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Literatura e Autoritarismo
       Rememoração e Reminiscência
Capa | Editorial | Sumário | Apresentação        ISSN 1679-849X Revista nº 16 

NO RETRATO DO ARTISTA, OS RIGORES E A DELICADEZA DE ABRIL: JOÃO ANZANELLO CARRASCOZA

Antônio Rodrigues Belon1
Michela Mitiko Kato Meneses de Souza2

CONTEMPORANEAMENTE, PROFESSOR E ESCRITOR
João Anzanello Carrascoza, descendente de espanhol por parte do avô paterno, nasceu em 1962 na cidade de Cravinhos interior de São Paulo. Mora na capital paulista desde 1980. É graduado em Publicidade e Propaganda pela Universidade de São Paulo (1983), com mestrado (1999) e doutorado (2003) em Ciências da Comunicação pela Universidade de São Paulo(USP). Professor titular da USP, ministrando a disciplina Redação Publicitária. É também docente do Programa de Mestrado em Comunicação e Práticas de Consumo da Escola Superior de Propaganda e Marketing, responsável pela disciplina História das Estratégias Publicitárias; Comunicação, a sua área de investigação, com ênfase nos processos retóricos e análise do discurso da publicidade. Escritor, autor de coletâneas de contos e romances, além de obras para crianças e jovens, que lhe valeram alguns dos mais importantes prêmios literários do país. Destacam-se o do I Concurso Nacional de Histórias Infantis do Paraná (1991), o do XIV Concurso Nacional de Contos do Paraná (1992), o do Concurso de Contos Guimarães Rosa, patrocinado pela Radio France Internationale (França, 1993), o Eça de Queiroz (1996) e o Jabuti (2007).

UMA LITERATURA DO RIGOR E DA DELICADEZA
João Anzanello Carrascoza, contista da Geração 90, juntamente com outros autores, carrega, em suas narrativas, interesses comuns de uma sociedade marcada pela pluralidade e diversidade política, econômica, social e cultural. Uma geração de escritores nacionais advindos de um processo de urbanização, modernização e globalização em que as tensões cotidianas são vividas na velocidade da luz, o cosmopolitismo é quebrado pelo isolamento; uma literatura marcada pela pluralidade e heterogeneidade de estilos. Assim a narrativa contemporânea, ainda não consolidada, enfrenta um processo de permanência; desafia, convida, a percorrer suas raízes e arriscar eleger uma interpretação.
Nessa perspectiva de João Anzanello Carrascoza, a ficção contemporânea traz a qualidade estética presentes pelo traço da delicadeza, representada pelo lirismo e por situações do cotidiano, dos encontros e das memórias; o escritor se insere no cenário da ficção atual como um contista de narrativas com o rigor e o afeto; mantém um percurso vital e histórico.

VIA DE MUITAS ESTAÇÕES
A cronologia bibliográfica de João Anzanello Carrascoza distribui-se por vários pontos de parada. Estende-se por contos, novelas infantis, romances e peças teatrais, antologias: As flores do lado de baixo(novela infantil,1991); De papo com a noite(novela infantil, 1992); Hotel solidão(contos, 1994);A lua do futuro(romance juvenil, 1995); Zoomágicos(contos infantis, 1997);O vaso azul(contos, 1998); Cuentos Breves Latinoamericanos(Coedición Latinoamericana, 1998); A evolução do texto publicitário(ensaio, 1999); O jogo secreto dos alquimistas(romance juvenil, 2000); Dois zero zero zero(antologia, 2000); O Decálogo(antologia, 2000); Geração 90- Manuscritos de computador(2001); Histórias dos tempos de escola(2002); Quadradinha e Redondela(2002); História para sonhar acordado(2002); Duas tardes(contos, 2002); O aprendiz de inventor(literatura infanto-juvenil, 2003); Scrittori Brasilliani(2003); Olhar de Descoberta(2003); Os contadores de história(2003); Ladrões de histórias(2003); Meu amigo João(2004); Os cem menores, contos brasileiros do século(2004); Seleção de contos da Nova Escola(2004); Fora da ordem e do progresso(História do Brasil, Conto em antologia, 2004); Inspiração(2004); Dias raros(2004); O menino que furou o céu(2005); O volume do silêncio(2006); O homem que lia as pessoas(2007); Desconcertos(2008); Só uma corrida(apresentação teatral, 2008); Dias raros(apresentação teatral, 2008); O livro da selva(Adaptação de livro, 2009); Meu avô espanhol(2009); Reencontro(Conto em antologia, 2009); Moinho de sonhos(Conto em antologia, 2009); A véspera, o dia e o dia seguinte(apresentação, 2009.

