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Capa | Editorial | Sumário | Apresentação ISSN 1679-849X | Revista nº 7 |
A DIALÉTICA ENTRE DIVISÃO E UNIÃO EM A BATALHA DE ARMÍNIO: UMA ALEGORIA DA HISTÓRIA E DA QUESTÃO NACIONAL ALEMÃSMárcio José Coutinho © 1 Em um período em que a Alemanha se vê subjgada, num ímpeto de patriotismo, o poeta alemão Heinrich Von Kleist escreve A Batalha de Armínio. Serve-lhe de ensejo o declínio gradual na carreira de Napoleão após 1808, visto como possibilidade para que os estados alemães se libertassem do jugo francês. Conforme Burns (1978: 629-630), em outubro de 1805, Napoleão derrota o exército austríaco e toma Viena, o que resulta na eliminação da Áustria do campo de guerra, pela aceitação de um tratado de paz que a priva de três milhões de súditos e a reduz à condição de potência de segunda ordem. Um ano mais tarde, derrota o exército da Prússia, governada por Frederico Guilherme III, toma Berlim e submete a maior parte do país ao governo de seus generais. A maioria dos estados alemães, à exceção da Áustria, é reunida na Confederação do Reno, sob a égide de Napoleão. Os estados da Liga Renana, da Saxônia e da Bavária, por sua vez, são aliados do imperador francês (HOHOFF, 1977: 102). Tais condições históricas provocam no poeta a irrupção do sentimento de valorização da pátria, do desejo de liberdade e justiça, e do ódio ao opressor. Nesses termos, a obra em questão pode ser considerada uma alegoria da desejada libertação da Alemanha do jugo de Napoleão.
A Batalha de Armínio é um drama marcado por um conjunto de motivos que apontam para os sentidos de divisão e união. Esses aspectos constituem uma dialética que direciona o andamento da ação: sua síntese é a vitória e a liberdade da pátria. O objetivo deste trabalho consiste em analisar e interpretar a referida dialética e seus fins alegóricos. Para tanto, parte-se do pressuposto de Octávio Ianni (1998: 14-15) segundo o qual a literatura nasce e desenvolve-se em sua preocupação com a questão nacional, desafiada, influenciada ou fascinada por ela, colaborando "na elaboração do mapa da nação, ajudando a estabelecer o território e a fronteira, a história e a tradição, a língua e os dialetos, a religião e as seitas, os símbolos e as façanhas, os santos e os heróis, os monumentos e as ruínas". Com base nas discussões travadas por Goethe e Schiller, Anatol Rosenfeld (1986: 31-32) chama a atenção para o fato de que "os gêneros e a pureza estilística com que se apresentam devem ser relacionados com a história e as transformações daí decorrentes". O autor complementa essa idéia com as palavras de Georg Lukács: 'as formas dos gêneros não são arbitrárias. Emanam ao contrário, em cada caso, da determinação concreta do respectivo estado social e histórico. Seu caráter e peculiaridade são determinados pela maior ou menor capacidade de exprimir os dados essenciais de dada fase histórica' (ROSENFELD, 1986: 32). A obra em estudo apresenta um cunho épico ao evocar um momento heróico da história germânica: o levante de 9 d. C., no qual Armínio, príncipe dos queruscos, derrota o general romano Quintilius Varus na floresta de Teutoburg, de modo que numa série de campanhas com as quais Augusto visava a expandir as fronteiras do Império Romano até os rios Elba e Danúbio, os romanos vêem-se obrigados a recuar até a fronteira do Reno (BUNSE, 1983: 31-32).
Kleist apresenta uma situação em que as tribos germânicas precisam abandonar suas disputas e unir-se para lutar contra um inimigo comum, sintetizada pela metáfora dos carneiros que brigam enquanto o lobo invade o aprisco:
Wolf indem er sich erhebt Portanto, a referida dialética desenvolve-se em torno de três problemas: o bélico, o político e o moral; os quais são colocados nos seguintes termos: 1) enquanto Roma avança seu domínio sobre a Germânia, Armínio recua, pois conhece o poder militar de seu oponente e sabe que somente através da união pode vencê-lo; 2) o general romano, Quintilius Varus, tenta estabelecer acordos políticos em separado com cada um dos líderes germânicos, de modo a semear a discórdia entre eles e ter cada um como aliado; Armínio e Marbod, príncipes dos suevos estabelecem aliança para combater Varus; 3) ciente de que os acordos políticos firmados por Varus não serão cumpridos, Armínio não se compromete moralmente com o opressor da Germânia, de modo que seu trato com o chefe militar romano é apenas uma astúcia; outrossim, com Marbod, filho das mesma terra, o príncipe querusco trata de maneira séria e moralmente transparente, disposto a honrar sua palavra em nome de uma causa maior: a liberdade da pátria.
