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Literatura e Autoritarismo
Experiência e Esclarecimento
Capa | Editorial | Sumário | Apresentação        ISSN 1679-849X Revista nº 17 

APRESENTAÇÃO

EXPERIÊNCIA E ESCLARECIMENTO é o título do número 17 da Revista Eletrônica Literatura e Autoritarismo do primeiro semestre de 2011. A proposta desta edição é apresentar textos que dialoguem com a tentativa de esclarecer – mediante adaptações, traduções e análises – a experiência humana em seu trânsito cultural. A noção de comunidade e das diversas implicações que a literatura e a produção cultural exercem nesse processo são discutidas nos textos aqui apresentados. Dessa forma, a preocupação em refletir sobre as mais variadas formas que as produções sobre cotidianos mais específicos e sobre enraizamentos de percepções que povoam o imaginário cultural perpassa os textos e obras analisados.
APELO DO FORA E DESENRAIZAMENTO: LEITURAS DO ÊTRE-ENSEMBLE EM MAURICE BLANCHOT, da autoria de Eclair Antonio Almeida Filho e de Amanda Mendes Casal, é o título do artigo que abre esta edição. Partindo do texto intitulado L’Indestructible, de Maurice Blanchot, os autores discutem a ideia de comunidade a partir da perspectiva da alteridade – a relação conflituosa e complementar do “eu” e do “tu”. Essa abordagem carrega a preocupação de enfatizar o contexto dos campos de concentração e os pontos de vista dessa realidade para além de conceitualizações que não são capazes de refletir – de maneira consistente – sobre esse momento histórico. “Duas afirmações de Blanchot surgem nesse momento. Uma exclui qualquer leitura que analise o evento de Auschwitz sob a perspectiva da reificação. É assim que Blanchot nos lembra de que o homem dos campos de concentração não pode ser comparado a uma coisa, pois até uma coisa inútil é preciosa. Outra se volta para o carrasco nazi que se esforça em extrair, violentamente, um pedaço de linguagem do homem dos campos”.
Alexandre M. Botton, Cecília de Campos França e Raimundo N. C. França assinam a autoria do artigo ASSOMBRAÇÕES DO COTIDIANO. A perspectiva de uma narrativa desenvolvida no âmbito de uma comunidade de camponeses oportuniza uma reflexão consistente sobre a formação de uma identidade cultural. Partindo de uma análise do livro Vozes do Assentamento Antônio Conselheiro, os autores procuram discutir a memória de uma noção de comunidade, alertando para “a possibilidade de intitular como mítico o elo que une intimamente a narração fática e a ficção, o acontecimento social e a subjetividade de seus personagens e, sobretudo, o cotidiano e o extraordinário. O que subjaz neste meio é a presença de elementos estáticos, indicativos de um modo de vida que, tanto na lógica do cotidiano quanto na lógica dos causos, deveria se repetir ao infinito”.
O terceiro artigo a compor esta edição, de autoria de Rosicley Andrade Coimbra, traz o título LAVOURA ARCAICA E A LITERATURA BRASILEIRA DOS ANOS 1970: UMA NOVA PERSPECTIVA. A proposta em analisar a obra de estreia de Raduan Nassar passa pela preocupação em contextualizar o romance – publicado em 1975 - e refletir sobre o período da ditadura militar brasileira (1964-1985). A autora comenta que “o trabalho de Nassar evidencia alguns pontos que nos levam a observá-lo sob ângulo diverso daquele que a crítica costuma fazer. (...) Sob essa perspectiva, intentamos destacar alguns pontos sobre um (possível) engajamento político de Raduan Nassar, bem como esboçar uma hipótese para uma eventual abordagem de LA enquanto romance inteiramente comprometido com questões de seu tempo”.
