é uma obra interessante na medida em que não se compromete objetivamente com a caracterização de um regionalismo, mas oferece suporte para o entendimento da realidade deste local através dos pensamentos que o personagem vai revelando no decorrer da narrativa”.
Em POESIA MARGINAL: LÍRICA E SOCIEDADE EM TEMPOS DE AUTORITARISMO, Vitor Cei Santos tem como objetivo “identificar de que modo a chamada poesia marginal faz uma crítica da experiência política de seu tempo”. As reflexões de Santos fundamentam-se no pensamento de Theodor Adorno sobre a relação entre lírica e sociedade, já que para este “a teoria da literatura constantemente se articula com a discussão rigorosa de problemas da vida política de seu tempo, atenta às conexões internas da obra literária com a realidade histórico-social na qual ela se insere”.
No artigo intitulado UM INSTANTE SINGULAR DE PAIXÃO E MORTE: CRÍTICA SOCIAL NO CONTO GRAVATA, DE CAIO FERNANDO ABREU, João Luis Pereira Ourique e Simone Xavier Moreira buscam referencial na Teoria Crítica da Sociedade para discutir “a relativização de valores e posicionamentos sociais”. Para Ourique e Moreira, Caio apresenta, neste conto, “uma metáfora do indivíduo que é dominado e sufocado pela sociedade”. Essa dominação ocorreria “a partir da submissão da identidade individual do sujeito aos padrões de consumo estimulados pelo sistema capitalista”.
NO RETRATO DO ARTISTA, OS RIGORES E A DELICADEZA DE ABRIL: JOÃO ANZANELLO CARRASCOZA é o título da entrevista realizada com o escritor João Anzanello Carrascoza por Antônio Rodrigues Belon e Michela Mitiko Kato Meneses de Souza. Antecipada por um pequeno estudo biográfico sobre o escritor, a entrevista é constituída por sete questões que se propõem a fazer um breve “retrato do artista”.
Agradecemos aos colaboradores deste número da Revista e desejamos uma profícua leitura a todos.

João Luis Pereira Ourique
Rosani Úrsula Ketzer Umbach
(Organizadores)

1 BENJAMIN, Walter. Sobre o conceito da história. In: _____. Magia e técnica, arte e política. 2. ed. Tradução: Paulo Sérgio Rouanet. São Paulo: Brasiliense, 1986.

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