A dialética entre divisão e união é possível em A Batalha de Armínio graças ao princípio de fusão de elementos contrários que os românticos atribuem à arte. Segundo Todorov (1977: 190-191), "é a arte em particular que tem a honra de assimilar todos os contrários. [...] O artista parte da oposição dos contrários para chegar a sua fusão; é necessário reconhecer esses dois momentos". Nesses moldes, em busca de uma definição, o teórico toma de Schelling uma afirmação acerca da função da arte:
Do mesmo modo que nasce do sintetismo de uma contradição aparentemente irredutível, a criação artística, pela confissão de todos os artistas e de todos aqueles que partilham de seu entusiasmo, tende para o sentimento de uma harmonia infinita, (III, p. 617). Qualquer criação artística se baseia no desdobramento infinito de atividades opostas, que encontra completamente suprimido em cada obra de arte(III, p. 626). O poder poético ... é capaz de pensar o contraditório e construir a sua síntese (III, p. 626) (TODOROV, 1977: 190-191). No drama em questão, deve-se destacar a função de alguns elementos para a construção da dialética da separação e da aliança, consistindo esta em componente estético incorporado à estrutura orgânica da obra: a coroa, o punhal, a espada, o rio Weser, a carta. É uma disputa pela soberania sobre a Germânia que rivaliza o príncipe dos queruscos e o príncipe dos suevos. Aproveitando-se de tais circunstâncias, segundo presume Armínio, Varus oferece a Marbod a hegemonia sobre o território em troca de seu apoio para combater Armínio, fazendo a este último a mesma proposta. Entretanto, Armínio percebe nisso uma estratégia para enfraquecer o poder de resistência e reação germânico por meio do auto-anulamento. Esse anulamento baseia-se na tentativa de corrompimento e na subordinação, como se pode deprender da seguinte passagem:
Hermann. Ich weiß inzwischen, daß August sonst Roma fundamenta seu projeto de conquista em pactos que lhe garantam a superioridade militar sobre os oponentes, buscando no aspecto político falhas através das quais os próprios dominados provoquem sua vulnerabilidade e tornem-se suscetíveis à dominação. O núcleo dramático da obra repousa na contradição que subjaz aos pactos firmados pelo general romano, visto não poder ser sensata a mútua cooperação entre um povo que deve resistir e aquele que o usurpa. Ao entender essa incoerência, Armínio pode reagir por meio da ação moral. Neste sentido, o herói afirma sua luta no apelo à virtude dos povos germânicos, contrapondo-a ao suposto vício, atribuído aos romanos, e ao qual estes últimos tentam induzi-los. Deste modo, Armínio decide-se a fazer uso do logro e de embustes contra Varus, pois mantém-se fiel à irmandade e à pátria.
A coroa, ou seja, o poder máximo sobre a região, é empregado pelos romanos como elemento de bajulação, corrupção e submissão. A promessa de Augusto de conferir ao príncipe dos suevos a soberania sobre os germanos em troca de seu auxílio denota a concepção do imperador romano a respeito dos então dominados, a qual se traduz em atitudes de descaso para com o que há de mais sério no que concerne ao outro; de zombaria para com os valores do outro; de quem considera o outro um joguete de seu poder. Nos olhos dos romanos, os germânicos não passam de caça à mercê do caçador: "Ein Tier, das, wo der Jäger es erschaut/ Just einen Pfeilschuß wert, mehr nicht,/ Und ausgeweidet und gepelzt dann wird!" (KLEIST, 1960: 641).4 Armínio sabe que nenhum monarca é soberano se sua autoridade lhe for concedida pelo dominador, por isso renuncia à coroa, pois sabe ser essa a condição de sua união com Marbod.