O trabalho intitulado L’IMAGE DE LA FEMME DANS LE ROMAN LA FEMME ET LE PANTIN DE PIERRE LOUŸS ET DANS LE FILM CET OBSCUR OBJET DU DESIR DE LUIS BUÑUEL: UNE ETUDE COMPAREE, de Luisa F. Assunção, se propõe a uma análise comparativa do romance de Pierre Louÿs La femme et le pantin (1898) e a adaptação cinematografica de Luis Buñuel Cet obscur objet du désir (1977). A autora afirma que Pierre Louÿs e Luis Buñuel revelam, cada um em seu tempo, questões delicadas e polêmicas motivadas por fantasias e obsessões. Considerando o filme como uma livre adaptação do livro, Assunção procura refletir sobre como o tema da feminilidade é visto pelo escritor e pelo diretor, que oferece uma nova leitura do romance, realizando, assim, uma abordagem intertextual.
A OSTALGIA, O RISO, E A CARNAVALIZAÇÃO EM AM KÜRZEREN ENDE DER SONNENALEE E GOODBYE, LENIN!, de Thais Rezende Reis, visa discutir a constituição de uma comunidade igualitária sob a égide do totalitarismo. Essa contradição está presente na realidade política da República Democrática da Alemanha (RDA) que, em nome dos ideais da revolução comunista constituiu um Estado Totalitário. No entanto, a percepção positiva desse momento, a subordinação àquele contexto gerou um neologismo que evidencia a saudade daquele tempo: ostalgia. Ao utilizar a perspectiva da carnavalização bakhtiniana, a autora possibilita outra leitura sobre as obras ostálgicas. “Uma das críticas recorrentes às obras ostálgicas é sua classificação como obras apolíticas, por não retratarem como a RDA de fato foi. Porém, é exatamente na recaracterização da RDA que consiste a o aspecto crítico dessas obras. Ao contrário das obras anti-ostálgicas, que denunciam os horrores cometidos pelo regime do SED geralmente através de fatos realmente acontecidos e atmosfera pesada, as obras ostálgicas criticam o governo enfraquecendo-o pelo riso, através de uma atmosfera descontraída e cômica. Pois a liberdade concedida pelo riso é uma forma eficaz e possível de ridicularizar as autoridades”.
Leonardo Munk, no último artigo desta edição intitulado J. M. R. LENZ E A MISÉRIA DO ESCLARECIMENTO ALEMÃO, discute a formação humana a partir do projeto filosófico de emancipação presente nos textos de Jean-Jacques Rousseau e Immanuel Kant. O esclarecimento – também entendido como Iluminismo – oportunizou uma nova forma de valorização da sociedade em oposição à decadente realidade aristocrática. “Nesse contexto, a atribuição de um projeto único de modernidade aos pensadores e artistas do século das luzes conduziria ao erro de omissão daqueles que se pautavam pela manutenção de uma arte autônoma que acentuava a lógica interna da dimensão artística não se prendendo necessariamente a idealizações de cunho estético e moral. Caso, por exemplo, do dramaturgo Jakob Michael Reinhold Lenz, cuja obra radical denunciou, com ironia e desconfiança, a tentativa idealista de harmonizar, por intermédio da educação, uma sociedade desigual marcada pela arbitrariedade absolutista e pela violência contra as classes mais baixas. Esquecido durante muitos anos, o responsável por sua reabilitação foi Bertolt Brecht, que em 1950 encenou uma provocativa releitura da comédia O preceptor (Der Hofmeister)”.
Encerra esta edição uma tradução para o francês do conto A Cartomante, de Machado de Assis - LA CARTOMANCIENNE (Machado de Assis). Realizado pela equipe de tradução coordenada pela professora Maria Laura Maciel Alves e composta por Luciana Iost Vinhas, Mara Karam Conceição e Marcelo Castro da Silva Maraninchi, o trabalho visa trabalhar a tradução como proposta de ensino e também como vetor para discutir as diversas perspectivas culturais oportunizadas pelo trabalho desenvolvido em grupo.
Agradecemos o envio dos trabalhos e a confiança por parte dos autores no trabalho desenvolvido pelo corpo editorial da Revista Eletrônica Literatura e Autoritarismo. Certamente os textos aqui publicados contribuirão para a pesquisa acadêmica e se somarão aos demais textos já publicados nos números anteriores e vindouros da publicação.

João Luis Pereira Ourique
(Organizador)

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