RETRATO DO ARTISTA EM SETE QUESTÕES
(em abril de 2010)
1. Opine sobre as relações entre a literatura e a história.
Literatura e história possuem aproximações e distanciamentos. O essencial aqui é lembrarmos que nós existimos na história, enquanto a literatura é uma forma de apreendermos a existência num dado momento histórico.
2. Como as realidades do mundo e do ser, individual e socialmente, nas suas configurações históricas, tornam-se, na literatura, componentes de uma estrutura estética, permitindo-se o estudo de sua autonomia?
Somos seres sociais impactados pelas condições históricas vigentes na época em que vivemos. A história se caracteriza pelo que aconteceu, pelos fatos, pelo “efeito do real”, enquanto a literatura se caracteriza pelas possibilidades do real, pelo verossímil, pela criação de um “outro real”.
3. Os materiais não literários tornam-se literários?
Tudo o que emana da condição humana, da vida e sua finitude, pode ser transformado em material literário. A poesia, como dizia Paulo Leminski, é um inutensílio. Por sorte, podemos encontrar esses maravilhosos inutensílios em qualquer parte: basta remover o véu do desencantamento e, com o olhar nu, localizá-los em meio à realidade.
4. A escrita literária se constrói a partir do mundo?
A leitura do mundo precede a leitura da palavra, ensinou-nos Paulo Freire. O mesmo podemos dizer da escrita literária, que advém, sempre, da nossa condição de leitores do mundo, condição essa evidentemente anterior à de escritor – cujo ofício é, através das palavras, construir mundos possíveis.
5. A literatura é uma forma imprescindível de sentir e de interpretar a realidade originária?
A realidade toca a cada um de acordo com a sua sensibilidade, com o tamanho de sua dor e de seu saber. Evidentemente, para quem escreve, a literatura é o produto daquilo que ele sente, o seu olhar crítico (e nele seus alargamentos e limites).
6. As esferas históricas, sociais, políticas e estéticas imbricam-se?
Sim, um texto literário resulta de uma linguagem que emerge de alguém num tempo histórico e num determinado contexto social. As suas condições de produção refletem e refratam, como num caleidoscópio, essas muitas esferas, que se legitimam, confrontam-se, ressignificam-se.
7. Como vê a ficção brasileira hoje?
Vejo uma pluralidade de autores na nossa ficção atual buscando dar conta de expressar os conflitos locais e mundiais, além de enfrentar, como em outras épocas, os grandes temas que inquietam a humanidade. Há uma certa efervescência criativa, materializada no número crescente de sites e blogs que publicam textos ficcionais, nas variadas propostas de oficinas de criação literária, no aparecimento de novos prêmios de literatura para estreantes e escritores já experimentados, no volume de obras publicadas por conta própria, fora do mainstream. Claro, nem sempre a quantidade resulta em qualidade, mas o cenário é de intensa produção, envolvendo não apenas os gêneros consagrados, mas também formatos menos comuns como o microconto.
8. Responda o que gostaria de responder e não foi perguntado.
Você perguntou sobre meus projetos atuais e aproveito para falar deles: nos próximos meses, lanço pela editora Record “Espinhos e alfinetes”, um novo livro de contos. Também será publicado logo mais, pela editora Scipione, minha história infanto-juvenil “Prendedor de sonhos”, e pela editora Positivo, o livro infantil “A terra do lá”.

João Anzanello Carrascoza


1 Professor do Programa de Pós-Graduação, Mestrado em Letras, do câmpus de Três Lagoas, da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul
2 Acadêmica do Programa de Pós-Graduação, Mestrado em Letras, do câmpus de Três Lagoas, da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul
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