Essa renúncia indica o momento em que o herói vence seu orgulho. Suas relações com seus compatriotas pautam-se na sinceridade e na honra. Assim, envia a Marbod uma carta propondo a reconciliação; junto com o mensageiro envia seus dois filhos, Rinold e Adelhart, bem como um punhal:
Hermann. Die Knaben schick ich ihm zuvörderst und den Dolch O punhal é em potencial um elemento de separação, devido às funções de cisão e dilaceramento. O protagonista calcula a possibilidade de Marbod não aceitar sua proposta e matar os dois jovens. Nesse caso, ao penetrar a carne dos rapazes, o punhal realizaria sua qualidade de instrumento de morte e tanto manteria apartados os dois líderes quanto privaria o querusco de seus herdeiros. Não obstante, o punhal gera a união enre os guerreiros pois o gesto de enviá-lo junto com os filhos do príncipe em sinal de sacrifício carrega-se de um significado de confiança que o outro aceita e decodifica como uma convenção praticada entre seus pares. Esse gesto é indício da dignidade e legitimidade das intenções do chefe de Teutoburg. A Batalha de Armínio pauta-se em princípios que Aristóteles estabelece na Poética (Cap. VI, 1449 b, § 27) para a tragédia, a saber, o fato de ser mímesis de ações de caráter elevado e de provocar a catarsis. No primeiro caso, a essência da tragédia é ser mímesis de uma práxis, ou seja, é a representação de um agir moral. Deste modo, os conflitos representados devem ser válidos para a vida do homem, exigindo do herói o caráter de exemplaridade. A realidade ficcional, ao ser composta conforme a práxis moral exige que se aceite e se aja de acordo com os conceitos de necessidade e de verossimilhança: o primeiro refere-se à visão acerca das leis da natureza e da realidade social, bem como à conformidade a regras, convenções, mandamentos, formas de tratamento e comportamento; o segundo circunscreve a possibilidade de ação nos limites de uma lógica segundo princípios que devem valer para a vida dos seres morais e políticos. Os heróis da tragédia devem ter a força de ser modelar, representando em suas ações uma realidade mais profunda, mais densa e mais universal do que seria a realidade empírica e o acontecimento particular. Neste sentido, o herói encarna aquilo que Georg Lukács denomina tipicismo, isto é, o pressuposto de que o complexo das ações transcende os limites do individualmente válido, sendo típico para uma determinada situação social de uma determinada época. No segundo caso, a purificação de emoções operada pelo efeito de catársis está ligada ao fato de que o conflito encenado aponta para algo que poderia se relacionar com a vida do expectador, na medida em que é um conflito derivado da práxis humana. A grandeza da ação de defender a Germânia exige a exemplaridade do herói. Armínio mostra-se exemplar ao reconhecer suas limitações frente ao invasor e buscar administrá-las; ao mobilizar e harmonizar os compatriotas; ao não respeitar os acordos propostos pelo opressor, por entender o que eles mantêm de incompatível com os interesses da pátria. Assim, se por um lado o rompimento com o opressor pode ser considerado como traição, por outro, é justificado pela fidelidade à pátria. Isso pode ser inferido a partir da resposta dada por Armínio ao chefe romano, Septimus, quando este lhe fala sobre a questão do direito:
Du weißt was Recht ist, du verfluchter Bube, A moral permite a Armínio trair Varus em nome da justiça e da defesa de sua terra e de seu povo. Então, ele planeja a batalha contra o inimigo:
Hermann. Der Plan ist einfach und begreift sich leicht. - Essa passagem pode ser sintetizada pela imagem da tropa de Varus sendo encurralada na floresta de Teutoburg pelos exércitos de Marbod e Armínio. A floresta possui o duplo sentido de ser abrigo para os donos da terra e local de punição para os invasores. É para lá que o protagonista conduziu os companheiros a fim de evitar o confronto com os romanos por ter percebido que não tinham condições de combatê-los. Mas também é lá que os germanos vão cercar os aliados de Varus. O Weser, por sua vez, estabelece inicialmente a fronteira entre suevos e queruscos e constitui-se no correspondente geográfico da rivalidade entre os dois líderes. Agora, contudo, serve de canal para que Marbod vá ao encontro de Armínio, de modo que, da síntese de suas forças resultem a liberdade e a justiça. Mais do que um personagem submetido ao destino, Armínio pode ser um herói inserido na história. Ele não está à mercê dos acontecimentos, antes, por meio de sua ação, procura mudar o curso destes, tornando-se agente de transformação da realidade que integra. Com essa concepção, Kleist parece adiantar o pressuposto de Marx segundo o qual "a ação do homem é a força motriz da história", conforme pode ser percebido a partir da seguinte passagem:
Hermann. Verriet euch, ja; was soll ich mit dir streiten? O apelo aos deuses no drama em estudo serve mais como contraponto cultural, marcando a oposição entre germanos e romanos, enquanto objeto de culto de cada povo, ligado à tradição nacional, do que como crença em entidades que regem o universo e o destino dos homens. Independentemente dos deuses, os personagens agem. Na passagem anterior, Septimus evoca a proteção dos deuses. Porém Armínio toma-lhe a espada: não por força e interferência de Wotan, mas por sua própria força e habilidade. Os deuses são parte do patrimônio simbólico que garante a identidade da nação. Ao derrubarem o carvalho consagrado a Wotan, os romanos tentam minar as bases em que se assentam a origem e a tradição dos germanos e em que se solidifica sua coesão social. Tal ato revela não uma vontade divina, mas uma ação humana ideologicamente carregada, cujo objetivo é desestabilizar os pilares de uma formação social a fim de que a dominação possa ser imposta.
No drama em estudo, a espada apresenta-se como elemento funcional na dialética entre separação e união em uma das cenas subseqüentes à ocasião em que a filha do ferreiro alemão Teuthold é morta por obra de um soldado romano. Conforme proposto por Armínio, o corpo da jovem deve ser dividido em quinze partes, as quais são enviadas aos príncipes das quinze linhagens germânicas como mostra da barbárie praticada pelos romanos, como sinal de protesto e como chamado para a reação, conforme se pode verificar com base na seguinte passagem:
Hermann. Das hör jetzt, und erwidre nichts. - Enquanto instrumento cortante, a espada é utilizada para esquartejar o corpo. Essa separação em partes é a condição através da qual o chamado de Armínio e os significados da causa pela qual luta podem alcançar e promover a união de toda a Germânia. Além disso, deve-se considerar que o nome do ferreiro, Teuthold, é formado pela justaposição dos radicais teut e hold, que significam germânico e detentor, mantenedor, defensor e preservador, de modo que o referido corpo sintetiza os traços, a qualidade e o caráter de germanidade, afirmando a identidade dos povos de origem germânica e promovendo, portanto, a coesão entre eles.
A carta e o bilhete são elementos através dos quais tanto Armínio obtém a adesão de Marbod e dos outros líderes germânicos como anuncia seu rompimento com Varus. A reiteração do motivo da mensagem enviada remete a uma problemática central para a construção de A Batalha de Armínio: a relação entre os homens. Esse motivo aponta para o caráter de resistência do drama em estudo, pois, na esteira de Alfredo Bosi (2002: 120), a resistência dá-se na obra de arte pela representação dos valores: "O valor é o objeto da intencionalidade da vontade [dos homens], é a força propulsora das suas ações. O valor está no fim da ação, como seu objetivo; e está no começo dela enquanto é sua motivação." São valores que motivam a ação de Armínio, conforme se pode verificar a partir das palavras de Arista, príncipe germânico aliado de Varus, ao alcançar a este uma carta do príncipe dos queruscos:
Aristan [...] Er gibt ihm einen Zettel Os valores vinculam e comprometem o herói com a realidade que o circunda através da criação de laços éticos, afetivos e identitários. Fundamentado na idéia de liberdade, de pátria e de vingança, Armínio resiste aos antivalores: a dominação e a violação. Varus perece por representar os antivalores, que se traduzem no medo e na vergonha que acometem o personagem ao reconhecer que, unidos, os exércitos dos germanos encontram-se em uma situação militar superior à do seu. A vergonha e o medo correspondem a momentos de reconhecimento em que o general romano vacila, percebendo que os feitos a que se propunha carecem de legitimidade e dignidade, que são antes contestáveis, como se pode perceber através das seguintes passagens:
Varus. O Priester Zeus', hast du den Raben auch, Varus. Da sinkt die große Herrschaft von Rom O medo está ligado à idéia da morte, simbolizada pelo corvo. Assim como no poema The raven, de Edgar Alan Poe, o corvo representa o tormento da morte e da perda, em A Batalha de Armínio, afigura-se como símbolo profético, anunciando a morte do personagem. Varus vacila, pois aceita o temor à morte como punição pelo erro intrínseco a suas ações. A vergonha apresenta-se de modo tal que a iminente derrota de Varus é também a queda da hegemonia de Roma. Além disso, é sinal da consciência que pesa. O general romano se lança sobre a própria espada; esta parte-se, deixando-o vivo. Ao quebrar-se, a espada do personagem aponta para o sentido de divisão, na medida em que 1) atesta que a ruína de seu pleito se completa, pois ela é símbolo de poder e instrumento de conquista; e 2) mostra o abandono em que ele se encontra devido à separação da maioria de seus aliados. Resta-lhe então encontrar-se com Armínio, momento em que prevalece a superioridade daquele cujos valores são autênticos.
A partir da análise da tragédia do poeta romântico, pode-se concluir que o sentido de seus elementos estéticos e composicionais, inerentes à dialética da divisão e da união, elaborada em termos de questões bélica, política e moral, revela o impulso nacionalista e patriótico da qual resulta: o desejo de liberdade da pátria. Assim a referida obra está ligada a um contexto de opressão, representado pela invasão de Napoleão, e é dotada de uma concepção histórica expressa pela retomada e ficcionalização de um acontecimento significativo da origem, formação e identidade nacional alemã. A Batalha de Armínio alegoriza, portanto, a situação histórica imposta aos estados alemães pelo imperialismo napoleônico.
BIBLIOGRAFIA: ARISTÓTELES. Poética. BENJAMIN, Walter. Origem do drama barroco alemão. Trad. Sérgio Paulo Rouanet. São Paulo: Brasiliense, 1984. ____. Sobre o Conceito de História. In: ____. Magia e Técnica, Arte e Política. 2. ed. São Paulo: Brasiliense, 1986. BUNSE, Heinrich Adam Wilhelm. Iniciação à Filologia Germânica. 1. ed. Porto Alegre: Ed. Universidade, UFRGS, 1983. BURNS, Edward McNall. História da Civilização Ocidental. 22. ed. Porto alegre: Globo, 1979. Vol. 2. CARPEAUX, Otto Maria. História da Literatura Ocidental. Rio de Janeiro: O Cruzeiro, 1962. Vol. 4. HOHOFF, Curt. Heinrich von Kleist: 1777/1977. Traducción: Felipe Boso. Bonn-Bad Godesberg: Inter Naciones, 1977. IANNI, Octavio. Sociologia e Literatura. In: SEGATTO, José Antonio; Baldan, Ude. (Orgs.). Sociedade e Literatura no Brasil. São Paulo: UNESP, 1999. KLEIST, Heinrich von. A Batalha de Armínio. In: Sämtliche Werke. Berlin: Deutsche Buch-Gemenischaft, 1960. ROSENFELD, Anatol. O Teatro Épico. São Paulo: Perspectiva, 1985. TODOROV, Tzvetan. Teorias do símbolo. Trd. Maria de Santa Cruz. São Paulo: Martins Fontes, 1977. 1 Estudante do Curso de Pós-Graduação em Letras da Universidade Federal de Santa Maria/ nível Mestrado. Orientação: Profa Dra Rosani Úrsula Ketzer Umbach.
2 Wolf levantando-se / Tu tens razão! O lobo invade, o Alemanha, / O teu aprisco, e teus carneiros brigam / Por um punhado de lã.
3 Armínio. Eu sei, entrementes, que Augusto, de resto,/ O bajula com o reinado da Germânia/ De fonte fidedigna me é conhecido/ Que, às escondidas, Varus o mune/ Com dinheiro, e mesmo armas, para me tirar da batalha./ Ensina-me com toda a nitidez o destino da Germânia/ Que o último propósito de Augusto é/ Destruir a ambos, tanto ele quanto eu/ E se ele, Marbod, for anulado, O príncipe dos suevos, assim o sinto intensamente,/ Será a vez de Armínio.
4 Um animal, que onde o caçador lhe espreita/ Vale apenas uma flechada, não mais,/ Para então serem tiradas as entranhas e o pêlo.
5 Armínio. Os rapazes envio primeiro para ele e o punhal/ Para que à carta ele preste credibilidade./ Se na carta algo ruim estiver contido/ Que ele pegue imediatamente o punhal/ E crave nos peitos brancos dos rapazes.
6 Tu sabes o que é direito, tu garotinho maldito, / E, sem ter sido afrontado, vens para a Alemanha/ Para nos oprimir.
7 Armínio. O plano é simples e facilmente se entende -/ Varus chega, na noite, dos tenebrosos anões,/ À floresta de Teutoburg,/ Que entre mim e a corrente do Weser se situa./ Tenciona, nos próximos dias, dias das últimas orquídeas/ Do rio as margens alcançar/ Para, em meados de agosto,/ Com o seu exército, ir além./ Mas agora, nos dias dos anões/ Marbod atravessa a corrente do Weser/ E o enfrenta até a floresta de Teutoburg/ No mesmo dia, eu parto, seguindo a tropa de Varus,/ Do meu lugar, e o cerco/ Pelos flancos até a floresta./ Então Marbod o ataca pela frente/ De trás, eu o ataco carrancudo/ E por nosso duplo poder ele é esmagado!
8 Armínio. Traí vocês sim; devo discutir contigo?/ Nós estamos unidos, Marbod e eu/ E iremos abater Varus/ Aqui na floresta/ Quando raiar a manhã./ Septimus. Os deuses irão proteger os seus filhos/ Aqui está a minha espada!/ Armínio. desfazendo-se novamente da espada/ Levem-no daqui/ E deixem da pátria o sedento solo/ Beber o seu sangue, o primeiro jorro.
9 Armínio. Ouve isso agora e não repliques. -/ Parte, pai desnaturado, e leva, com os do teu sangue/ A moça, que fora violada,/ A um canto de tua casa!/ Nós somamos dos germânicos quinze troncos;/ Divide o seu corpo, e manda com quinze mensageiros,/ Quero dar-te para isso quinze cavalos/ Para alcançares da Germânia as quinze tribos./ Será na Alemanha, para tua desforra, / Pelo morto elemento propagado:/ Gritará o tempestuoso vento, que através dos matos zune,/ Revolta! e rugirá o mar,/ Que as encostas da terra bate, Liberdade!
10 Aristan [...] alcançou a ele um bilhete/ Ele fala de liberdade, pátria e vingança/ Convoca-nos - por favor! O malévolo amotinado/ Para nos juntarmos corajosamente ao seu grupo/ A hora teria chegado para o teu exército/ E ameaça, ao aparecer, armas em punho,/ De cada um que defender a questão de Roma/ a cabeça, com a machadinha, do torso arrancar/ para forçá-lo a beijar da Germânia o sagrado chão!/ Varus, após ter lido/ O que disseram disso os chefes germânicos?/ Aristan. O que eles disseram sobre isso? Os brilhantes patifes,/ Eles romperam contigo!
11 Oh, sacerdote Zeus, entendeste tu também aquele corvo,/ Que parecia me anunciar a vitória?/ Aqui havia um corvo, que me profetizou/ E disse sua voz rouca: o túmulo!
12 Varus. Aí arruína-se o grande domínio de Roma/ Diante da esperteza de um bárbaro,/ E me parece, para confessar a verdade/ Como uma travessura boba de meninos!/ [...] E de mim se aproxima o monge mendigo/ Armínio, o príncipe dos antigos / Que me ensinou essa sentença. -/ O Reno, eu gostaria, estivesse entre eu e ele!/ De vergonha cheio, lancei-me, lá no junco do pântano,/ De minha própria espada sobre o fio/ Mas a minha arma, a ele aliada,/ Protegeu-me. Minha espada quebrou,/ E agora aqui estou, poupado para a dele. -/ Encontrasse eu um cavalo que me salvasse!
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